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universidade do estado do amazonas escola - uea - pós graduação

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ocorrerá que em sociedades não-ocidentais será difícil, talvez impossível, definir o que é uma<br />

geração ou um coorte etário, e fazer as distinções mútuas entre diferentes gerações ou<br />

diferentes coortes. Apesar disso, Fortes destaca que o envelhecimento e a passagem de uma<br />

idade para outra é um fato presente em todas as sociedades, sejam ocidentais ou não, e cada<br />

uma precisa lidar com esse fato à sua maneira. Em particular, Fortes ressalta a centralidade<br />

disso para obtenção de direitos e deveres político-jurídicos nas sociedades mais amplas, <strong>do</strong><br />

tipo ocidental. Diante de tais problemas, ele prefere utilizar a noção antropologicamente<br />

difundida de “estágios de maturação”, que possuem uma base biológica, mas não se<br />

restringem a isso, quer dizer, não basta ser jovem, ser adulto ou ser velho para fazer parte de<br />

uma geração ou de um coorte etário. Os “estágios de maturação” são culturalmente defini<strong>do</strong>s,<br />

variam de uma sociedade para outra, e implicam a assunção de posições sociais distintas,<br />

conforme as capacidades que os indivíduos manifestam ao longo <strong>do</strong> “ciclo de vida individual”<br />

(FORTES, 1984, p. 99-101 apud DOMINGUES, 2002, p. 73).<br />

Comparan<strong>do</strong>-se a teoria de Kertzer (coortes) com a teoria de Fortes (estágios de<br />

maturação), Domingues faz uma distinção entre “classes etárias” e “grupos etários”. As<br />

primeiras corresponderiam aos estágios de maturação, os segun<strong>do</strong>s aos grupos de idade<br />

cronológica (DOMINGUES, 2002, p. 73). Basean<strong>do</strong>-se em Maybury-Lewis, Domingues<br />

acrescenta que, apesar da crítica feita por Fortes à teoria exclusivamente cronológica de<br />

Kertzer, a descoberta de sociedades indígenas no Brasil central, que a<strong>do</strong>tam o critério<br />

cronológico, como forma de definição de grupos etários, paralelamente ao critério <strong>do</strong>s<br />

estágios de maturação; põe em xeque a afirmação de Fortes de que apenas nas sociedades de<br />

tipo ocidental o fator cronológico seria relevante (MAYBURY-LEWIS, 1984, p. 128-129<br />

apud DOMINGUES, 2002, p. 73).<br />

Não obstante as diferenças entre uma teoria e outra, a ideia básica contida no conceito<br />

de “estágios de maturação” em Fortes, é que referi<strong>do</strong>s estágios são defini<strong>do</strong>s culturalmente e,<br />

portanto são plurais, diversos, varian<strong>do</strong> de uma sociedade para outra. Esses estágios, por<br />

terem uma forte base cultural, contrapõem-se à ideia de idade cronológica que, embora<br />

também seja um produto cultural, é todavia uma noção universal, cujo significa<strong>do</strong> é idêntico<br />

dentro das mais diversas sociedades ocidentais, cujo padrão de tempo está apoia<strong>do</strong> no<br />

calendário positivista, numérico, marca<strong>do</strong>r de um tempo exato, objetivo e linear. Assim, no<br />

conceito cultural de estágios de maturação, um indivíduo, que em qualquer sociedade<br />

ocidental seria um adulto por ter 40 anos de idade, poderia vir a ser considera<strong>do</strong> um<br />

subordina<strong>do</strong> de uma criança, que é seu pai devi<strong>do</strong> à poliginia, apesar desse homem adulto<br />

pertencer a um “grupo etário” mais avança<strong>do</strong> que uma criança de apenas 10 anos de idade.

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