13.04.2013 Views

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Um Santo Natal para todos vós, como agora se diz nas televisões (e não só na Rádio<br />

Renascença).<br />

Notícias da Frente<br />

(Webpage, 8.01.03)<br />

A Frente Nacional<br />

A excelentíssima senhora presi<strong>de</strong>nte da Câmara Municipal <strong>de</strong> Felgueiras foi presa. Se tudo<br />

correr bem na <strong>de</strong>mocracia portuguesa em 2003, muitos e muitas excelentíssimos e<br />

excelentíssimas senhores e senhoras presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Câmaras Municipais serão presos. Assim<br />

como os excelentíssimos presi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> clubes <strong>de</strong> futebol e os excelentíssimos presi<strong>de</strong>ntes das<br />

administrações <strong>de</strong> muitas construtoras civis. Temporariamente sentir-se-ão alguns efeitos<br />

perturbadores: a confiança na classe política diminuirá; o entusiasmo clubístico será perturbado<br />

por dúvidas; menos pr<strong>é</strong>dios serão construídos (com materiais <strong>de</strong>feituosos, sobre leitos <strong>de</strong> cheia,<br />

e a preços exorbitantes); e, provavelmente, menos droga circulará pelas ruas, menos armas serão<br />

traficadas para Angola e menos mulheres brasileiras, ucranianas e outras serão exploradas em<br />

boîtes <strong>de</strong> alterne.<br />

Que o PSD possa estar a fazer a sua caça aos PSs não augura nada <strong>de</strong> bom. Que os autarcas do<br />

PSD com culpas no cartório possam vir a escapar, tão pouco. Que o PS não consiga reconhecer<br />

o erro <strong>de</strong> ter dado confiança política às Fátimas Felgueiras, ainda menos. Não tenhamos ilusões:<br />

esta ainda não <strong>é</strong> a operação mãos limpas que todos <strong>de</strong>sejamos. E o que aconteceu com Maria<br />

Jos<strong>é</strong> Morgado só nos po<strong>de</strong> fazer tremer. Cardona e Portas <strong>de</strong>liciam-se com estes casos,<br />

enquanto os seus (casos) morrem no esquecimento nacional. Fátima Felgueiras po<strong>de</strong>rá bem ser<br />

<strong>um</strong> caso <strong>de</strong> fogo fátuo: cria-se a ilusão <strong>de</strong> que se está a proce<strong>de</strong>r a <strong>um</strong>a operação mãos limpas,<br />

para que esta possa abortar logo no primeiro caso e se crie a ilusão <strong>de</strong> que se está a mexer<br />

nalg<strong>um</strong>a coisa.<br />

Uma percentagem ínfima <strong>de</strong> portugueses paga impostos. São sobretudo as empresas e as<br />

pessoas <strong>de</strong> maiores rendimentos que escapam ao fisco. O resultado disto <strong>é</strong> que os cofres do<br />

Estado ficam vazios. Para contornar a situação, o governo não se lembra <strong>de</strong> fazer <strong>um</strong>a reforma<br />

fiscal. Faz uns remendos promocionais graças aos quais consegue 10% daquilo que <strong>de</strong>veria<br />

receber. E vai-nos avisando que tempos maus se aproximam. Traduzido, isto quer dizer duas<br />

coisas: que estamos “<strong>de</strong> tanga” porque nos portámos mal (votando no PS ou porque gastámos<br />

acima das nossas possibilida<strong>de</strong>s), e que vamos pagar por isso. A analogia entre <strong>um</strong> país e <strong>um</strong>a<br />

família <strong>é</strong> não só estúpida como perigosa. Pela simples razão <strong>de</strong> que quem vai pagar pela crise<br />

são as pessoas que, <strong>de</strong> qualquer modo, não têm meios para escapar com o rabo à seringa: os<br />

trabalhadores por conta <strong>de</strong> outrem que recebem pouco e pagam necessariamente os impostos<br />

atrav<strong>é</strong>s dos <strong>de</strong>scontos nos or<strong>de</strong>nados, e não toda a gente, como aconteceria n<strong>um</strong>a “família”. Mas<br />

a nossa família <strong>é</strong> especial: nela os pais <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m que a crise <strong>de</strong>ve ser paga pondo as crianças a<br />

fazerem trabalho infantil. A retórica do governo usa dois truques velhos como o mundo: o<br />

primeiro <strong>é</strong> criar a ilusão <strong>de</strong> que somos todos <strong>um</strong>a família e iguais entre iguais; o segundo <strong>é</strong><br />

culpar as vítimas, neste caso os incompetentes, pouco produtivos e gastadores trabalhadores<br />

portugueses.<br />

A Frente Internacional<br />

Na frente internacional, Bush consegue a proeza <strong>de</strong> justificar o ataque iminente ao Iraque, on<strong>de</strong><br />

ainda não se comprovou a existência <strong>de</strong> armas nucleares ou químicas, e <strong>de</strong> não se preocupar<br />

com a Coreia do Norte, <strong>um</strong> gulag gerido por loucos perigosos. Mas provavelmente a maior<br />

proeza <strong>de</strong> Bush <strong>é</strong> conseguir que, pela primeira vez, <strong>um</strong> idiota com po<strong>de</strong>r seja apreciado por<br />

po<strong>de</strong>rosos com idiocia: basta ver o chorrilho <strong>de</strong> asneiras nos apoios à política <strong>de</strong> Bush por parte<br />

<strong>de</strong> editorialistas, directores <strong>de</strong> jornais, comentadores <strong>de</strong> TV. Ainda não perceberam que, antes<br />

146

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!