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Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

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globalização são nefastos, pois vemos como a comunicação e a universalização <strong>de</strong> certos<br />

valores <strong>de</strong> cidadania permitem novas formas articuladas <strong>de</strong> reacção por parte <strong>de</strong> quem se sente<br />

excluído.<br />

Ningu<strong>é</strong>m faz a mais pequena i<strong>de</strong>ia do caminho que as coisas vão seguir. Sabemos que temos<br />

problemas muito concretos, e todos <strong>de</strong> natureza global: o <strong>de</strong>sequilíbrio ecológico; a explosão<br />

<strong>de</strong>mográfica; o acentuar da exclusão social, serão os mais evi<strong>de</strong>ntes e prementes. Por outro lado,<br />

a crise dos sistemas <strong>de</strong> representação política <strong>de</strong>mocrática, a transformação dos cidadãos em<br />

cons<strong>um</strong>idores-espectadores, são tendências preocupantes. Finalmente, o fim das infelizes<br />

experiências socialistas, a <strong>de</strong>silusão com os projectos <strong>de</strong> libertação nacional no terceiro mundo,<br />

a perda <strong>de</strong> direitos e regalias conquistados na <strong>é</strong>poca industrial, e a hegemonia dos Estados<br />

Unidos, contribuem para <strong>um</strong>a sensação <strong>de</strong> impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transformação positiva. E ainda<br />

se po<strong>de</strong>ria acrescentar que o sujeito fragmentado, mobilizável apenas por i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s muito<br />

parcelares (como ser gay, negro, s<strong>é</strong>rvio ou o que seja) não parece ser muito propenso à junção<br />

<strong>de</strong> forças para contrariar a tendência global contemporânea.<br />

A não ser que... A não ser que a forma <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r os problemas económicos, sociais e<br />

políticos, se renove: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, fazendo <strong>um</strong>a crítica feroz das anteriores experiências <strong>de</strong><br />

libertação e <strong>de</strong>sconfiando das utopias sociais, quer as libertadoras, quer a que nos querem agora<br />

ven<strong>de</strong>r – a da globalização-salvação; <strong>de</strong> seguida, analisando o mundo <strong>de</strong> formas mais ricas,<br />

criativas e complexas (por exemplo, percebendo que <strong>um</strong>a questão <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

económico só po<strong>de</strong> ser tamb<strong>é</strong>m <strong>um</strong>a questão <strong>de</strong> ecologia); e por fim, “dando a volta” às “armas”<br />

ao nosso dispor (por exemplo, as tecnologias <strong>de</strong> informação e comunicação), dando azo a novas<br />

formas <strong>de</strong> mobilização que reintegrem as preocupações sociais (<strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> recusa moral<br />

da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>), com as preocupações culturais e i<strong>de</strong>ntitárias, (<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> diferença e recusa<br />

da padronizção) – e vice-versa.<br />

Não vão ser uns anos bonitos, os primeiros do s<strong>é</strong>culo XXI. Vão ser anos confusos, egoístas e<br />

contraditórios, próprios <strong>de</strong> quem está a apalpar, <strong>um</strong> pouco às escuras, a mecânica <strong>de</strong> <strong>um</strong> novo<br />

mundo. No auge da revolução industrial, <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> e controverso pensador dizia que os<br />

filósofos tinham que <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> só pensar o mundo e <strong>de</strong>veriam ajudar a transformá-lo. Agora,<br />

nestes começos da era pós-industrial e pós-mo<strong>de</strong>rna, <strong>é</strong> na transformação das nossas vidas e do<br />

mundo que nos ro<strong>de</strong>ia que <strong>de</strong>scobriremos as pistas para pensar o mundo.<br />

Cadê o híbrido?<br />

(Revista Ícon, 25.02.00)<br />

A palavra híbrido está na boca do mundo cosmopolita, o que se vê a si mesmo como pósmo<strong>de</strong>rno,<br />

celebrando fragmentos, múltiplas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. Mas há <strong>um</strong>a história complicada por<br />

<strong>de</strong>trás da palavra “híbrido”. Na viragem do s<strong>é</strong>culo, os “senhores da palavra” (m<strong>é</strong>dicos,<br />

antropólogos, escritores, políticos) lançavam sinais <strong>de</strong> alarme: o hibridismo era contra-natura,<br />

<strong>de</strong>struiria as nações, impediria o progresso. A mistura criaria coisas in<strong>de</strong>finidas e est<strong>é</strong>reis, como<br />

mulas e, por extensão, “mulatos”. Destruiria a or<strong>de</strong>m das classificações. Os nossos dicionários,<br />

que se actualizam com a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> burocrata, mantêm ainda o travo <strong>de</strong>sses tempos:<br />

O Moraes <strong>de</strong> 1891 refere “Hybrido” (do Grego hybris) como “Animal gerado <strong>de</strong> duas esp<strong>é</strong>cies.<br />

Irregular, anómalo, monstruoso”. E o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa <strong>de</strong> Jos<strong>é</strong><br />

Pedro Machado (1952), <strong>de</strong>fine-o como “tudo o que exce<strong>de</strong> a medida, excesso; orgulho,<br />

insolência; ardor excessivo, impetuosida<strong>de</strong>, exaltação; ultraje, insulto, injúria, sevícia; (…) o<br />

produto do cruzamento <strong>de</strong> porca com javali; o filho <strong>de</strong> pais <strong>de</strong> diferentes regiões ou <strong>de</strong><br />

condições diversas”. Por fim, o Dicionário <strong>de</strong> Sinónimos da Porto Editora permite-nos glosar<br />

“híbrido” como “ambígeno, anómalo, irregular, mestiço, monstruoso”.<br />

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