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universidade do estado do amazonas escola - uea - pós graduação

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Conforme esclarece Pinto, na grande maioria das civilizações pré-cristãs, a noção de<br />

tempo cíclico estava associada também a uma ideia de início de ano novo. Referidas<br />

sociedades possuíam elementos para a contagem <strong>do</strong> tempo. Mesmo que esse tempo fosse<br />

“reinicia<strong>do</strong>” a cada perío<strong>do</strong>, era imprescindível a determinação <strong>do</strong> ano novo. Referida tarefa<br />

era realizada através <strong>do</strong> calendário. Em regra, a determinação <strong>do</strong>s calendários dava-se de<br />

acor<strong>do</strong> com fenômenos naturais, utiliza<strong>do</strong>s para orientar os povos primitivos nas suas<br />

atividades, e decorria da ausência de um mecanismo puramente humano, hábil para medir a<br />

passagem das estações:<br />

A invenção <strong>do</strong> calendário e, especialmente, a sua manipulação pelo homem,<br />

foi identificada, desde os primórdios da contagem <strong>do</strong> tempo pelos povos<br />

antigos, como um instrumento de poder. Assim ilustra Le Goff: “observa-se<br />

como numa sociedade a intervenção <strong>do</strong>s detentores <strong>do</strong> poder na medida <strong>do</strong><br />

tempo é um elemento essencial <strong>do</strong> seu poder: o calendário é um <strong>do</strong>s grandes<br />

emblemas e instrumentos <strong>do</strong> poder; por outro la<strong>do</strong>, apenas os detentores<br />

carismáticos <strong>do</strong> poder são senhores <strong>do</strong> calendário: reis, padres,<br />

revolucionários”. [...] As primeiras utilizações <strong>do</strong> calendário – como<br />

instrumento de poder – de que se tem notícia vinculam-se ao aspecto<br />

religioso, diz Le Goff: “é claro que foram sobretu<strong>do</strong> os poderes religiosos, as<br />

igrejas e os cleros, onde estes existiam, a tentar obter o controle <strong>do</strong><br />

calendário, que tinha aliás raízes profundas no sagra<strong>do</strong>”. (PINTO, 2002, p.<br />

119-120, grifo nosso)<br />

Diversas civilizações agrárias da antiguidade possuíam calendários, sen<strong>do</strong> que os mais<br />

antigos datam aproximadamente de 3000 a.C. (egípcios, chineses, babilônios, assírios), e<br />

foram desenvolvi<strong>do</strong>s precipuamente com objetivos práticos de auxiliar a atividade agrícola<br />

(FILHO & SARAIVA, 2010). Os babilônios introduziram um ano de 360 dias,<br />

posteriormente corrigi<strong>do</strong> para 365 dias pelos egípcios. O calendário juliano, introduzi<strong>do</strong> por<br />

Júlio César em 1º de janeiro <strong>do</strong> ano 45 d.C., apresentou a novidade de um ano bissexto, com<br />

366 dias a cada 4 anos. Porém, o calendário juliano foi acumulan<strong>do</strong> um atraso ao longo <strong>do</strong>s<br />

séculos, em relação ao real movimento <strong>do</strong> Sol. Isso fez com que o equinócio, que nos tempos<br />

de César ocorria no dia 25 de março, caísse em 11 de março no ano de 1582. Isso acabou<br />

geran<strong>do</strong> intensos debates até que, finalmente, com a ajuda de Nicolau Copérnico, o Papa<br />

Gregório XIII institui em 1582 o calendário gregoriano. Para corrigir os atrasos <strong>do</strong> calendário<br />

juliano, Gregório XIII determinou que fossem excluí<strong>do</strong>s 10 dias <strong>do</strong> ano 1582. Esse calendário<br />

incorporou-se, aos poucos, à vida <strong>do</strong>s países europeus. Em 1924 também foi a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelas<br />

igrejas orto<strong>do</strong>xas e, até hoje, registra os dias no mun<strong>do</strong> (ABDALLA, 2009, p. 53; PINTO,<br />

2002, p. 123-125). Para Ricoeur, o calendário é uma ponte narrativa entre o tempo vivi<strong>do</strong> e o<br />

tempo cósmico (RICOEUR, 2010b, p. 177).

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