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Barão

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Este processo nos permitiu um contato com a ―fala‖ do agredido, o escravo José, que além de<br />

denunciar a agressão, demonstra como às vezes era violenta a relação entre senhores e escravos.<br />

Comenta que tanto ele quanto seus parceiros são ―muito judiados, tanto por espancamento, como<br />

também passam fome‖. Reitera que os castigos são sempre empregados pelo senhor moço, Manoel.<br />

Quando perguntado se alguém havia presenciado a agressão revela que seus companheiros<br />

João, Geraldo, Thomaz, Estevão, Lima, Joaquim, José, Marcelino.<br />

Durante o depoimento do escravo José, morador de Casa Branca e encontrado ferido em<br />

Ribeirão Preto, após fuga por motivo de espancamento, chegamos a algumas conclusões. Em primeiro<br />

lugar que o mundo que cercava senhores, escravos, livres e libertos era pautado quase sempre pela<br />

violência cotidiana, em segundo lugar que em localidades em que a posse média de escravo era<br />

pequena, muitas vezes as punições eram desempenhadas pelos próprios senhores, resultado que<br />

Ferreira encontra em Franca, local estudado por ele, e isto fazia incorrer tanto em risco para os cativos,<br />

mas principalmente aos senhores que se expunham constantemente e que muitas vezes por descuido,<br />

acabavam sofrendo agressões de seus escravos.<br />

Fugir de uma situação de violência e fome, representava aos cativos a possibilidade de<br />

construção de uma nova vida e mesmo a constituição de uma família, ainda que juridicamente o<br />

fugitivo permanecesse escravo correndo o risco de ser reconhecido e preso a qualquer momento.<br />

Vários escravos tiveram êxito na fuga utilizando-se da estratégia da mudança do nome,<br />

falsificação de documentos, entre outras artimanhas. Ao se evadir da propriedade de seus senhores,<br />

lutando pela liberdade os fugitivos segundo Liana Maria Reis,<br />

[...] esmeravam-se na construção cotidiana de mecanismos de resistência,<br />

num jogo de sobrevivência, no qual tudo valia: mudar de nome, fingir-se humilde e<br />

deficiente, ser civilizado, valente, usar a força das armas, arriscar novas fugidas,<br />

falsificar documentos e, sobretudo, passar-se por alforriado. Tudo era válido para<br />

garantir a sonhada liberdade. Liberdade arriscada e difícil de ser mantida numa<br />

sociedade na qual eram perseguidos, vigiados e marginalizados, mas que,<br />

contraditoriamente, também os incorporava à vida econômica e social. 283<br />

Porém a fuga, apesar de representar uma ameaça constante ao sistema, quase sempre não se<br />

concretizava, justamente porque os escravos não eram vigiados apenas dentro dos limites senhoriais,<br />

mas por toda sociedade.<br />

Segundo as análises de Reis e Silva sobre a possibilidade das fugas,<br />

283 REIS, Liana Maria. Op. cit. p. 190.<br />

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