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Diagnóstico Urbano Socioambiental | Município de Ubatuba - Litoral ...

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em relação ao passado <strong>de</strong> escravidão.” 150<br />

Em Camburi existe três situações distintas, a primeira é que algumas pessoas vieram <strong>de</strong> fora e não se<br />

i<strong>de</strong>ntificam como quilombolas, compraram suas terras antes <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação do território como uma área <strong>de</strong><br />

quilombo, outras pessoas, entretanto, por mais que já estivessem a anos morando no local e terem<br />

genealogia e parentesco com ex-escravos, não quiseram ser reconhecidos como quilombolas; a terceira<br />

situação são os quilombolas que se reconheceram como tal e estão instalados no local <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o abandono da<br />

Fazenda Camburi ; neste terceiro grupo encontramos quilombolas que vieram fugidos <strong>de</strong> outros locais, como<br />

Vale do Ribeira e Rio <strong>de</strong> Janeiro e também os ex-escravos que trabalhavam nas fazendas que posteriormente<br />

foram abandonadas após seu <strong>de</strong>clínio econômico. Sendo assim, os antropólogos comprovam a veracida<strong>de</strong> nas<br />

duas versões sobre a ocupação do território do Camburi, que foi, <strong>de</strong>vido a sua estrutura geográfica, um<br />

reduto para negros fugidos e também teve em sua abrangente área a existência da extinta Fazenda<br />

Camburi. 151<br />

Este processo <strong>de</strong> não i<strong>de</strong>ntificação, por parte <strong>de</strong> alguns integrantes, como <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> ex-escravos<br />

acontece em muitas comunida<strong>de</strong>s quilombolas, <strong>de</strong> acordo com Pacheco <strong>de</strong> Oliveira existe o silenciamento da<br />

memória, que ocorrem principalmente com populações que passaram por experiências opressoras. 152<br />

No Quilombo <strong>de</strong> Itamambuca esta amnésia com relação a história e a condição dos ex-escravos que ali<br />

habitaram também é evi<strong>de</strong>nte. Entretanto existe uma luta política pela titulação do território que está<br />

gerando a construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> quilombolas.<br />

O processo <strong>de</strong> reconhecimento do quilombo <strong>de</strong> Itamambuca esbarra em diversos fatores <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m histórica,<br />

econômica e cultural. O sertão, por ser uma área pouco valorizada na época (a especulação imobiliária na<br />

área litorânea é maior) sofreu <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> 'invasão' e crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado com o fluxo migratório <strong>de</strong><br />

pessoas vindas principalmente <strong>de</strong> Minas Gerais e outras regiões, com culturas e modos <strong>de</strong> vida diferenciados<br />

da população nativa. Esta ocupação <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada, além <strong>de</strong> interferir em diversas aspectos na região, gerou a<br />

criação da Lei <strong>de</strong> Congelamento <strong>de</strong> Núcleos Habitacionais Irregulares (Lei municipal nº 2710/05 – ver relatório<br />

urbanismo) com o intuito <strong>de</strong> conter, fiscalizar e regularizar a situação fundiária li<strong>de</strong>rados pela prefeitura<br />

municipal. Com esta medida a prefeitura evita o crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado mas também impossibilita a<br />

continuida<strong>de</strong> da cultura local, on<strong>de</strong> os pais cediam parte <strong>de</strong> seu terreno para a construção da casa <strong>de</strong> seus<br />

filhos quando estes resolviam se casar.<br />

A situação <strong>de</strong> reconhecimento do Quilombo se agrava ainda mais pela presença <strong>de</strong> duas gran<strong>de</strong>s<br />

proprieda<strong>de</strong>s: a Correias Mercúrio e a Cassanga Administração, além <strong>de</strong> outras glebas <strong>de</strong>fendidas pela<br />

comunida<strong>de</strong> como sendo parte <strong>de</strong> seu território histórico. A presença das duas empresas na região se <strong>de</strong>u <strong>de</strong><br />

maneira paulatina; antigos moradores afirmam que a área ocupada pela empresa Correias Mercúrio é maior<br />

do que a área vendida na época por seus membros familiares, alguns que inclusive trabalharam por alguns<br />

anos na empresa.<br />

No intuito <strong>de</strong> garantir o reconhecimento da área quilombola e a titulação das terras, os <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong><br />

escravos reconhecidos como tal, criaram a Associação <strong>de</strong> Remanescentes do Quilombo do Sertão do<br />

Itamambuca e em conjunto com técnicos da prefeitura e dos Estado <strong>de</strong>limitaram uma área menor do que lhes<br />

é <strong>de</strong> direito, evitando assim gerar brigas e processos <strong>de</strong>masiadamente burocráticos para o objetivo maior da<br />

<strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> seus territórios.<br />

O mesmo acontece nos Quilombos <strong>de</strong> Caçandoca e União dos Morros. Ambos fazem parte <strong>de</strong> uma mesma<br />

região e o processo <strong>de</strong> ocupação e reconhecimento <strong>de</strong>sta área quilombola foi dos mais violentos da região.<br />

Diversas foram as situações <strong>de</strong> agressão <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> fora e também <strong>de</strong> brigas internas da comunida<strong>de</strong>.<br />

Com a especulação imobiliária muitos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> quilombolas ven<strong>de</strong>ram suas terras e saíram do<br />

território. Segundo relatos, consta que com o processo <strong>de</strong> reconhecimento do quilombo muitas famílias<br />

voltaram para exigir seus direitos e gozar dos benefícios <strong>de</strong> ter uma terra em área quilombola, principalmente<br />

as famílias que foram “enganadas” por empresas imobiliárias que além <strong>de</strong> utilizarem áreas maiores do que as<br />

150 RTS – Quilombo Camburi – ITESP-SP pg 10<br />

151 Relatório Técnico Científico - RTS – Quilombo Camburi – ITESP-SP<br />

152 Relatório Técnico Científico sobre os remanescentes da comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Quilombo do Sertão <strong>de</strong> Itamambuca (Cazanga) – ITESP - SP

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