Barão

processo de dominação social paralelo ao domínio político laico. ―A sociedade, embora governada
politicamente por uma organização laica, continuaria sob os auspícios da religião católica, se convertida
pela fé e sobretudo educada nos seus valores‖. 576
Tudo isso nos indica que, não só o liberalismo viu na Igreja um ponto de apoio num momento em
que passou de classe em ascensão para classe consolidada no poder – e, por isso passa a reconhecer
outros inimigos a exemplo do comunismo – como também o catolicismo foi aos poucos se moldando às
novas formas de pensar e agir para garantir o seu poder político.
Para Ivan A. Manoel esta estratégia de manutenção do poder político pode ser observada no fato da Igreja
ter mudado seu discurso em favor do conformismo dos pobres pra uma tática efetiva de amparo aos
pobres, segundo o autor: ―a opção pelos pobres é apenas uma mudança na tática católica, permanecendo
inalterada a sua estratégia, com o objetivo, no âmbito político, de conservar a sociedade existente‖. 577
No Brasil a ligação entre o Estado e a Igreja assumiu contornos bem particulares, aqui, a Igreja foi desde o
início da colonização a instituição mais influente na nossa formação sócio-política. Ainda na visão de
Manoel, no Brasil a ligação da Igreja com o Estado era ainda mais forte do que com Roma, segundo ele:
Mesmo quando a Constituição de 1891 declarou a separação entre a Igreja e o Estado não significou um afastamento
entre eles, mas apenas definiu-se a área de atuação da Igreja e estabeleceu-se a sua responsabilidade pela sua própria
manutenção. E nem a Igreja se considerou "caçada", embora condenasse o ideário positivista e ateu da República
brasileira. 578
Contudo, deve ficar claro que muita coisa mudou para a Igreja Católica depois da Proclamação da
República, inclusive em relação à arrecadação, já que na nova condição política, o Estado de eximiu da
responsabilidade de manter os órgãos católicos. Outrossim, inúmeros padres e bispos encamparam uma
grande luta contra o regime republicano e seu laicismo político.
Nesse novo contexto de exclusão da Igreja Católica do Estado, a escola adquiriu um novo valor, tornou-se
uma das principais formas de manter a influência da instituição na sociedade. De acordo com Jamil Cury,
mesmo que a República tenha separado Igreja Católica do Estado ela continuou a ser a religião nacional,
portanto para os lideres católicos, ―A constituição feita como nome de Deus e ensino religioso garantido
pela mesma, representa o retorno às fontes da Igreja e às profundas tradições nacionais‖. 579
576 Ibidem p. 21
577MANOEL, Ivan Aparecido. As reformas conservadoras da “nova” pedagogia católica. Dissertação de Mestrado. UFSCar, São
Carlos, 1982. P.27
578 Ibidem p. 38
579 CURY, Carlos R. Jamil. Ideologia e Educação Brasileira: católicos e liberais. São Paulo: Cortez e Moraes LTDA, 1978,
p. 53.
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