Barão

Até mesmo no mundo novo da América Portuguesa as mulheres realizaram tarefas cotidianas,
invadindo sonhos e mentes. Inevitavelmente, se pode questionar, em todos estes locais as
personagens femininas eram tratadas igualmente perante o sexo masculino? Todavia, a resposta a tal
indagação no nosso casso é não! Houve casos específicos de grupos nativos regidos pelo sistema
matriarcal, entretanto, este não foi regra de comportamento no Ocidente, pois, o que mais predominou
ao longo da história foi o poder paterno do homem sobre a mulher 706 . Novamente tomando as palavras
de Duby e Perrot se percebe:
[...] Mas o que é então uma mulher?
E elas, o que dizem? A história das mulheres é, de uma certa forma, a história
do modo como tomam a palavra. Mediatizada, de início, ainda pelos homens que,
por intermédio do teatro e, mais tarde do romance, se esforçaram por fazê-las entrar
em cena. Da tragédia antiga à comédia moderna elas são, muitas vezes, apenas
porta-voz deles ou eco das suas obsessões.
Sincopada, a voz das mulheres aumenta de volume com o decorrer do tempo,
particularmente no dois últimos séculos, devido ao impulso feminista, sobretudo. [...]
No teatro da memória, as mulheres são leves sombras. Pouco espaço ocupam nas
estantes dos arquivos públicos. Desaparecem na destruição generalizada dos
arquivos privados. Quantos diários íntimos, quantas cartas queimadas por herdeiros
indiferentes ou irônicos, ou mesmo pelas próprias mulheres que, no crepúsculo de
uma vida magoada, remexem as cinzas das suas recordações, cuja divulgação
temem. 707
Falar de mulheres, ouvi-las! Eis que sempre soaram como uma tentação e desejo do saber
masculino. Mas elas o que pensam da história? Seriam estas seguidoras de Prometeu as Pandoras
rebeldes da qual o homem jamais irá compreender. Diante de diversas indagações, tais personagens
estiveram por longo período submisso à escrita masculina.
A partir do capitalismo, a instalação das fábricas separa o universo de trabalho do local de
moradia, obrigando a mulher que precisa complementar o orçamento doméstico a se ausentar de casa.
E, se sempre foi aceito que os homens dessem prioridade às obrigações femininas do lar, a nova
mulher do século XIX e do século XX vive o conflito que até hoje a persegue; corno conciliar a vida
privada com as relações pública? A conseqüência tem sido a dolorosa dicotomia de uma vida tornada
―esquizofrênica‖, dilacerada pela dupla jornada de trabalho. Não obstante está carrega os estigmas
promovidos por sua entrada no mundo público tais como: ―feministas machos, lugar de mulher é no
706 Cabe aqui ressaltar que: “Na realidade, as mulheres nunca estiveram na prática totalmente excluídas da esfera
da atividade econômica fora de casa, mas, desde o início, foram levadas a ela para um mercado de trabalho
assalariado segregado. Assim é que os salários inferiores e a segregação das mulheres em número limitado de
ocupações de pouco prestígio reforçaram e consolidaram ainda mais sua atribuição dentro do „sistema famíliacasa‟,
pelo menos como modelo desejável de prosperidade econômica e respeitabilidade social, concretizado por
longo tempo na família de classe média”. Ver: MARKUS, M. Mulher, Êxito e Sociedade Civil – Submissão a ou
Subversão do Princípio de Realização. In: BENHABIB, S; CORNELL. D. (Orgs.) Feminismo Como Crítica da
Modernidade. Trad. Nathanael da Costa Caixeiro. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1987, p.114.
707 DUBY, G; PERROT, M. (Orgs.). História das mulheres no Ocidente... Op. Cit., p.10-11.
Introdução 79