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universidade do estado do amazonas escola - uea - pós graduação

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179<br />

Na última página de sua obra, as últimas palavras de Heidegger apontam que o ser é<br />

ontológica e existencialmente temporal, no senti<strong>do</strong> de que o ser é o próprio tempo:<br />

A constituição ontológico-existencial da totalidade da presença funda-se na<br />

temporalidade. Desta forma, é um mo<strong>do</strong> originário de temporalização da<br />

própria temporalidade ekstática que deve tornar possível o projeto ekstático<br />

<strong>do</strong> ser em geral. Como se há de interpretar esse mo<strong>do</strong> de temporalização da<br />

temporalidade? Haverá um caminho que conduza <strong>do</strong> tempo originário para o<br />

senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> ser? Será que o próprio tempo se revela como horizonte <strong>do</strong> ser?<br />

(HEIDEGGER, 2009, p. 535)<br />

Ao falar em “constituição” ontológica e existencial, Heidegger refere-se<br />

explicitamente à característica mais íntima <strong>do</strong> ser, sua raiz existencial. Da leitura de sua obra,<br />

a conclusão a que se pode chegar é que o ser é tempo. Se a meta de Heidegger fosse a busca<br />

por um conceito ou a compreensão da natureza <strong>do</strong> tempo, poder-se-ia dizer que o tempo é o<br />

ser, o tempo são as próprias pessoas intrinsecamente consideradas. Essa posição fica muito<br />

clara na tradução feita por Puente <strong>do</strong> texto “O conceito de tempo” 2 :<br />

Disponho eu <strong>do</strong> ser <strong>do</strong> tempo e me considero a mim mesmo com o agora?<br />

Sou eu mesmo o agora e meu ser-aí o tempo? Ou, por fim, é o tempo mesmo<br />

que provê o relógio em nós? [...] Resumin<strong>do</strong>, pode-se dizer: tempo é ser-aí.<br />

[...] O ser-aí é o tempo, o tempo é temporal. O enuncia<strong>do</strong> fundamental: o<br />

tempo é temporal, é, por isso, a mais autêntica determinação – e ele não é<br />

uma tautologia, porque o ser da temporalidade significa uma realidade<br />

desigual. O ser-aí é seu passa<strong>do</strong>, é sua possibilidade no antecipar-se para<br />

esse passar. Nesse antecipar eu sou autenticamente o tempo, eu tenho tempo.<br />

(HEIDEGGER, 2004, p. 123-124 apud PUENTE, 2010, p. 56 e 72, grifo<br />

nosso)<br />

Perceba o leitor que a noção de tempo trazida por Heidegger é muito semelhante à<br />

afirmação de Agostinho, quan<strong>do</strong> este diz que o tempo é uma “distensão <strong>do</strong> próprio espírito”<br />

(PUENTE, 2010, p. 31). O mais interessante, dentre as diversas semelhanças conceituais em<br />

torno <strong>do</strong> tempo, é a coincidência das reflexões filosóficas de Agostinho e Heidegger,<br />

puramente teóricas, com as comprovações empíricas que, nos últimos anos, vêm sen<strong>do</strong><br />

proporcionadas pela astrofísica e pela física de partículas, também sobre a natureza <strong>do</strong> tempo.<br />

Enquanto filósofos de séculos passa<strong>do</strong>s afirmaram que o tempo é o próprio ser, ou seja, que a<br />

natureza intrínseca <strong>do</strong> tempo coincide com a natureza intrínseca <strong>do</strong> ser, a ciência<br />

contemporânea vem a cada dia obten<strong>do</strong> novas provas que se somam e apontam para a<br />

concepção de que, realmente, o tempo é constituí<strong>do</strong> pelas mesmas unidades básicas que<br />

2 Conferência que Heidegger fez para teólogos em 1924, quatro anos antes da publicação de sua obra Ser e<br />

Tempo, conforme PUENTE, 2010, p. 72.

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