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Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

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implicitamente pró-Talibã, e que tanto apregoam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> optar e tomar partido,<br />

vergam-se perante aquilo que mais <strong>de</strong>veriam odiar: <strong>um</strong>a ditadura comunista. É claro que<br />

Portugal <strong>é</strong> <strong>um</strong> país pequeno e sem po<strong>de</strong>r. É claro, tamb<strong>é</strong>m, que nem sempre se po<strong>de</strong> escapar ao<br />

pragmatismo diplomático. Mas a pequenez e a falta <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r são justamente as condições que<br />

permitem o exercício da coerência e da verticalida<strong>de</strong>. Algu<strong>é</strong>m imagina a Dinamarca ou a<br />

Noruega a fazerem este triste espectáculo à lusitana?<br />

No meio disto tudo, foi saboroso ver o Dalai Lama sorrindo em todas as direcções. Não <strong>é</strong> que eu<br />

nutra simpatia política pela personagem, pois não me agrada a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>um</strong> Estado Tibetano<br />

governado teocraticamente. E embora as platitu<strong>de</strong>s do Budismo sejam menos perniciosas que a<br />

inclinação inquisitorial do Catolicismo, nenh<strong>um</strong>a <strong>de</strong>las tem nada que se meter nos assuntos da<br />

polis. Para tal já basta o absurdo <strong>de</strong> a Igreja Católica ter <strong>um</strong> Estado soberano, o Vaticano, com<br />

voz na cena internacional. O sorriso do Dalai Lama foi, sim, o sorriso <strong>de</strong> quem se confronta<br />

com a hipocrisia: os que ontem apelavam à intervenção em Timor estão-se nas tintas para a<br />

ocupação chinesa do Tibete. O sorriso do Dalai Lama nestes dias em Portugal tinha <strong>um</strong>a dose <strong>de</strong><br />

ironia irresistível: qualquer tentativa <strong>de</strong> apaziguamento por parte <strong>de</strong> <strong>um</strong> político português<br />

tornava-se, assim, pat<strong>é</strong>tica. O ilustre Tibetano parecia dizer: “A mim não me enganas tu (e, “by<br />

the way”, já arranjaste karma negativo suficiente para reencarnares, <strong>um</strong>a vez mais, n<strong>um</strong> político<br />

português)”.<br />

Em Portugal já nem se po<strong>de</strong> dizer “pobrezinhos mas honrados”. Perante <strong>um</strong>a ditadura po<strong>de</strong>rosa<br />

(e que apoia a benem<strong>é</strong>rita coligação internacional contra o terrorismo), arrasta-se a honra pela<br />

lama (“oops”, outra vez...). É que basta <strong>um</strong>a borboleta esvoaçar em Pequim para haver<br />

terramoto em Lisboa.<br />

O Voto Útil<br />

(Webpage, 9.12.01)<br />

Como a<strong>de</strong>rente do Bloco <strong>de</strong> Esquerda (mais: como membro <strong>de</strong> <strong>um</strong> órgão dirigente do mesmo),<br />

po<strong>de</strong>rá parecer perfeitamente natural que apoie a candidatura <strong>de</strong> <strong>Miguel</strong> Portas à Câmara<br />

Municipal <strong>de</strong> Lisboa. Acontece, todavia, que o Bloco <strong>de</strong> Esquerda, embora ass<strong>um</strong>indo a forma<br />

<strong>de</strong> partido político <strong>de</strong> modo a participar na vida política portuguesa, <strong>é</strong> <strong>um</strong> movimento. Quer isto<br />

dizer que não tem nem programa nem disciplina partidários <strong>de</strong>finidos <strong>de</strong> forma estanque. O<br />

movimento alberga <strong>um</strong>a pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> percursos políticos e opiniões. Por isso muitos a<strong>de</strong>rentes<br />

do Bloco e eleitores <strong>de</strong>le próximos se questionaram sobre o possível carácter divisionista da<br />

candidatura à autarquia lisboeta: não votando em João Soares e na aliança PS/PCP, estaríamos a<br />

dividir a esquerda? Estaríamos a oferecer <strong>de</strong> ban<strong>de</strong>ja a Câmara à direita? Não <strong>de</strong>veria o Bloco<br />

ter negociado a sua entrada na coligação? Duas questões <strong>de</strong> fundo, portanto, se colocavam: a<br />

estrat<strong>é</strong>gia da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> própria e das alianças, por <strong>um</strong> lado; o problema do voto útil, por outro.<br />

A primeira foi <strong>de</strong> resposta mais fácil: <strong>um</strong>a candidatura autónoma nas Autárquicas fecha o ciclo<br />

da estreia eleitoral do Bloco. Nas outras eleições provou-se que havia espaço para afirmação<br />

autónoma e que esta afirmação fez mais bem do que mal à esquerda: as propostas dos nossos<br />

programas têm sido sistematicamente incorporadas por outras candidaturas e têm obrigado a <strong>um</strong><br />

trabalho <strong>de</strong> reflexão por parte dos outros partidos <strong>de</strong> esquerda. E o esforço <strong>de</strong> construção <strong>de</strong><br />

programa por parte do Bloco tem conduzido a <strong>um</strong> melhor conhecimento da realida<strong>de</strong> do país,<br />

transformando assim em propostas concretas <strong>de</strong> reformas a nossa visão crítica sobre o estado<br />

das coisas. É na questão do voto útil que, por assim dizer, a porca torce o rabo. É natural que <strong>um</strong><br />

eleitor se sinta confundido, e mesmo dividido entre vários níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão: <strong>de</strong>verei votar em<br />

função dos programas? Deverei votar em função <strong>de</strong> <strong>um</strong>a divisão gen<strong>é</strong>rica entre esquerda e<br />

direita? Deverei votar pensando no cálculo da distribuição <strong>de</strong> lugares na Câmara, garantindo ou<br />

impedindo maiorias absolutas? Deverei votar pensando nas consequências nacionais do voto<br />

autárquico? É impossível respon<strong>de</strong>r taxativamente a qualquer <strong>um</strong>a <strong>de</strong>stas perguntas. E <strong>é</strong><br />

<strong>de</strong>sonesto pedir a <strong>um</strong> eleitor que se pronuncie sobre elas com o seu voto. O que está em causa<br />

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