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universidade do estado do amazonas escola - uea - pós graduação

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códigos de conduta (que eram simultaneamente sociais, políticos, jurídicos e religiosos)<br />

aparece de forma clara e explícita. Apesar dessa exceção acima apontada, Santo Agostinho<br />

rejeitava a ideia cíclica <strong>do</strong>s antigos gregos e, sob a influência da cosmogonia bíblica, teceu<br />

considerações sobre um tempo linear, um tempo que permite a evolução e que possui apenas<br />

um único começo e um único final. Conforme esclareceu Gagnebin, a reflexão agostiniana<br />

sobre o tempo inaugura um novo campo de reflexão – a temporalidade:<br />

Marca um corte fundamental com as tentativas da filosofia antiga (em<br />

particular em Platão e Aristóteles) que definiam o tempo em relação ao<br />

movimento de corpos externos, em particular em relação ao movimento <strong>do</strong>s<br />

astros. [...] Abre um novo campo de reflexão: o da temporalidade, da nossa<br />

condição específica de seres que não só nascem, e morrem „no‟ tempo, mas<br />

sobretu<strong>do</strong>, que sabem, que têm consciência dessa sua condição temporal e<br />

mortal. (GAGNEBIN, 1995, p. 28)<br />

Apesar de seu caráter inova<strong>do</strong>r, as ideias de Santo Agostinho foram solenemente<br />

ignoradas na idade média, perío<strong>do</strong> cujos sábios eram muito mais influencia<strong>do</strong>s pelo modelo<br />

aristotélico estagnante de uma Terra estacionária no centro de um universo imutável. Em que<br />

pese, também, a amplitude da <strong>do</strong>utrina judaico-cristã que, na mesma época, propugnava um<br />

novo senti<strong>do</strong> de tempo – linear evolutivo, o que se observou é que a grande maioria <strong>do</strong>s povos<br />

da antiguidade e da idade média permaneceram ferrenhamente ata<strong>do</strong>s à velha noção cíclica de<br />

tempo (PINTO, 2002, p. 18). A temporalidade inaugurada pelo bispo de Hipona no século IV,<br />

baseada em um tempo linear autônomo da <strong>do</strong>utrina judaico-cristã, só viria a ser tratada<br />

novamente mais de 12 séculos depois, por Isaac Newton (1643-1727) e pelo filósofo<br />

existencialista Paul Ricoeur (1913-2005). Conforme assinala<strong>do</strong> por Szamosi:<br />

Agostinho defendia, clara e concisamente, o conceito de um „tempo‟<br />

autônomo, não deriva<strong>do</strong> <strong>do</strong> movimento de corpos, celestes ou terrestres –<br />

conceito muito semelhante ao de tempo „absoluto‟ de Newton [...] Para<br />

Agostinho, o tempo era, portanto, independente <strong>do</strong> espaço e <strong>do</strong> movimento,<br />

e também era métrico. (SZAMOSI, 1988, p. 101)<br />

Até aqui foram examinadas várias noções sobre o tempo conforme os debates e as<br />

reflexões advin<strong>do</strong>s da filosofia, por isso a concepção de tempo de Newton será deixada para o<br />

próximo item desse capítulo, onde serão tecidas com maiores detalhes noções físicas <strong>do</strong><br />

tempo. Por ora, continuar-se-á o exame de mais algumas reflexões filosóficas sobre o tempo<br />

e, também, será mostra<strong>do</strong> como duas noções de tempo, aparentemente excludentes, conviviam<br />

harmonicamente em culturas mesoamericanas: tempo cíclico e linear.

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