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Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

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seduzindo-o ou violentando-o. A prática <strong>de</strong> actos pedófilos <strong>é</strong> crime, a homossexualida<strong>de</strong> <strong>é</strong> <strong>um</strong>a<br />

simples orientação sexual. Já basta que o nosso direito estabeleça a homossexualida<strong>de</strong> em actos<br />

sexuais com menores como <strong>um</strong>a agravante em relação à heterossexualida<strong>de</strong> (<strong>um</strong> escândalo<br />

bastas vezes <strong>de</strong>nunciado pela União Europeia e que tem como consequência perversa dizer que<br />

<strong>é</strong> menos grave violar <strong>um</strong>a rapariga...); não precisamos que, ao <strong>de</strong>nunciar os actos pedófilos, se<br />

aju<strong>de</strong> a perpetuar a homofobia. Não precisamos e não po<strong>de</strong>mos permiti-lo.<br />

Finalmente, há <strong>um</strong> assunto <strong>de</strong> que ningu<strong>é</strong>m tem falado: seja qual for a orientação sexual (ou<br />

mesmo nenh<strong>um</strong>a, pois estou em crer que a pedofilia <strong>é</strong> “<strong>um</strong>a coisa em si”) os crimes <strong>de</strong> pedofilia<br />

são cometidos <strong>de</strong> forma esmagadoramente maioritária por homens. Não <strong>é</strong> evi<strong>de</strong>nte, então, que<br />

qualquer coisa <strong>de</strong> errado se passa com a masculinida<strong>de</strong>, pelo menos no seu mo<strong>de</strong>lo mais<br />

tradicional? Não <strong>é</strong> altura <strong>de</strong> serem mobilizados os meios educativos para ajudar a transformar a<br />

masculinida<strong>de</strong> em algo que não tenha que ver com o sexismo, a homofobia ou com o exercício<br />

do po<strong>de</strong>r sobre mulheres, jovens e crianças?<br />

Sexo, Vida e Crianças<br />

(Webpage, 7.12.02)<br />

II – Aborto<br />

Depois da vergonhosa experiência do referendo do aborto – em termos <strong>de</strong> afluência às urnas,<br />

<strong>de</strong>scredibilização do parlamento e, na minha opinião, em termos dos resultados – cada vez mais<br />

pessoas, partidos e movimentos sociais se mobilizam em torno da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>um</strong> novo referendo.<br />

Tal far-se-á atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> <strong>um</strong>a campanha <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong> assinaturas a nível nacional. No campo<br />

favorável ao aborto, como no campo a ele <strong>de</strong>sfavorável, começa a surgir o que po<strong>de</strong>ria parecer<br />

<strong>um</strong>a radicalização, no sentido <strong>de</strong> <strong>um</strong>a clarificação daquilo em que cada campo acredita.<br />

Muitos proponentes do novo referendo, entre os quais me incluo, reconhecem que a estrat<strong>é</strong>gia e<br />

a linguagem adoptadas pelo movimento do “Sim” no último referendo se concentrou na busca<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>nominadores comuns e n<strong>um</strong> discurso <strong>de</strong>masiado assente nas questões <strong>de</strong> dramas sociais. É<br />

altura, a meu ver, <strong>de</strong> nos concentrarmos no que verda<strong>de</strong>iramente interessa: o direito das<br />

mulheres a escolherem prosseguir ou não com <strong>um</strong>a gravi<strong>de</strong>z in<strong>de</strong>sejada e/ou não planeada.<br />

Do lado oposto surgem tamb<strong>é</strong>m sinais <strong>de</strong> “clarificação”, por muito obscurantistas que possam<br />

parecer os arg<strong>um</strong>entos. Des<strong>de</strong> que a esquerda anunciou retomar a questão do aborto e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

se foi percebendo o surgimento <strong>de</strong> <strong>um</strong> movimento por <strong>um</strong> novo referendo, apareceram velhos e<br />

novos grupos “pró-vida” – alguns agora mascarados com <strong>um</strong>a linguagem <strong>de</strong> “movimentos <strong>de</strong><br />

mulheres” – que propõem mesmo <strong>um</strong> recuo em relação à actual lei. Falam já em querer impedir<br />

a prática abortiva por <strong>um</strong>a mulher que tenha engravidado na sequência <strong>de</strong> <strong>um</strong>a violação; falam<br />

<strong>de</strong> direitos do embrião e da “vida”, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a concepção at<strong>é</strong> à morte (querendo proibir a eutanásia<br />

antes ainda <strong>de</strong> esta ter sido discutida). Para serem plenamente coerentes só falta mesmo<br />

proporem a proibição do preservativo por este impedir a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> procriação. Ou proibir<br />

a masturbação masculina, como <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> <strong>um</strong>a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, já agora.<br />

Portugal vive <strong>um</strong>a situação a meu ver retrógrada, fora dos crit<strong>é</strong>rios civilizacionais que <strong>de</strong>finem a<br />

Pessoa (neste caso, a mulher) como soberana em relação ao que acontece ao seu corpo. Por isso<br />

<strong>é</strong> importante ser claro em relação a quase-tabus entre os que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m o aborto: <strong>é</strong> preciso dizer<br />

que o arg<strong>um</strong>ento anti-aborto em torno da questão da “vida” <strong>é</strong> inválido, e não fugir a ele; e <strong>é</strong><br />

preciso dizer que as mulheres têm direito <strong>de</strong> escolha – e não apenas que são vítimas do aborto<br />

clan<strong>de</strong>stino. A este propósito, convido o leitor ou a leitora a prestar atenção ao seguinte excerto:<br />

“As mulheres e os fetos não se po<strong>de</strong>m comparar. Enquanto toda a vida, incluindo a vida do feto,<br />

tem <strong>um</strong> valor, só as pessoas, incluindo as mulheres, têm direitos (...) A evidência científica,<br />

legal, filosófica e histórica indica que os fetos não são pessoas (...) Defen<strong>de</strong>mos a vida se<br />

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