Barão

(João Bosco e Aldir Blanc – “Os Bóias Frias”)
Entendemos por história todo o processo constituído por homens e mulheres, alguns
protagonistas e muitos coadjuvantes, que na maioria das vezes não são citados ou lembrados.
Darcy Ribeiro escreveu:
A história, na verdade das coisas, se passa nos quadros locais, como
eventos que o povo recorda e a seu modo explica. É aí, dentro das linhas de
crenças co-participadas, de vontades coletivas abruptamente eriçadas, que as
coisas se dão. Essa é a razão por que, em lugar de um quadro geral da história
brasileira, compus esses cenários regionais. 867
Ao término do trabalho “Entre o Café e o Açúcar: a experiência de vida do homem do campo na
região de Ribeirão Preto (1940/1970)”, o ofício de historiador latente proporcionou outros
questionamentos para que continuássemos na busca de novos caminhos para o trabalhador rural. Com
o enraizar canavieiro, o homem do campo se distanciava cada vez mais de suas terras e origens
culturais. 868
A proposta do estudo é demonstrar a vivência e a prática do trabalhador do campo na região
de Ribeirão Preto, suas lutas por direitos trabalhistas em conjunto com a introdução e o
desenvolvimento do Pro Álcool, na primeira e segunda fase – 1975/1979 – e a greve de Guariba, em
1984, como o recorte final da pesquisa, que representou uma mudança no cotidiano do cortador de
cana do Estado de São Paulo.
Em um contexto de crescimento econômico nacional que refletiu na forma organizacional rural,
nas conseqüências materiais, físicas e até espirituais do trabalhador rural, poderemos talvez, a partir
deste cenário, compreender suas condições, inclusões, direitos, aflições e as tendências à
mecanização agrícola que norteará o caminho profissional do cortador de cana.
Para uma compreensão melhor denominaremos o trabalhador rural por homem do campo,
volante ou bóia fria, haja vista que seu trabalho é sazonal e incerto. O termo específico bóia fria – que
para a maioria se refere a sua comida fria – tem referência a sua classe profissional.
Alguns historiadores passaram a entender a História pelo seu cotidiano, em seu universo do
trabalho local e da sua vida privada. Como Le Goff afirmou que a História do Cotidiano é o cruzamento
de novos interesses, encontraremos como precursores dessa temática, Lucien Febvre e Fernand
867 RIBEIRO, D. O povo brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. 2.ed., São Paulo: Companhia das
Letras,1995.,p.269.
868 CALSANI, R. de. A. Entre o café e o açúcar: a experiência de vida do homem do campo na região de Ribeirão Preto
(1940/1970), 2005 (Monografia - TCC em História, pelo Centro Universitário Barão de Mauá).