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universidade do estado do amazonas escola - uea - pós graduação

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206<br />

Ao abordar as ideias comuns e corriqueiras acerca <strong>do</strong> tempo, por mais que a vida<br />

cotidiana esteja dividida em três partes - passa<strong>do</strong>, presente e futuro; por mais que a estrutura<br />

gramatical da linguagem gire em torno dessa distinção; por mais que a consciência humana<br />

esteja estruturada sobre a ideia de um presente que está sempre tornan<strong>do</strong>-se passa<strong>do</strong>; Davies<br />

afirma que “por óbvia que possa parecer essa descrição ao senso comum, ela está em<br />

profunda contradição com a física moderna” (2007, p. 11). Analisan<strong>do</strong> a questão da<br />

relatividade <strong>do</strong> tempo que, como visto, permite para<strong>do</strong>xalmente que um mesmo evento seja<br />

considera<strong>do</strong> presente, passa<strong>do</strong> ou futuro, conforme a posição de diferentes observa<strong>do</strong>res,<br />

Davies nega peremptoriamente a ideia de fluxo temporal e diz que:<br />

A conclusão mais imediata disso é que tanto o passa<strong>do</strong> quanto o futuro são<br />

fixos. Por essa razão, os físicos preferem pensar o tempo como inteiramente<br />

mapea<strong>do</strong> – uma paisagem temporal (“timescape”), em analogia a uma<br />

paisagem espacial (“landscape”) – conten<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os eventos passa<strong>do</strong>s e<br />

futuros. É um conceito algumas vezes chama<strong>do</strong> de “tempo bloca<strong>do</strong>”. [...] Em<br />

suma, o tempo <strong>do</strong> físico não passa nem flui. [...] o fluxo <strong>do</strong> tempo é irreal,<br />

mas o tempo em si mesmo é tão real quanto o espaço. (DAVIES, 2007, p.<br />

12)<br />

Davies argumenta que uma grande confusão é criada a partir da ideia de flecha <strong>do</strong><br />

tempo. O mesmo autor distingue duas situações: 1) fluxo <strong>do</strong> tempo e 2) sequência<br />

unidirecional <strong>do</strong>s eventos no mun<strong>do</strong>. Estas duas situações são distintas, não se confundem.<br />

Dizer que não existe fluxo <strong>do</strong> tempo não significa negar a validade de categorias como<br />

“passa<strong>do</strong>” e “futuro”. Os eventos, especialmente os processos irreversíveis da física ou da<br />

química, guia<strong>do</strong>s pela entropia, podem se distribuir sequencialmente ao longo <strong>do</strong> tempo,<br />

porém afirmar que o próprio tempo, ele em si, está fluin<strong>do</strong> ou passan<strong>do</strong>, é algo incorreto. A<br />

passagem <strong>do</strong> tempo é um conceito que não tem coerência interna. Davies explica isso a partir<br />

da ideia de entropia de um sistema fecha<strong>do</strong>. Conforme a segunda lei da termodinâmica, o grau<br />

de desordem de um sistema tende a crescer com o tempo. Um ovo intacto tem menos entropia<br />

(desordem) <strong>do</strong> que um ovo quebra<strong>do</strong>. De acor<strong>do</strong> com a entropia, os eventos físicos ou<br />

químicos obedecem a uma sequência, cuja direção vai <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> mais ordena<strong>do</strong> ao esta<strong>do</strong><br />

mais desordena<strong>do</strong>. Por exemplo, derrubar um ovo no chão faz ele quebrar e esparramar o seu<br />

conteú<strong>do</strong> desordenadamente. Porém, o processo inverso não é observa<strong>do</strong> na natureza – um<br />

ovo quebra<strong>do</strong> não retorna à sua forma intacta. Sutilmente, esse fenômeno conduz a mente<br />

humana a acreditar na ilusão de que o tempo “flui”, <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> em direção ao futuro:

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