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Informação Internacional<br />
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A AFIRMAÇÃO <strong>INTERNACIONAL</strong> DO EURO E A SUA DEPRECIAÇÃO FACE AO DÓLAR –<br />
DUAS FACES DE UMA MESMA MOEDA?<br />
Num artigo publicado no Financial Times <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 2000, Ronald McKinon <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u<br />
a seguinte posição:<br />
O EURO contribuiu para a unificação e expansão dos mercados <strong>de</strong> capitais na Europa continental<br />
a um ritmo surpreen<strong>de</strong>ntemente rápido; antes do advento do EURO o D-Marco era a moeda<br />
refúgio na Europa, já que apenas a Alemanha podia sustentar mercados <strong>de</strong> obrigações e<br />
hipotecários <strong>de</strong> dimensão significativa; os países situados na periferia da alemã possuíam moedas<br />
mais “fracas” e com elevados prémios <strong>de</strong> risco nas suas taxas <strong>de</strong> juro, pelo que o financiamento<br />
interno das suas economias baseava-se obrigatoriamente mais no curto prazo e no recurso ao<br />
crédito bancário. Contudo com a substituição anunciada da lira, peseta, escudo, franco, etc. as<br />
empresas <strong>de</strong>stes países passaram a po<strong>de</strong>r financiar-se emitindo obrigações <strong>de</strong>nominadas em<br />
EUROS com taxas <strong>de</strong> juro tão baixas quanto as que eram pagas pelas suas congéneres alemãs;<br />
os prémios <strong>de</strong> risco cambial foram eliminados, pelo que em 2000 as emissões <strong>de</strong> obrigações em<br />
EUROS pelas empresas europeias estavam a ser <strong>de</strong>z vezes maiores do que as emissões antes <strong>de</strong><br />
1999 e nas “velhas moedas". Obviamente a procura <strong>de</strong> obrigações <strong>de</strong>nominadas em EUROS teve<br />
<strong>de</strong> se expandir para acolher este aumento substancial da oferta. Antes <strong>de</strong> 1999 os sectores<br />
financeiros funcionavam em termos estreitos, nacionais. Assim, por lei, ou por prudência, as<br />
companhias <strong>de</strong> seguros italianas, os fundos <strong>de</strong> pensão e outras instituições com<br />
“responsabilida<strong>de</strong>s” <strong>de</strong>nominadas em liras tinham que adquiri activos na mesma moeda, o mesmo<br />
se passando com instituições espanholas e dos outros países europeus.<br />
Com a eliminação das múltiplas moedas europeias, as instituições financeiras <strong>de</strong> cada país<br />
pu<strong>de</strong>ram diversificar a s suas carteiras adquirindo activos <strong>de</strong>nominados em EUROS e emitidos por<br />
entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> outros países que não os seus. Esta rápida diversificação criou um novo mercado<br />
gigantesco <strong>de</strong> obrigações <strong>de</strong>nominadas em EUROS, com taxas <strong>de</strong> juros mais baixas e prazos<br />
mais alargados relativamente ao que era então corrente as empresas obterem por via das suas<br />
fontes tradicionais <strong>de</strong> financiamento. Por sua vez, e pelo mundo inteiro, novas emissões <strong>de</strong><br />
obrigações em EUROS encontram-se a par com as novas emissões em dólares, facto a que não é<br />
estranho a Europa ter um exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> transacções correntes e, em conjunto, ser um gran<strong>de</strong><br />
credor. Esta maior disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fundos a longo prazo para as empresas europeias tornoulhes<br />
possível lançar, no último ano, várias operações <strong>de</strong> F&A sobre empresas americanas.<br />
Por outro lado governos e empresas <strong>de</strong> fora da zona EURO <strong>de</strong>cidiram também tomar partido <strong>de</strong>sta<br />
melhoria nos mercados <strong>de</strong> capitais europeus. Devedores não europeus, incluindo <strong>de</strong> países em<br />
<strong>de</strong>senvolvimento, <strong>de</strong>pararam-se com um mercado pronto para acolher emissões <strong>de</strong> obrigações a<br />
taxas <strong>de</strong> juro 1% inferiores às que podiam obter em dólares (nota: na ocasião em que o artigo foi<br />
escrito). Os principais compradores <strong>de</strong>ssa emissões foram instituições financeiras na Europa. Ora<br />
foi exactamente este inesperado aumento das saídas <strong>de</strong> capitais da Europa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong><br />
1999, que tem levado à surpreen<strong>de</strong>nte fraqueza do EURO.<br />
Chegámos, pois, a um aparente paradoxo: o <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> e positiva transformação financeira<br />
Europeia estar a ter como resultado uma <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> na sua nova moeda. Mas este paradoxo não<br />
<strong>de</strong>ve alimentar o <strong>de</strong>sespero acerca do EURO. Com efeito o completar do mercado <strong>de</strong> obrigações<br />
pan-europeu levou a um gigantesco processo – mas um processo instantâneo e não repetível – <strong>de</strong><br />
recomposição das carteiras internacionais <strong>de</strong> obrigações, que apanharam <strong>de</strong> surpresa, quer os<br />
mercados, quer o Banco Central Europeu. Para restaurar a confiança dos mercados e cortar o<br />
“momentum” dos especuladores nos mercados <strong>de</strong> câmbios, o FED e o BCE <strong>de</strong>vem continuar, se<br />
necessário, a intervir em conjunto a fim <strong>de</strong> “trazer” o EURO para valores mais próximos dos que<br />
permitiriam equilibrar a competitivida<strong>de</strong> dos EUA e da Europa reduzindo nesta as pressões<br />
inflacionistas.<br />
Fonte: “Two Si<strong>de</strong>s of the Same Coin”, Ronald McKinon, Financial Times, 28 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 2000.