20.04.2013 Views

Barão

Barão

Barão

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Se por um lado à mulher estava conseguindo sair paulatinamente dos recônditos da clausura do<br />

lar em direção a esfera da liberdade desejada no espaço público e recém citadino, das praças, ruas,<br />

calçadas, parques, teatros, entre outros locais de sociabilidade. Agora, porém estaria sob guarda<br />

constante do universo social e masculino. Assim, as digníssimas damas seriam vigiadas e controladas<br />

com mais freqüências sob os olhares atentos dos pares.<br />

Ser mulher neste período também era conviver com a personificação do símbolo maior da mãe<br />

virgem Maria. Antítese desta personagem seria sua rival Eva filha da noite e do silêncio das alcovas.<br />

Estas personagens mistificavam rituais e princípios opostos: a primeira ritualizava o exemplo fiel de<br />

devoção, veneração, pois, representava o símbolo da esposa e mãe. A segunda personagem tem<br />

como analogia a imagem dos desejos carnais, das aventuras joviais e naturais da cobiça humana.<br />

Deste modo, as mulheres qualificadas nestes últimos arquétipos, eram aludidas no imaginário social de<br />

que não seriam dignas de serem porta-vozes da civilização e/ou responsáveis pela educação das<br />

crianças.<br />

Diante destes princípios, caberiam a estas personagens símbolos de Maria utilizar os espaços<br />

públicos não para deleites e/ou anseios pessoas. Para estas personagens tais locais deveriam servir<br />

para encontros familiares e religiosos, reuniões de finais de dia quando preparavam chás e<br />

conversavam sobre assuntos considerados edificantes.<br />

Ciente do plano de fundo de como era ser mulher no Brasil da América Portuguesa, Império e<br />

Primeira República você pode agora indagar, teria sido possível no século XIX soar vozes de<br />

pensamentos feministas no Brasil? Para ajudarmos a responder está questão devemos perceber o que<br />

foi ser mulher em cada período e, como elas atuavam na sociedade. Assim, neste intuito Constância<br />

Lima Duarte mostra:<br />

Mas se a história do feminismo não é muito conhecida, deve-se também ao<br />

fato de ser pouco contada. A bibliografia, além de limitada, costuma abordar<br />

fragmentariamente os anos de 1930 e a luta pelo voto, ou os anos de 1970 e as<br />

conquistas mais recentes. Na maior parte das vezes, entende-se como feminismo<br />

apenas o movimento articulado de mulheres em torno de determinadas bandeiras; e<br />

tudo o mais fica relegado a notas de rodapé. [...] As décadas em que esses<br />

momentos-onda teriam obtido maior visibilidade, na minha avaliação, ou seja, em<br />

que estiveram mais próximos da concretização de suas bandeiras, seriam em torno<br />

de 1830, 1870, 1920 e 1970. Foram necessários, portanto, cerca de cinqüenta anos<br />

entre uma e outra, com certeza ocupados por um sem número de pequenas<br />

movimentações de mulheres, para permitir que as forças se somassem e mais uma<br />

vez fossem capazes de romper as barreiras da intolerância, e abrir novos espaços.<br />

Em cada um deles, identifico algumas escritoras feministas, à guisa de ilustração. 22<br />

22 DUARTE, C. L. Feminismo e literatura no Brasil... Op. Cit., p.152.<br />

Jorge Luiz de França 111

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!