01.11.2014 Views

universidade do estado do amazonas escola - uea - pós graduação

universidade do estado do amazonas escola - uea - pós graduação

universidade do estado do amazonas escola - uea - pós graduação

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

270<br />

entendida como a capacidade de creditar o futuro, comprometer-se em relação a ele por meio<br />

de antecipações normativas que balizarão <strong>do</strong>ravante o seu desenrolar. Mas o tempo <strong>do</strong> direito<br />

não se limita apenas a perdão e promessa. Associa<strong>do</strong> a esses <strong>do</strong>is, existem a memória – uma<br />

promessa feita no passa<strong>do</strong>, e o requestionamento – um perdão a ser da<strong>do</strong> no futuro. O perdão<br />

desliga o passa<strong>do</strong>, liberta-se dessa promessa feita ontem e abre espaço para uma promessa<br />

nova, feita hoje, que é a ligação <strong>do</strong> futuro. Assim, o perdão desliga o passa<strong>do</strong> e a promessa<br />

liga o futuro. Porém, o futuro eterniza<strong>do</strong> é um risco, ele precisa ser desliga<strong>do</strong> pelo<br />

requestionamento, que é a antecipação de um novo perdão a ser da<strong>do</strong> no futuro. Esse é o<br />

compasso ritma<strong>do</strong> <strong>do</strong> tempo <strong>do</strong> direito, que vai se alternan<strong>do</strong> conforme a história humana<br />

(OST, 2001, p. 41-43).<br />

Para que se possa entender, de forma mais concreta e explícita, como esses quatro<br />

tempos aparecem no direito, deixan<strong>do</strong>-se de la<strong>do</strong> as metáforas filosóficas e partin<strong>do</strong>-se agora<br />

para a teoria <strong>do</strong> direito, pode-se dizer que o direito começa a partir da 1) memória que liga o<br />

passa<strong>do</strong> através das tradições antigas, <strong>do</strong>s costumes ancestrais, <strong>do</strong>s precedentes judiciários, da<br />

<strong>do</strong>utrina canônica e <strong>do</strong>s direitos inderrogáveis que almejam a eternidade (OST, 2001, p. 43)<br />

como, por exemplo, normas constitucionais pétreas e direitos fundamentais previstos no<br />

artigo 5º da Constituição Federal brasileira. Estes direitos, justamente por serem<br />

fundamentais, são imunes à revogação, exceto no caso de instaurar-se toda uma nova ordem<br />

constitucional que desligue a ordem anterior. É nessa memória que a sociedade deita suas<br />

raízes, que lhe asseguram identidade e estabilidade – duração, previsibilidade e continuidade.<br />

Dentro desse cenário de memória, quanto mais o tempo “passa”, na visão ilusória de Ost,<br />

mais intenso torna-se o poder e a força <strong>do</strong> direito pelo hábito reitera<strong>do</strong> de sua lembrança e<br />

observância. Porém, para<strong>do</strong>xalmente, esse tempo extenso logo acaba crian<strong>do</strong> o risco da<br />

eternização de valores que não mais se mostram adequa<strong>do</strong>s à sociedade <strong>do</strong> presente. Esse<br />

direito ancestral pode, de repente, mostrar-se retrógra<strong>do</strong> e ultrapassa<strong>do</strong>, incapaz de resolver<br />

questões inéditas surgidas em novos cenários fáticos. Assim, se a memória é boa por<br />

estabilizar o direito, é ruim por imobilizá-lo.<br />

Diante <strong>do</strong> risco <strong>do</strong> imobilismo, o compasso ritma<strong>do</strong> <strong>do</strong> tempo <strong>do</strong> direito avança em<br />

direção ao 2) perdão que desliga o passa<strong>do</strong>, através de instituições jurídicas com capacidade<br />

de inovação. O juiz, pela sua sentença, frustra a repetição <strong>do</strong>s antecedentes judiciários e, até<br />

mesmo, a repetição das leis quan<strong>do</strong> as declara inconstitucionais. Investi<strong>do</strong> de poderes de<br />

controle de legalidade <strong>do</strong>s atos administrativos e de controle da constitucionalidade das leis, o<br />

juiz pode recusar regulamentos, precedentes judiciários antigos e até mesmo leis, assumin<strong>do</strong> o<br />

risco de uma mudança de jurisprudência que o leve a uma apreciação mais justa e equitativa

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!