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Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

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não po<strong>de</strong> ser visto da mesma forma que os outros casos <strong>de</strong> “solidarieda<strong>de</strong> internacionalista” da<br />

velha esquerda. Não se trata <strong>de</strong> <strong>um</strong>a revolução com que se simpatiza – mas que redunda em<br />

ditadura. Não se trata <strong>de</strong> <strong>um</strong> caso <strong>de</strong> nacionalismo libertador – mas que redunda em<br />

nacionalismo xenófobo. Não se trata apenas (embora nunca seja “apenas”) <strong>de</strong> <strong>um</strong> caso <strong>de</strong><br />

direitos h<strong>um</strong>anos. Trata-se da <strong>de</strong>fesa da <strong>de</strong>mocracia, exercida com mais zelo e legitimida<strong>de</strong><br />

naquele “extremo oriente” pós-colonial do que no Oci<strong>de</strong>nte que a inventou.<br />

9.A vergonhosa incapacida<strong>de</strong> da comunida<strong>de</strong> internacional perante os acontecimentos<br />

posteriores ao referendo confirma as críticas em relação à “intervenção” oci<strong>de</strong>ntal no Kosovo. A<br />

morte da ONU e a hegemonia norte-americana nunca ficaram tão claras. Assim como a total<br />

virtualida<strong>de</strong> política, o espírito <strong>de</strong> mercearia sem <strong>é</strong>tica nem “protestantismo”, d<strong>um</strong>a coisa<br />

chamada União Europeia.<br />

10.Tamb<strong>é</strong>m <strong>de</strong>pois do referendo as manifestações <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> em Portugal ganharam<br />

novos contornos. O subtexto nacionalista e católico continua a manifestar-se. Mas <strong>de</strong>sta vez ele<br />

<strong>é</strong> secundarizado por <strong>um</strong> sentimento <strong>de</strong> urgência que dignifica todos. A “unanimida<strong>de</strong>” <strong>é</strong><br />

provisória: trata-se mais <strong>de</strong> dar resposta a essa urgência em intervir, em fazer alg<strong>um</strong>a coisa<br />

perante a miserável <strong>de</strong>missão <strong>de</strong> quem po<strong>de</strong> agir <strong>de</strong> facto. E assim regressamos ao início: temos<br />

<strong>um</strong> país inteiro a refazer-se civicamente a si próprio, graças ao horror no último reduto do<br />

“Imp<strong>é</strong>rio”.<br />

Esperemos que os efeitos <strong>de</strong>stas cambalhotas pós-coloniais do fim <strong>de</strong> s<strong>é</strong>culo sejam<br />

<strong>de</strong>spoletadores, em Portugal, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a revisão da nossa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> histórica e <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

reconstrução da nossa vida cívica como comunida<strong>de</strong>. Esperemos, sobretudo, que Timor-Leste<br />

possa vir a ser <strong>um</strong>a comunida<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong>mocrática e socialmente justa. E que nós<br />

saibamos ajudar a que isso aconteça, para lá das beatitu<strong>de</strong>s da lusofonia. Se não acontecer, <strong>é</strong> o<br />

fim <strong>de</strong> Portugal – o que não <strong>é</strong> nada, comparado com o genocídio <strong>de</strong> <strong>um</strong> povo.<br />

(Texto escrito antes da aceitação pela Indon<strong>é</strong>sia <strong>de</strong> <strong>um</strong>a força internacional <strong>de</strong> paz em Timor).<br />

O Fim do Colonialismo Português<br />

(In<strong>é</strong>dito)<br />

Quase meio s<strong>é</strong>culo <strong>de</strong>pois das outras potências coloniais, o colonialismo português vai chegar<br />

ao fim no ano 2000, com a <strong>de</strong>volução <strong>de</strong> Macau e a In<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> Timor-Leste. Com a<br />

primeira, pensávamos estar a fechar o ciclo com chave <strong>de</strong> ouro – <strong>de</strong> forma pacífica e cordata.<br />

Com a última, fechamos a nossa história colonial com sangue.<br />

A experiência colonial portuguesa – ao longo dos períodos da expansão comercial pelas costas<br />

<strong>de</strong> África e do Índico, do Brasil do açúcar e do ouro, ou da colonização <strong>de</strong> África – não acaba<br />

em 1975. Há que introduzir <strong>um</strong> quarto período: justamente o <strong>de</strong> Macau e, sobretudo, Timor.<br />

Embora a este período pertençam tamb<strong>é</strong>m os acontecimentos nas ex-colónias africanas<br />

subsequentes à <strong>de</strong>scolonização e às in<strong>de</strong>pendências. Po<strong>de</strong>ríamos apelidar este período <strong>de</strong> póscolonial.<br />

Portugal foi “original” na sua experiência histórica no resto do mundo. Em primeiro lugar, o seu<br />

colonialismo foi sui generis, porque colonialismo <strong>de</strong> <strong>um</strong> país pobre e perif<strong>é</strong>rico, por sua vez<br />

“colonizado” por potências mais fortes. Em segundo lugar, ele foi <strong>um</strong> “sobrevivente”,<br />

prolongando-se pelos anos sessenta e setenta. Tragicamente, esta originalida<strong>de</strong> assentava n<strong>um</strong><br />

regime ditatorial na metrópole colonial e n<strong>um</strong>a guerra prolongada nas colónias. Finalmente,<br />

<strong>um</strong>a terceira originalida<strong>de</strong>: o colonialismo acaba porque acaba a ditadura (e vice-versa). As<br />

in<strong>de</strong>pendências das colónias dão-se ao mesmo tempo que <strong>um</strong>a revolução acontece em Portugal.<br />

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