01.11.2014 Views

universidade do estado do amazonas escola - uea - pós graduação

universidade do estado do amazonas escola - uea - pós graduação

universidade do estado do amazonas escola - uea - pós graduação

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

224<br />

ritos, se os alimentos eram leva<strong>do</strong>s ao túmulo nos dias fixa<strong>do</strong>s, então o<br />

antepassa<strong>do</strong> se convertia num deus protetor. (COULANGES, 2009, p. 34,<br />

grifo nosso)<br />

Referidas práticas explicam porque o passa<strong>do</strong> se fez tão presente na vida <strong>do</strong>s povos<br />

antigos, e continua se fazen<strong>do</strong> presente no direito contemporâneo, já que to<strong>do</strong> seu fundamento<br />

de validade está concentra<strong>do</strong> em uma norma fundamental “anterior”, que Kelsen denomina<br />

“superior”. Analisan<strong>do</strong>-se as práticas sociais mais arcaicas e antigas que se tem notícia,<br />

percebe-se que o passa<strong>do</strong> incorporou-se ao direito sob a forma de rituais de caráter místico e<br />

religioso. Estes antigos rituais correspondem às atuais formalidades jurídicas. Interessante<br />

notar que o culto aos mortos já era uma forma arcaica de relação intergeracional:<br />

Havia uma troca perpétua de bons serviços entre os vivos e os mortos de<br />

cada família. O ancestral recebia de seus descendentes a série de repastos<br />

fúnebres, ou seja, os únicos prazeres que podia gozar na segunda vida. O<br />

descendente recebia <strong>do</strong> ancestral o auxílio e a força de que tinha necessidade<br />

nesta vida. O vivo não podia passar sem o morto, e este não podia passar<br />

sem o vivo. Disto resultou um liame poderoso, que se estabelecia entre todas<br />

as gerações de uma mesma família, fazen<strong>do</strong> desta um corpo eternamente<br />

inseparável. (COULANGES, 2009, p. 34, grifo nosso)<br />

Mesmo a<strong>pós</strong> dissolvidas ao longo da história, essas antigas crenças perpetuaram-se<br />

no direito da maioria <strong>do</strong>s povos da Terra sob a forma de costumes e práticas formalistas<br />

verificadas no direito contemporâneo, como, por exemplo, o costume positiva<strong>do</strong> de<br />

fundamentar decisões judiciais no direito passa<strong>do</strong>. Esse direito passa<strong>do</strong> é parte integrante <strong>do</strong>s<br />

sistemas jurídicos contemporâneos, ora sen<strong>do</strong> referencia<strong>do</strong> sob a forma de jurisprudência nos<br />

sistemas de commom law, ora sob a forma de lei nos sistemas <strong>do</strong> civil law. Conforme<br />

esclarece Coulanges, a relação intergeracional entre vivos e mortos nasceu de:<br />

Velhas crenças que ao longo <strong>do</strong> tempo desapareceram <strong>do</strong>s espíritos, mas que<br />

deixaram ainda muito tempo depois de sua vigência usos, ritos, formas de<br />

linguagem, <strong>do</strong>s quais o próprio incrédulo não podia escapar.<br />

(COULANGES, 2009, p. 28-29, grifo nosso)<br />

Pode parecer uma heresia jurídica, dizer que o fundamento de validade <strong>do</strong> direito é o<br />

futuro, e não o passa<strong>do</strong>. Mas conforme será visto no item seguinte, o direito contemporâneo<br />

caminha nessa direção. Existe uma tendência inequívoca de cada vez mais o direito incorporar<br />

o futuro como fundamento de validade de suas normas, tendência de cada vez mais a<strong>do</strong>tar o<br />

futuro como critério orienta<strong>do</strong>r de decisões judiciais. O final <strong>do</strong> século XX e o início <strong>do</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!