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universidade do estado do amazonas escola - uea - pós graduação

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este mun<strong>do</strong> na qualidade de estranhos, além de prevê-los e levá-los em<br />

conta. (ARENDT, 2008, p. 16-17, grifo nosso)<br />

Da leitura <strong>do</strong> trecho acima, vê-se que Arendt refere-se claramente às futuras gerações<br />

quan<strong>do</strong> usa a expressão “recém-chega<strong>do</strong>s” a esse mun<strong>do</strong>, cuja chegada deve ser prevista e<br />

considerada por aqueles que exercem simultaneamente o labor, o trabalho e a ação.<br />

Traduzin<strong>do</strong> isso, significa dizer que o labor é a atividade biológica que sustenta o corpo<br />

humano e a vida da espécie, atividade que pode se manifestar sob a forma <strong>do</strong> comer e <strong>do</strong><br />

beber – é o consumo capitalista. O trabalho, por sua vez, é a atividade que produz coisas, ou<br />

seja, representa a vida economicamente ativa de um indivíduo – é a produção capitalista.<br />

Finalmente, a ação refere-se à vida politicamente ativa de um indivíduo, como, por exemplo,<br />

fundar e preservar corpos políticos – é a atividade de decidir os destinos da sociedade e de<br />

construir sua própria história.<br />

Transplantan<strong>do</strong>-se as ideias de Arendt para o contexto da sociedade nacional,<br />

capitalista e <strong>pós</strong>-moderna brasileira, é perfeitamente possível identificar como gerações<br />

presentes o conjunto de to<strong>do</strong>s os indivíduos que simultaneamente exercem as atividades <strong>do</strong><br />

labor, <strong>do</strong> trabalho e da ação; pois somente essa concomitância de atividades – biológica,<br />

econômica e política -, permite a uma geração presente decidir e traçar de forma ampla os<br />

destinos da geração que lhe será posterior, ou seja, só quem atua efetivamente na economia e<br />

na política pode impactar com intensidade plena as vidas das futuras gerações. Logo, a<br />

subjetividade coletiva que age de forma econômica e politicamente ativa será considerada<br />

nesse estu<strong>do</strong> como gerações presentes. Por dedução lógica, as gerações que lhe são<br />

posteriores serão consideradas futuras gerações, assim como as gerações que já ultrapassaram<br />

as etapas política e econômica da vida, serão consideradas gerações passadas ou gerações<br />

contemplativas.<br />

Sobre a fase contemplativa da vida humana, último estágio da existência, Arendt<br />

esclarece que a expressão vita activa compreende todas as atividades humanas – labor,<br />

trabalho e ação. Porém, o extremo oposto da vita activa é a quietude da contemplação, época<br />

da vida humana que opõe-se à ideia de ocupação cotidiana. A superioridade da contemplação<br />

sobre qualquer outra atividade, inclusive sobre a ação política, não é de origem cristã, sen<strong>do</strong><br />

encontrada já na filosofia política de Platão (429-354 a.C.). Posteriormente, em Aristóteles<br />

(385-322 a.C.), será encontrada a distinção entre quietude e ocupação, sen<strong>do</strong> a contemplação<br />

uma forma de abstenção de qualquer tipo de atividade (ARENDT, 2008, p. 22-23). Fazen<strong>do</strong><br />

analogia das ideias filosóficas acima ao que ocorre na <strong>pós</strong>-modernidade capitalista, a fase

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