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Barão

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A hierarquia nunca endossou Vargas de uma maneira oficial, mas a maioria dos bispos, padres e leigos<br />

militantes apoiava o governo. Um documento elaborado em 1942 por cinco arcebispos proeminentes, ―Disciplina<br />

e Obediência ao Chefe do Governo‖, resumia de maneira sucinta a atitude da Igreja. A Igreja apoiava Getúlio<br />

Vargas não só por causa dos privilégios que recebera, mas também devido à afinidade política. A ênfase que a<br />

Igreja atribuía à ordem, ao nacionalismo, ao patriotismo e ao anticomunismo coincidia com a orientação de<br />

Vargas. Clérigos destacados acreditavam que a legislação de Getúlio realizava a doutrina social da Igreja e que<br />

o Estado Novo efetivamente conseguia superar os males do liberalismo e do comunismo. 13<br />

Se no governo Vargas a Igreja conseguiu recuperar alguns de seus privilégios na sociedade, a ameaça<br />

do crescimento das religiões protestantes e do espiritismo fez com que a Igreja Católica se<br />

preocupasse mais efetivamente com as camadas populares e os movimentos leigos. Foi criado nesse<br />

período os Círculos Operários, a Juventude Universitária Católica, a Liga Eleitoral Católica, a Ação<br />

Católica Brasileira e a Juventude Operária Católica. Em 1952 foi criada a Conferência Nacional dos<br />

Bispos do Brasil (CNBB), entidade que tinha apoio dos reformistas da Igreja Católica.<br />

Após 1958, quando assume o papado João XXIII, as mudanças que muitos teólogos, bispos e<br />

movimentos já trabalhavam, foram legitimadas pela cúpula da Igreja, quando o Concílio Vaticano II pôs<br />

definitivamente em cena o leigo. No Brasil, os grupos católicos que antes tinham uma atuação<br />

moderada, chegando a ser até conservadores, aproximaram-se da esquerda e passaram a pautar suas<br />

ações na busca da justiça social. 14<br />

Concluindo, este era o quadro político nacional que chegou ao 1 o de abril de 1964: uma direita dividida<br />

entre a antiga oligarquia rural e uma emergente burguesia nacional, que tiveram na atuação das<br />

Forças Armadas seu ponto de união; personalidades populistas que muitas vezes roubavam a cena<br />

colocando-se acima dos partidos políticos; e uma esquerda fragmentada em várias correntes<br />

ideológicas, linhas de atuação e legendas partidárias. Temos também uma instituição poderosa, a<br />

Igreja Católica, em profunda transformação com maior participação do leigo e uma aproximação ao<br />

discurso da esquerda.<br />

De posse destas informações, a presente pesquisa analisou no próximo item a sociedade<br />

ribeirãopretana dos anos 60.<br />

1.2 – Panorama regional<br />

Ribeirão Preto, a exemplo do que acontecia nacionalmente, tinha sua vida política bipolarizada. Alguns<br />

grupos políticos atuavam na cidade na década de 60 como por exemplo o MAD (Movimento Ativo<br />

Democrático) de extrema direita, que atuava no estilo dos CCC (Comando de Caça aos Comunistas),<br />

13 MAINWARING, Scott. op.cit. p. 47.<br />

14 A discusão sobre as transformações da Igreja Católica no Brasil no século XX podem ser encontradas no livro já cidato de<br />

MAINWARING, Scot. A Igreja Católica e a Política no Brasil (1916 – 1985).<br />

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