Barão

E aprofundou:
troca sob a forma de presente, pois o ofertante adquire em relação ao beneficiado
uma espécie de direito tácito a prestação equivalente. 906
O equilíbrio social depende em grande parte da correlação entre as
necessidades e sua satisfação. [...] Daí a evolução das sociedades parecer um
vasto processo de emergência de necessidades sempre renovadas e multiplicadas
[...] dando lugar a permanente alteração dos vínculos entre homem e meio natural.
[...] o desenvolvimento do tempo como duração social incorpora o espaço à história
dos grupos e evidencia os diferentes aspectos de solidariedade de ambos. [...]
Baseado aí pôde determinar uma posição fecunda para compreender a vida social
a partir da satisfação das necessidades, mostrando de um lado, que a obtenção
dos meios de subsistência é cumulativa e relativa ao equipamento técnico; de
outro, [...] deve ser também encarada do ângulo social, como forma organizada de
atividade. 907
Vários homens citadinos têm a leitura, a ótica e a descrição do mundo caipira compreendido
como algo pejorativamente menor, rude, de pequena significância e até subumana. A experiência de
vida serve para qualquer classe social, gênero, profissão; seja essa história escrita ou oral, que permite
o conhecimento e o aprendizado de um grupo excluído da ordem social urbana e elitista, mas que
complementa e nos direciona por uma história vista de baixo.
Para E. P. Thompson, padrões de organização social mudaram e mudam, mas valores e
crenças podem sobreviver às transformações. E isso depende de como práticas culturais e instituições
lidam com as novas condições advindas de derrotas, crises, inovações tecnológicas, entre outros. A
dialética existe, porém, o homem interfere nas estruturas. Toda experiência histórica é, em certo
sentido, única. 908
Em A formação da classe operária inglesa, Thompson difunde a história social e polemiza a
ideologia dominante com a recuperação de uma história alternativa, da minoria, que na suas práticas
cotidianas, em suas experiências de vida, nos conduz a reflexão e a percepção de que a escola da vida
é tão importante quanto à academia. 909
Desde a efetivação do Brasil como colônia de Portugal, a terra era motivo de poder e prestígio
para poucos. O latifúndio foi desde o início a marca registrada para o cultivo de um único produto – a
monocultura – baseado no plantation, que visava à exportação para metrópole e outros países. Apesar
dessa condição desfavorável, entre os séculos XVI e a primeira metade do século XIX, as roças de
906 CANDIDO, A. Os parceiros do Rio Bonito: Estudo sobre o caipira paulista e a transformação dos seus meio de
vida. 7. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1987.p.143.
907 Idem, p. 24.
908 THOMPSON, E. P. As peculiaridades dos ingleses e outros artigos. Organizadores: Antonio Luigi Neto e Sergio Silva.
Campinas, SP: Ed. Unicamp, 2001.
909 THOMPSON, E. P. op.cit.