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Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

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foi o mundo colonial luso-brasileiro. Portugal e Brasil, enquanto Estados, po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>vem<br />

comemorar o que enten<strong>de</strong>rem. Mas têm que respon<strong>de</strong>r, tamb<strong>é</strong>m, às vozes críticas que vêm dos<br />

sectores sociais excluídos e que têm outra interpretação da História – a interpretação dos<br />

<strong>de</strong>rrotados. No Brasil, esta atitu<strong>de</strong> surgiu com a pergunta “Comemorar o quê?” feita por<br />

movimentos sociais indígenas, negros e dos sem-terra.<br />

Em Portugal, ningu<strong>é</strong>m fez esta pergunta. Os Estados outrora ligados per<strong>de</strong>ram <strong>um</strong>a bela<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lançarem programas <strong>de</strong> apoio a estes sectores marginalizados. Têm sido outros<br />

Estados (nórdicos, do resto da Europa e da Am<strong>é</strong>rica do Norte) a patrocinar programas que vão<br />

da formação profissional à ajuda t<strong>é</strong>cnica nos assentamentos ou à promoção <strong>de</strong> formas culturais<br />

expressivas. O cenário i<strong>de</strong>al teria, pois, sido: Portugal ass<strong>um</strong>ia a comemoração; mas Portugal<br />

ass<strong>um</strong>ia tamb<strong>é</strong>m erros históricos, a sua condição actual <strong>de</strong> país mais <strong>de</strong>senvolvido,<br />

supostamente civilizado e solidário. Não o fez, e isto <strong>é</strong> imperdoável.<br />

Poucos dias <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> escrever o referido artigo, visitei Cabo Ver<strong>de</strong> pela primeira vez. Trata-se<br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong> lugar extraordinário on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong>ria dizer que foi <strong>um</strong>a partida <strong>de</strong> mau gosto da História<br />

ter ali colocado seres h<strong>um</strong>anos. Só que estes, naquele cenário <strong>de</strong> secura e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>um</strong> História<br />

marcada pela escravatura, souberam construir-se como gente digna e <strong>de</strong> <strong>um</strong>a sensibilida<strong>de</strong> que<br />

nos faz corar <strong>de</strong> vergonha. Passeando pelo interior <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>as ilhas, fui vendo os sinais da<br />

ajuda e da cooperação externas. Muitas vezes vi o nome do Canadá, dos EUA, da Dinamarca, da<br />

Noruega, at<strong>é</strong> do Luxemburgo. Raras vezes o <strong>de</strong> Portugal. <strong>Bem</strong> sei que há cooperação. Mas não<br />

será ela sobretudo baseada na exportação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los burocráticos, administrativos e policiais?<br />

Foi nessas áreas que eu mais senti a “presença portuguesa” e não apenas na arquitectura <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

Cida<strong>de</strong> Velha, a ser recuperada, aliás pelos… espanhóis.<br />

<strong>Bem</strong> sei que a “ajuda”, a “cooperação”, o “<strong>de</strong>senvolvimento” e, at<strong>é</strong> e cada vez mais, as “ONGs”<br />

não são realida<strong>de</strong>s inocentes e isentas <strong>de</strong> culpas ou contradições. Mas continuo a acreditar que<br />

<strong>um</strong> país me<strong>de</strong> o seu grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e, sobretudo, <strong>de</strong> civilização, pela ajuda que <strong>é</strong><br />

capaz <strong>de</strong> distribuir – em casa e fora <strong>de</strong>la. E nisso, o balanço português, 500 anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tudo<br />

o que se celebra, <strong>é</strong> miserável.<br />

Permitam-me, por fim, <strong>um</strong> nota pessoal, mas que vos diz respeito. Essa mesma viagem serviu<br />

<strong>de</strong> período <strong>de</strong> transição para <strong>um</strong>a nova vida – pessoal e profissional – que me leva a ter que<br />

escolher entre o que consigo e não consigo fazer, e bem. Por isso esta <strong>é</strong> a minha última crónica<br />

neste jornal. Fica <strong>um</strong>a dúzia <strong>de</strong> textos que espero terem dito alg<strong>um</strong>a coisa. Da capital, por agora<br />

<strong>é</strong> tudo.<br />

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