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Barão

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na zona rural brasileira. Tal movimento começou em Guariba, em 16/05/1984. Passamos, agora, a dar<br />

voz a esses marginalizados da história agrícola brasileira, que mesmo em condições de bagaço, teriam<br />

importância fundamental para modificações no seu ambiente de trabalho.<br />

3.3 – O olhar diferenciado para o trabalhador rural<br />

Alguns setores da sociedade, porém, passaram a pesquisar e entender o meio em que o bóia<br />

fria vivia e trabalhava. De 1976 a 1979, médicos e biólogos da Universidade de São Paulo (USP)<br />

realizaram um projeto científico no qual foi pesquisado a realidade sócio-econômica e nutricional<br />

desses homens do campo – 100 famílias – em Ribeirão Preto, que moravam no bairro Vila Recreio.<br />

Segundo o mentor do projeto, o biólogo Walter Angeleli, o objetivo do trabalho consistia em relatar as<br />

condições alimentares do bóia fria para que o governo federal pudesse aplicar recursos em centros<br />

alimentares balanceados para que eles tivessem um mínimo de qualidade de vida.<br />

O CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – aprovou a bolsa,<br />

e dois núcleos de projeto piloto foram colocados em prática pela USP, um em Ribeirão Preto e outro<br />

em São Simão, com cozinhas centrais e alimentação balanceada para os trabalhadores rurais, mas o<br />

apoio à lei pelo governo federal não se concretizou e o projeto ficou na lembrança e nas páginas do<br />

livro. 918<br />

Os dados levantados pela pesquisa vieram a contribuir e justificar a situação difícil na qual se<br />

encontrava o trabalhador bóia fria. Um homem magro, desnutrido de 1º grau, tinha uma ingestão<br />

calórica média de 2.200 e a mulher de 1068 calorias. A alimentação comum consistia em um café com<br />

açúcar e pão branco pela manhã, arroz, feijão e ovo no almoço e uma sopa para o jantar.<br />

O macarrão também era bem consumido na falta do arroz e feijão, 92% das famílias<br />

pesquisadas comiam carne de vaca somente aos domingos ou dias de festas; peixe era muito raro,<br />

pois o custo era maior ainda que o das demais carnes. 919<br />

Cerveja, leite, salada, principalmente tomate, chá, refrigerante eram consumidos<br />

semanalmente e a pinga era companheira de muitos trabalhadores, que bebiam muitas vezes para<br />

esquecerem dos problemas e terem um momento de alegria. 920<br />

A definição e a preocupação de Oliveira demonstraria os possíveis caminhos que essa<br />

pesquisa poderia proporcionar:<br />

918 OLIVEIRA, J. E. D de.; OLIVEIRA, M. H. S. D. de. Bóias Frias: uma realidade brasileira. CNPQ – Conselho Nacional<br />

de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Publicação ACIESP. Nº 30. 1981. p.272<br />

919 Idem, p.99.<br />

920 Na teoria de Karl Marx seria a alienação do proletariado para os problemas vigentes. Todavia, poderia ser<br />

também, uma forma de protesto, no silêncio, no gosto amargo da cana.

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