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Barão

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ealizar toda a gama de tarefas domésticas, e que por isso mesmo podia recorrer aos<br />

artifícios mais suntuosos. Nesse momento, a moda e os ―interesses‖ femininos servem<br />

de maneira exemplar para ilustrar como era encarada a inserção da mulher na<br />

sociedade de classes enquanto agente produtiva; a necessidade de trabalhar fora de<br />

casa era apenas tolerada pela sociedade em geral (e mesmo por muitas mulheres),<br />

desde que ela realmente precisasse complementar os rendimentos do pai ou marido, e<br />

desde que a família e o lar continuassem em primeiro lugar [...] As mulheres abastadas<br />

continuavam, assim, distanciadas da ―infeliz‖ contingência de prover o seu sustento. Um<br />

espaço permitido, e mesmo assim com inúmeras reservas, era que, a título de<br />

entretenimento escrevessem artigos e poemas para revistas de senhoras, livrinhos de<br />

orientação para moças, e leves romances. Mais do que isso já era cair no terreno da<br />

condenação moral [...] 485<br />

O luxo adquiriu tamanhas proporções na cidade de Ribeirão Preto, que algumas mulheres da<br />

sociedade iam à Paris fazerem suas compras de roupas, cosméticos e perfumes, montar enxovais de<br />

casamento ou de bebês. No entanto, um pouco da difusão da moda parisiense por aqui se dava através<br />

das coristas e/ou meretrizes, como salienta o historiador Jorge Luís de França:<br />

[...] os requintes da moda européia trazida em larga escala por coristas e/ou<br />

meretrizes dos cabarés e teatros, possibilitava as damas e as senhoritas da cidade<br />

admirar não as personagens e sim a roupagem e a teatralização dos padrões<br />

considerados civilizados. 486<br />

Contudo, tais mulheres mundanas não deveriam circular nos mesmos espaços que as damas e<br />

senhoritas, como podemos ler na notícia a seguir:<br />

O espectaculo a que assistimos revoltados no domingo a noite, quando tocava no<br />

Jardim Publico a banda Filhos de Euterpe, não pode e não deve repetir-se. Ribeirão<br />

Preto, que outro logradouro possue para onde as familias se dirijam em procura de<br />

alguns momentos de alegre convivencia, não pode estar dominado por este elemento<br />

pernicioso que attenta publica e audaciosamente contra os mais comesinhos deveres<br />

sociaes, chegando a desrrespeitar as famílias, fazendo-as retrahirem-se, fugirem<br />

daquelle logar aprasivel e unico que possuimos. As horizontaes*, uma cafila** de negras<br />

desoccupadas e atrevidas e uma molecada insolente que está pedindo colonia<br />

correccional, julgaram muito bem e bonito andar aos encontrões, com as sinhoritas e<br />

senhoras que passeavam pelas ruas do jardim, impondo-lhes, deste modo, a retirada,<br />

indefesas e naturalmente timoratas*** que são ellas. [...]<br />

O Jardim é de todos, mas de todos os educados. A Prefeitura e á autoridades<br />

policiaes endereçamos estas linhas como uma reclamação que nos fizeram muitas<br />

familias que se retiraram Domingo do jardim, possuidas de justa indignação contra<br />

aquelles factos deprimentes em nosso meio civilisado.<br />

485 VAZ, Albiero Maria Luisa. Mulheres da elite cafeeira em São Paulo... Op. cit., p.150-151.<br />

486 FRANÇA, Jorge Luis de. Meretrizes na Belle Époque do café... Op. cit., p.60.<br />

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