Barão

nossa região está diretamente ligada na expansão das ferrovias no Brasil. No ano de 1883, a
Companhia Mogiana chegou até Ribeirão Preto, facilitando o transporte de cargas e também de mão-
de-obra imigrante para as fazendas de café.
A Vila amanheceu festiva. Poucas eram as casas para acomodação dos
forasteiros. Por toda a parte, nas ruas, nas praças erguiam-se barracas. Bandeiras,
bandeirolas, em fios tremulavam, às centenas, á beira dos telhados e das portas,
atravessando as ruas. Os amarrotados ternos de sarjão preto de ―carregação‖, por
muito tempo guardados no fundo dos baús, escovados, tiveram seu dia. As chitas de
cores vivas dos vestidos das sinhazinhas e os lenços de alcobaça na cabeça das
matronas e no pescoço dos roceiros davam nota alegre e pitoresca à povoação. Nos
quintais e nas portas das ―vendas‖, nos argolões dos esteios relinchava a cavalaria.
Carros-de-bois, trolis descansavam no Largo da Matriz. Na estação apinhava-se
verdadeira multidão. Para não perder o espetáculo muita gente dormia nas
imediações, e, ali, conservara-se todo o dia, prevenidos todos com revirados de
carne de porco e galinha, para as exigências do estômago. À hora aprazada
chegavam à estação autoridades e outras pessoas de destaque. Fora de ambos os
lados, rodilhados de rojão e bombas, em postes de madeiras, enfileiravam-se com, o
fogueteiro ao lado, prontas a estourar no primeiro sinal. [... ] Nos momentos finais de
espera, com todos ocupando a estação e arredores, o entusiasmo presente em cada
hora do dia 23 de novembro de 1883, transformava-se em apreensão[...] Silêncio
completo dominou tudo. O entusiasmo geral como que se arrefecêra, motivado pelo
terror da maioria e pela comoção feliz dos que há muito ansiavam pelo
acontecimento. Em poucos momentos muitos curiosos abandonavam a estação,
correndo para todos os pontos, esbaforidos a procura de um seguro esconderijo.
Duas raparigas muito espantadas, perdidas dos seus na confusão, não podendo
fugir por estarem encantonadas na plataforma, cercada pelo restante dos curiosos
tremiam de medo e choravam [...] Estrugiam os foguetes e as bombas. Gritos por
toda a parte de pavor e alegria. 322
A chegada das ferrovias modificou o aspecto agrário de algumas cidades, e os primeiros
traços de urbanização e modernidade começaram a dar ―seus sinais de vida‖.
Observando o mapa da Estrada de Ferro Mogiana, percebemos a quantidade
de ramais e prolongamentos que seguiam a marcha dos cafezais, visando satisfazer
não só aos interesses dos fazendeiros locais, como também dos políticos e firmas
estrangeiras localizadas no Estado de São Paulo e que financiavam o café. 323
Muitas outras cidades não tiveram o mesmo sucesso de Ribeirão Preto ao tentarem se
urbanizar, e acabaram se transformando em cidades mortas. Após a instalação da Mogiana, Ribeirão
foi abandonando aos poucos suas características rurais, ligando-se cada vez mais aos atrativos de
322 Relato de Plínio Travassos dos Santos na inauguração do ramal da Ferrovia Mogiana em Ribeirão Preto. FARIA,
Rodrigo S. Ribeirão Preto, uma cidade em construção. O moderno discurso da higiene, beleza e disciplina. Dissertação de
mestrado UNICAMP, 2003 p. 125.
323 TUON, op. cit. p. 28.
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