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Barão

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aquilo que eles acreditavam ser obrigações senhoriais, como direito à folga semanal, alimentação<br />

condizente ao ritmo de trabalho, vestimentas, possibilidade de ter uma economia independente, foram,<br />

muitas vezes, os argumentos que em seu conjunto justificaram os ataques violentos dos plantéis contra<br />

senhores e seus prepostos. 156 É como se os escravos no século XIX desenvolvessem uma consciência<br />

do valor de sua produção e, a partir daí, passassem a reivindicar seus direitos com maior frequência,<br />

inclusive negociando sua liberdade. 157<br />

Assentada nessas bases teóricas, a produção historiográfica dos anos de 1980 e 1990 acerca<br />

da resistência escrava tem dispensado uma importância muito grande aos pequenos atos de rebeldia,<br />

isto é, corpo mole, abortos, sabotagens, pequenos furtos, que são formas menos explícitas de<br />

resistência, porém profundas e de uma ampla resistência no dia-a-dia da instituição escravidão.<br />

Atenção dada também às lutas pela sobrevivência das tradições, como o candomblé, a manutenção<br />

dos laços de parentesco e sociais, enfim, às expressões cativas que aconteciam e que, por mais que<br />

sofriam a interferência dos senhores de escravos para enfraquecê-las, se repetiam, por mais que seus<br />

proprietários procurassem reduzi-los a condição de mercadorias, coisas.<br />

Dentre as inegáveis contribuições da geração de 1980 e 1990 como, o uso de novas fontes de<br />

pesquisa, a análise do cotidiano dos escravos, a percepção da família escrava, para nós a maior<br />

contribuição foi mesmo a valorização do escravo enquanto agente social, sujeito histórico, ressaltando<br />

suas experiências cotidianas de negociação e de resistência em busca da liberdade ou de um espaço<br />

autônomo para manifestar suas crenças e valores culturais.<br />

1.4.1 – A produção historiográfica regional e local acerca da escravidão<br />

A partir da mudança da proposta teórico-metodológica aplicada ao uso de novas fontes, foi<br />

possível a realização de trabalhos de cunho regionais e locais, como os que serão descritos a seguir.<br />

A História Local e Regional é uma das formas da escrita da História que apresenta várias<br />

possibilidades de descrição, de análise, de crítica, de interpretação. Durante muito tempo essa<br />

modalidade foi tratada por muitas correntes historiográficas como sendo uma história ―menor‖, limitada<br />

e de interesse apenas das comunidades que a analisa. Hoje, superada essas incompreensões,<br />

entendemos que o maior mérito da História Local e Regional estaria na busca das singularidades, das<br />

diversidades.<br />

156 MACHADO, Maria Helena P. T. O Plano e o pânico: os movimentos sociais na década da abolição. Rio de Janeiro:<br />

UFRJ, EDUSP, 1994. p. 25<br />

157 MACHADO, Maria Helena P.T. 1987. Op. cit. p. 100-101.<br />

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