13.04.2013 Views

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

medieval na existência da orgnização castrense. Portugal <strong>é</strong> dos poucos países que tem condições<br />

para isso. Porque somos <strong>um</strong> país perif<strong>é</strong>rico, pequeno, não muito rico e integrado <strong>de</strong> <strong>um</strong>a forma<br />

profunda na UE. Em termos estrat<strong>é</strong>gicos não coloca problemas, não tem conflitos (nem sequer<br />

potenciais), e, quanto à sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, há muito que ela está perfeitamente<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das alianças internacionais.<br />

APDH – Quais as críticas que aponta à actual legislação sobre a OC ao SMO?<br />

MVA – As pessoas po<strong>de</strong>m alegar razões religiosas, filosóficas e morais para não c<strong>um</strong>prir o<br />

serviço militar e c<strong>um</strong>prem, em alternativa, <strong>um</strong> Serviço Cívico (SC). Isto levanta várias questões.<br />

Primeiro, o SC <strong>é</strong> <strong>de</strong> duração superior ao SMO, o que já <strong>de</strong> si <strong>é</strong> <strong>de</strong>sprestigiante e penalizador.<br />

Depois, as pessoas que i<strong>de</strong>ológica e politicamente não concordam nem com Forças Armadas,<br />

nem com a disciplina e a forma como o SMO <strong>é</strong> feito, têm <strong>de</strong> recorrer a razões que não são as<br />

verda<strong>de</strong>iras para justificar a sua objecção. Por último, parece-me que existem outras áreas às<br />

quais <strong>de</strong>via ser alargado o conceito <strong>de</strong> OC, nomeadamente à fiscalida<strong>de</strong> – po<strong>de</strong>r dizer que a<br />

percentagem do IRS que vai para a Defesa pu<strong>de</strong>sse ser dirigida, por exemplo, para a<br />

Solidarieda<strong>de</strong> Social.<br />

“Flores do Colonialismo”. Masculinida<strong>de</strong>s n<strong>um</strong>a perspectiva antropológica.<br />

(Ca<strong>de</strong>rnos Pagu – UNICAMP, Brasil, 11, 1998). Por Adriana Piscitelli e Mariza Corrêa<br />

A conversa que aqui apresentamos teve lugar após <strong>um</strong> seminário oferecido na UNICAMP no<br />

qual foram discutidos diversos aspectos dos trabalhos sobre masculinida<strong>de</strong>s do antropólogo<br />

português <strong>Miguel</strong> <strong>Vale</strong> <strong>de</strong> <strong>Almeida</strong>, professor do Departamento <strong>de</strong> Antropologia do Instituto<br />

Superior <strong>de</strong> Ciências do Trabalho e da Empresa – ISCTE. As questões colocadas se relacionam<br />

particularmente a duas <strong>de</strong> suas publicações: Senhores <strong>de</strong> si, <strong>um</strong>a etnografia <strong>de</strong> Pardais, al<strong>de</strong>ia do<br />

Alentejo, no sul <strong>de</strong> Portugal, e a <strong>um</strong>a reflexão crítica sobre esse trabalho.<br />

Mariza – Gostaríamos que você falasse sobre sua trajetória e, particularmente, sobre o contexto<br />

no qual você começou a trabalhar com gênero.<br />

<strong>Miguel</strong> – Eu fiz a graduação em Portugal, o que nós chamamos <strong>de</strong> licenciatura em<br />

Antropologia. Nesta <strong>é</strong>poca estava muito fascinado com o que nós chamamos etnologia<br />

portuguesa, com a preocupação em compreen<strong>de</strong>r o país. Fiz dois trabalhos <strong>de</strong> campo enquanto<br />

estudante, <strong>um</strong> sobre a “Festa dos Rapazes” em Trás os Montes, que <strong>é</strong> <strong>um</strong>a província remota. Em<br />

várias al<strong>de</strong>ias, tem lugar <strong>um</strong>a festa que acontece no “ciclo dos mortos” ou “ciclo do inverno”,<br />

entre o Todos-os-Santos e o Ano Novo ou, alguns casos, o carnaval. É <strong>um</strong>a festa <strong>de</strong> mascarados.<br />

Basicamente trata-se <strong>de</strong> <strong>um</strong>a forma ritual em que os rapazes, querendo com isso dizer<br />

sociologicamente os homens solteiros, majoritariamente jovens (mas <strong>um</strong> homem <strong>de</strong> 60 anos,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que seja solteiro <strong>é</strong> consi<strong>de</strong>rado “rapaz”, não <strong>é</strong> adulto porque não <strong>é</strong> casado), tomam conta<br />

da vida da al<strong>de</strong>ia durante <strong>um</strong> período ritual marcado, tornam-se <strong>um</strong> grupo social predominante<br />

que exerce <strong>um</strong>a autorida<strong>de</strong> fortíssima. Eu, nessa <strong>é</strong>poca, não tinha a mais pequena id<strong>é</strong>ia do que<br />

era gênero, hoje em dia se eu repegasse aquilo, seria fantástico, porque o que <strong>de</strong>fine o po<strong>de</strong>r<br />

ritual dos rapazes <strong>é</strong> a perseguição ritual das mulheres e a segregação dos gêneros durante o<br />

período da festa. Neste caso eles formam <strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong> à parte, saem da casa dos pais, reúnemse<br />

n<strong>um</strong>a casa, que <strong>é</strong> a “Casa dos Rapazes”, comem juntos, cozinham juntos, criam <strong>um</strong>a<br />

socieda<strong>de</strong> hierarquizada com seus símbolos, invertem tudo e chateiam toda a gente, basicamente<br />

as mulheres. Isso foi <strong>um</strong>a primeira experiência riquíssima para mim.<br />

Mariza – Tem a ver com a ausência <strong>de</strong> parceiras para todos os rapazes?<br />

<strong>Miguel</strong> – Provavelmente. Mas tem brechas hegemônicas muito interessantes, como o<br />

surgimento da festa das raparigas. Começou a aparecer na <strong>é</strong>poca em que lá estive...<br />

Mariza – E existem as duas hoje?<br />

<strong>Miguel</strong> – Sim.<br />

221

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!