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Barão

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Na partilha entre a família e a cidade, só o homem circula entre as duas. Ele pode<br />

assim dissociar em si mesmo a universalidade da sua cidadania da singularidade do seu<br />

desejo, e beneficiar desse modo da realização das duas; aí se encontra uma liberdade,<br />

um reconhecimento de si mesmo a que a mulher não tem acesso. Ela possui apenas a<br />

universalidade da sua situação familiar (esposa, mãe), sem possuir a singularidade do<br />

seu desejo. Por fim, na dialética entre a família e a cidade, esta última sob o nome de<br />

comunidade, funda-se numa repressão positiva da feminilidade que não poderia, no<br />

entanto desaparecer, a feminilidade torna-se ―a eterna ironia da comunidade‖. 364<br />

Durante um bom tempo, estudar temas como moda, mulher, família, sexualidade, eram considerados<br />

assuntos frívolos e bem distantes do universo dos historiadores. A partir destes desdobramentos, ―muito se<br />

escreveu sobre a dificuldade de se construir a história das mulheres, mascaradas que eram pela fala dos<br />

homens e ausentes que estavam no cenário histórico‖. 365<br />

[...] reivindicar a importância das mulheres na história significa necessariamente ir<br />

contra as definições de história e seus agentes já estabelecidos como ―verdadeiros‖, ou<br />

pelo menos, como reflexões acusadas sobre o que aconteceu (ou teve importância) no<br />

passado. E isso é lutar contra padrões consolidados por comparações nunca<br />

estabelecidas, por pontos de vista jamais expressos como tais. 366<br />

No entanto, a Nova História (a terceira geração dos Annales) amplia os campos de pesquisa, o que<br />

favorece novos objetos de estudo. Joan Scott salienta o objetivo de se fazer uma história das mulheres:<br />

A maior parte das mulheres tem buscado de alguma forma incluir as mulheres<br />

como objetos de estudo, sujeitos da história, tem tomado como axiomática a idéia de<br />

que o ser humano universal poderia incluir as mulheres e proporcionar evidência e<br />

interpretações sobre as mulheres do passado. 367<br />

Ainda de acordo com Scott, ―a abordagem da ciência social ao gênero pluralizou a categoria das<br />

‗mulheres‘ e produziu um conjunto brilhante de histórias de identidades coletivas‖. 368<br />

As transformações trazidas pelo advento da modernidade, começaram a delinear-se no Brasil em<br />

fins do século XIX e início do século XX. A Instauração da República, dentre outros acontecimentos, trazia<br />

consigo inúmeras perspectivas e mudanças. Magali Engel acredita que esses novos tempos impunham a<br />

364 FRAISSE, Geneviève; PERROT, Michelle. História das Mulheres no Ocidente. São Paulo: EBRADIL, 1991, p.63.<br />

365 PRIORI, Mary Del. (org). História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008, p.8.<br />

366 SCOTT, Joan. História das mulheres. In: BURKE, Peter (org.). A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo:<br />

Editora UNESP, 1992, p.77-78.<br />

367 Idem, p.77.<br />

368 Idem, p.89.<br />

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