INFORMAÇÃO INTERNACIONAL - Departamento de Prospectiva e ...
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França e Alemanha - Tensões a propósito <strong>de</strong> uma ambição comum - a "Europa Potência"?<br />
8. A ruptura <strong>de</strong> 1989/91 implicou a reunificação da Alemanha e traduziu-se numa mudança<br />
radical do panorama geopolítico e <strong>de</strong> segurança europeus. Face a esta mudança radical a<br />
França <strong>de</strong>cidiu apostar o essencial da sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção externa no apoio a<br />
uma evolução da CEE num sentido mais abrangente em termos <strong>de</strong> áreas funcionais - que<br />
aliás já estava em andamento <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a adopção do Acto Único Europeu em 1985. Tanto<br />
quanto se po<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a França preten<strong>de</strong>u, <strong>de</strong>ste modo, formalizar, na medida do<br />
possível, um novo tipo <strong>de</strong> condicionamento apertado das actuações futuras da Alemanha,<br />
mas agora <strong>de</strong> matriz exclusivamente europeia.<br />
9. Em Maastritch foi consagrada, com a UEM a realização <strong>de</strong> uma transferência <strong>de</strong><br />
soberania na área monetária que diluiu a prepon<strong>de</strong>rância alemã exactamente na área em<br />
que a Alemanha obtivera maior protagonismo europeu no pós-guerra. Data <strong>de</strong>ssa altura a<br />
reivindicação alemã <strong>de</strong> que esta transferência <strong>de</strong> soberania fosse acompanhada por uma<br />
evolução paralela no sentido <strong>de</strong> uma União Política, que no entanto ficou em suspenso<br />
durante os anos 90.<br />
10. Antes do início da presidência francesa da UE abriu-se um intenso <strong>de</strong>bate exactamente<br />
sobre a União Política. O governo alemão, pela voz do seu Ministro dos Negócios<br />
Estrangeiros, Joschka Fischer avançou com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma Fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Estados Nações<br />
como futura configuração política da UE. O presi<strong>de</strong>nte francês Chirac, aparentemente não<br />
convencido com esta formula alemã, que procurava apontar um <strong>de</strong>stino fe<strong>de</strong>ral para a<br />
Europa, aceitável pelos Estados Nações, respon<strong>de</strong>u no seu discurso perante o Bun<strong>de</strong>stag<br />
que “...nem vós nem nós visamos a criação <strong>de</strong> um super-Estado europeu que substituiria os<br />
Estados nacionais e marcaria o fim da sua existência como actores da vida internacional”.<br />
11. Em Nice a França, consciente da impopularida<strong>de</strong> das suas posições, quis no entanto<br />
<strong>de</strong>marcar-se do projecto alemão, para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o seu – o <strong>de</strong> uma Europa Potência<br />
funcionando como um cartel <strong>de</strong> Estados (sobretudo os mais po<strong>de</strong>rosos, e não<br />
necessariamente todos os Estados-membros da UE) que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m agir em comum para<br />
maximizar a sua influência num conjunto <strong>de</strong> áreas funcionais internacionalmente relevantes.<br />
E, assim, fazendo aproximou-se das posições dos ingleses mais europeístas, actualmente<br />
no po<strong>de</strong>r em Londres.<br />
12. Em Nice a Alemanha aproveitando a dificulda<strong>de</strong> da França em fazer avançar a sua<br />
visão, conseguiu marcar pontos perante dois grupos <strong>de</strong> países – alguns Estados-membros<br />
ditos “pequenos” – <strong>de</strong>signadamente os do Benelux – receosos <strong>de</strong> um “Directório dos<br />
gran<strong>de</strong>s” e os países candidatos, que mais do que na França, encontram na Alemanha e<br />
nos países do Benelux <strong>de</strong>fensores convictos do alargamento a Leste.<br />
13. Para a Alemanha o projecto europeu consubstanciado na União Europeia – na versão<br />
do Ministro dos Negócios Estrangeiros Joschka Fischer ou mais recentemente do presi<strong>de</strong>nte<br />
Rau ou do chanceler Schroe<strong>de</strong>r – permite simultaneamente, afirmar a sua centralida<strong>de</strong><br />
como potência europeia, sem levantar reacções <strong>de</strong> rejeição, e aumentar o seu valor e a sua<br />
autonomia face aos aliados americanos.<br />
14. Para a França o projecto <strong>de</strong> evolução da União Europeia, na versão <strong>de</strong> Chirac, permite<br />
lidar com o alargamento - que doutro modo traduziria uma redução da sua influência – sem<br />
abandonar a ambição <strong>de</strong> fornecer a orientação básica para a autonomia da Europa face aos<br />
EUA, valorizando os seus activos nacionais mais relevantes – diplomacia e <strong>de</strong>fesa.<br />
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