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Barão

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acompanhada inevitavelmente pela expropriação e pela exploração de vários lavradores, sitiantes,<br />

arrendatários, parceiros, colonos, entre outros. 912<br />

Era o início do êxodo rural em maior escala e que geraria desigualdades e impossibilidades de<br />

sustento de várias famílias agrícolas que passariam a conviver e readaptar suas sociabilidades pelas<br />

grandes cidades. O estranho, o outro, teria que ser descoberto, aprendido e ingerido. O medo, o<br />

desespero e as incertezas eram sintomas constantes de pessoas simples que não conheciam esse<br />

universo urbano.<br />

O trabalhador volante, ou mais comumente apelidado por bóia fria, surgiria muito fortemente a<br />

partir da década de 1960, e teria seu universo e sua cultura podados e readaptados nos corredores dos<br />

canaviais paulistas. Eram contratados para desempenhar tarefas em pequenos intervalos de tempo. O<br />

volante não podia se fixar no local onde trabalhava. Passou a dormir nas periferias das cidades e a<br />

viajar todos os dias para o local de trabalho. O plantio era a cana-de-açúcar, feijão e laranja.<br />

Para exemplificarmos esse cenário de exclusão, segundo Maria Aparecida de Moraes Silva, a<br />

história desse homem, que perderia além de sua terra, seu espaço social, sua memória coletiva e<br />

práticas culturais comuns ao seu ambiente, poderia ser definida como:<br />

A história subterrânea, invisível, desconhecida, desprezada pelos donos do<br />

poder. Uma história dos pobres do campo, geralmente excluídos da ―grande‖<br />

história. [...] a produção cultural, as festas religiosas, as relações de vizinhança e<br />

compadrio eram baseadas nessa união com a natureza. As relações sociais eram<br />

primárias, isto é, todos se conheciam e todos tinham o mesmo sentimento de<br />

pertencimento comum ao lugar. 913<br />

O trabalhador do campo não desistiu de lutar, e nas usinas sucro-alcooleira do Estado de<br />

São Paulo, muito intensamente na região de Ribeirão Preto, encontrou a única e momentânea<br />

oportunidade de permanecer em terras alheias, mas que lhe proporcionaria uma resistência às<br />

dificuldades do dia a dia e uma breve lembrança de suas origens.<br />

Com o avanço do mar verde, impulsionado pelo Pro Álcool, as promessas de crescimento<br />

econômico e social pelos setores governamentais e patronais, a partir de 1975, houve um intenso<br />

crescimento populacional na região de Ribeirão Preto, que recebeu um contingente migratório de<br />

120.030 pessoas no período de 1970-1980. 914<br />

O papel social do bóia fria foi e ainda é fundamental para a engrenagem canavieira existir e<br />

funcionar. Mais adiante mostraremos esse papel ativo nas diretrizes da política econômica e trabalhista<br />

912 SILVA, M. A. de M. A luta pela terra: experiência e memória. São Paulo: Unesp, 2004. p. 21<br />

913 Idem, p. 10 e p. 24.<br />

914 Idem, p. 69.

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