13.04.2013 Views

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

impressão que esse limite se relaciona com a maneira como você pensa a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Uma<br />

segunda pergunta refere-se a como você trata as feminilida<strong>de</strong>s. Você mostra como operam a<br />

masculinida<strong>de</strong> hegemônica e as subalternas. Nesse sentido, o trabalho <strong>é</strong> relacional. Mas não<br />

vejo <strong>um</strong> equivalente em termos <strong>de</strong> feminilida<strong>de</strong>s hegemônica, se po<strong>de</strong>mos chamá-la assim, e<br />

subalterna.<br />

<strong>Miguel</strong> – A primeira coisa que disseste <strong>é</strong> <strong>um</strong>a crítica e <strong>é</strong> <strong>um</strong>a crítica válida, eu concordo<br />

contigo.<br />

Adriana – Não <strong>é</strong> exatamente <strong>um</strong>a crítica. É <strong>um</strong>a questão suscitada por problemas que temos,<br />

muitos dos que trabalhamos com gênero. Descolamos masculinida<strong>de</strong>s e feminilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

homens e mulheres, mas apenas at<strong>é</strong> certo ponto. No material sobre empresários com o qual<br />

trabalho, por exemplo, percebo que quando se quer <strong>de</strong>svalorizar, ou colocar <strong>um</strong> empresário n<strong>um</strong><br />

ranking inferior <strong>de</strong> prestígio, ele <strong>é</strong> feminilizado. Mas me pergunto qual <strong>é</strong> a fronteira entre a<br />

feminilização e a corporificação <strong>de</strong> <strong>um</strong>a masculinida<strong>de</strong> subalterna. On<strong>de</strong> está, nesses casos, o<br />

limite entre o masculino e o feminino! Isso coloca <strong>um</strong> problema analítico. Pensando em seu<br />

livro, acho que talvez isso que vejo como <strong>um</strong> problema tenha relação com a maneira que você<br />

conceitualiza a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />

<strong>Miguel</strong> – Esse <strong>é</strong> <strong>um</strong> problema meu. A questão <strong>de</strong> <strong>de</strong>scolar a masculinida<strong>de</strong> e a feminilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

homens e mulheres <strong>é</strong> <strong>um</strong>a boa estrat<strong>é</strong>gia, permite colocar as coisas no campo da produção <strong>de</strong><br />

sentido, no campo do simbólico, sem que o simbólico seja entendido no sentido estruturalista,<br />

ou seja, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a coisa <strong>de</strong>sancorada da realida<strong>de</strong> processual das relações sociais e das<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, e acho que não tive o cuidado suficiente em marcar isso, porque muitas pessoas<br />

interpretaram o feminino e o masculino como símbolos no sentido baixo da palavra símbolo,<br />

que <strong>é</strong> qualquer coisa que se cola, e a minha id<strong>é</strong>ia não era essa, a minha id<strong>é</strong>ia era o símbolo como<br />

algo constitutivo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Qual <strong>é</strong> o problema que surge aqui? É o problema do<br />

antropólogo e <strong>é</strong> <strong>um</strong> problema dos informantes. Primeiro, porque os informantes não têm,<br />

obviamente, o conceito <strong>de</strong> separação entre feminilida<strong>de</strong> e masculinida<strong>de</strong>. e homens e mulheres,<br />

para eles a visão <strong>é</strong> essencialista, o mo<strong>de</strong>lo do senso com<strong>um</strong> <strong>é</strong> essencialista. O problema para o<br />

antropólogo <strong>é</strong> que ele não escapa completamente a esse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> senso com<strong>um</strong> essencialista,<br />

quando ele quer procurar masculinida<strong>de</strong>s, mesmo ass<strong>um</strong>indo que elas <strong>de</strong>scolam <strong>de</strong> homens e<br />

mulheres concretos, o que ele faz? Vai falar com os homens... eu fui falar com os homens, todo<br />

problema vem daqui, quer dizer, todo problema vem da estrat<strong>é</strong>gia metodológica <strong>de</strong> pensar que<br />

conseguiria <strong>de</strong>scolar, como tu dizes, as duas coisas apesar <strong>de</strong> interagir com os homens<br />

especificamente. A confusão <strong>é</strong> muito gran<strong>de</strong> por causa da minha participação no mo<strong>de</strong>lo<br />

hegemônico, quer dizer, eu participo daquele mo<strong>de</strong>lo, então a “<strong>de</strong>scolagem” em relação a ele <strong>é</strong><br />

extremamente dificil. Segunda coisa: como eu tentei, e ainda tento, dar a volta nisso? Foi<br />

atrav<strong>é</strong>s da seguinte id<strong>é</strong>ia, e tu colocaste muito bem: se eu falo – a partir do Connell – <strong>de</strong><br />

masculinida<strong>de</strong>s hegemônica e subalternas, será que há feminilida<strong>de</strong> hegemônica e feminilida<strong>de</strong>s<br />

subalternas? Porque disso ningu<strong>é</strong>m fala... Esse <strong>é</strong> que era o problema, que tem muito a ver com o<br />

conceito <strong>de</strong> simetria, ou seja, o que eu procurei fazer foi criar <strong>um</strong> universo falso, como todos os<br />

universos laboratoriais <strong>de</strong> pesquisa, <strong>um</strong> universo falso em que <strong>de</strong>ntro do universo masculino, no<br />

sentido essencialista do termo – homens – , eu pu<strong>de</strong>sse perceber as diferenças sutis <strong>de</strong><br />

masculinida<strong>de</strong>s, que me permitissem dizer que apesar <strong>de</strong> serem homens no sentido que nós não<br />

conseguimos sair <strong>de</strong>le, essencialista (<strong>de</strong>sta noção absolutamente impregnada em nós, que <strong>é</strong><br />

distinguirmos os seres h<strong>um</strong>anos pelo dimorfismo sexual, não conseguimos!) Foi atrav<strong>é</strong>s do<br />

convívio e do contato com homens <strong>de</strong>finidos no sentido essencialista, baseado no dimorfismo<br />

sexual, reconhecendo que isso <strong>é</strong> tamb<strong>é</strong>m <strong>um</strong>a construção cultural, perceber, apesar <strong>de</strong> tudo, as<br />

diferenças entre hegemonia e subalternida<strong>de</strong> e entre mo<strong>de</strong>los diversos que pu<strong>de</strong>ssem surgir.<br />

Aon<strong>de</strong> isso conduz? Conduz à id<strong>é</strong>ia <strong>de</strong> que provavelmente a hegemonia não <strong>é</strong> <strong>um</strong> sistema<br />

dicotômico, ou seja, não há hegemonia masculina e hegemonia feminina, mas sim hegemonia<br />

masculina e todo o resto, que inclui as feminilida<strong>de</strong>s e as masculinida<strong>de</strong>s) subalternas, que<br />

po<strong>de</strong>m ser várias, basta a orientação sexual para introduzir diferença.<br />

Adriana – Algo que me preocupa são os limites estabelecidos pelo material empírico no<br />

contexto pesquisado. Tamb<strong>é</strong>m me pergunto se os aspectos que me parecem problemáticos na<br />

225

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!