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Barão

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diretamente da modernização do espaço público urbano. De acordo com Marshall Berman, Baudelaire nos<br />

mostra um novo mundo, privado e público, no instante exato em que este surge:<br />

O que os bulevares fizeram às pessoas que para aí acorreram, a fim de ocupálos?<br />

Baudelaire nos mostra alguns de seus efeitos mais notáveis. Para os amantes,<br />

como aqueles de ―Os Olhos dos Pobres‖, os bulevares criaram uma nova cena<br />

primordial: um espaço privado, em público, onde eles podiam dedicar-se à própria<br />

intimidade, sem estar fisicamente sós. Movendo-se ao longo do bulevar, capturados no<br />

seu imenso e interminável fluxo, podiam sentir seu amor mais intenso do que nunca,<br />

como ponto de referência de um mundo em transformação. Poderiam exibir seu amor<br />

diante do interminável desfile de estrangeiros do bulevar [...] Podiam tecer véus de<br />

fantasias a propósito da multidão de passantes: quem eram essas pessoas, de onde<br />

vinham e para onde iam, o que queriam, o que amavam? Quanto mais observavam os<br />

outros e quanto mais se deixavam observar – quanto mais participavam da ―família de<br />

olhos‖ sempre em expansão -, mais rica se tornava sua visão de si mesmos. Nesse<br />

ambiente, a realidade facilmente se tornava mágica e sonhadora. As luzes ofuscantes<br />

da rua e do café apenas intensificavam a alegria [...] De fato, essa alegria privada brota<br />

diretamente da modernização do espaço público urbano. Baudelaire nos mostra um<br />

novo mundo, privado e público, no instante exato em que este surge [...]. 389<br />

Sendo assim, ―o novo boulevard parisiense foi a mais espetacular inovação urbana do século<br />

XIX, decisivo ponto de partida para a modernização da cidade tradicional‖ 390 . As mudanças na sociedade<br />

fizeram com que a busca pelo prazer, pelo entretenimento, pelo novo e a necessidade de diferenciação<br />

dos demais ganhasse força, e isto tornava-se possível através do desfilar em público pelas ruas, avenidas,<br />

cafés, teatros, restaurantes, etc. Para Richard Senett:<br />

A ponte estrutural entre a credibilidade no teatro e na rua era formada por dois<br />

princípios, um referente ao corpo, o outro, à voz. O corpo era tratado como manequim, e<br />

a fala era tratada mais exatamente como um signo do que como um símbolo. Pelo<br />

primeiro princípio, as pessoas visualizavam as roupas como uma questão de artifício,<br />

decoração e convenção; o corpo servia como um manequim, ao invés de ser uma<br />

criatura viva e expressiva. Pelo segundo, ouviam discursos que significavam em si e por<br />

si mesmos, ao invés de fazê-lo por meio de referências a situações exteriores ou à<br />

pessoa do locutor. Por meio desses dois princípios, eram capazes de separar o<br />

comportamento para com outros atributos pessoais de condição física ou social e,<br />

assim, haviam dado o segundo passo na direção de uma geografia do estar ―em<br />

público‖. 391<br />

389 BERMAN, Marshall. Baudelaire: O Modernismo nas ruas. In: Tudo que é sólido desmancha no ar... Op. cit., p. 147-148.<br />

390 Idem, p. 145.<br />

391 SENNET, Richard. O declínio do homem público: as tiranias da intimidade. Trad. Lygia Araújo Watanabe. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1988, p.89.<br />

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