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Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

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que são os LGBTs (<strong>um</strong> homem burguês e branco). Com o acrescido perigo <strong>de</strong> as questões da<br />

luta LGBT ficarem isoladas das pontes <strong>de</strong> ligação com outras questões sociais.<br />

Neste contexto a globalização <strong>é</strong> <strong>um</strong> perigo – na sua vertente neo-liberal – e <strong>um</strong>a oportunida<strong>de</strong> –<br />

na sua vertente alternativa. O ataque neo-liberal trata com equida<strong>de</strong> todos os segmentos que têm<br />

algo a per<strong>de</strong>r. E todos estes segmentos po<strong>de</strong>m reinventar formas <strong>de</strong> luta, no quadro <strong>de</strong> propostas<br />

<strong>de</strong> globalização alternativa. Vejamos alguns exemplos. Alguns dos traços característicos do<br />

ataque global neo-liberal são a privatização e <strong>de</strong>smantelamento do Estado-providência e dos<br />

direitos nos sectores do trabalho, saú<strong>de</strong> e educação; o <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>namento das relações globais,<br />

promovendo o conflito armado, cavando o fosso entre ricos e pobres, <strong>de</strong>ixando surgir políticas<br />

racistas, xenófobas e anti-imigração. Como corolário <strong>de</strong> tudo isto, a i<strong>de</strong>ologia capitalista na sua<br />

versão mais retrógrada <strong>é</strong> transformada em senso com<strong>um</strong> e em interpretação naturalista e<br />

essencialista da própria natureza h<strong>um</strong>ana.<br />

Todos estes aspectos afectam seriamente as comunida<strong>de</strong>s e pessoas LGBT. Um ensino não<br />

público e não laico <strong>é</strong> <strong>um</strong> ensino contra a diversida<strong>de</strong> sexual; <strong>um</strong> sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> não estatal<br />

privilegiará não as pessoas mas as famílias e “estabilida<strong>de</strong>s” mais conservadoras; a<br />

<strong>de</strong>sregulamentação no trabalho afectará sobretudo mulheres e pessoas facilmente<br />

discrimináveis. Nas relações globais, os LGBTs serão cada vez mais vítimas dos<br />

fundamentalismos nas latitu<strong>de</strong>s excluídas do contrato global, e do neo-conservadorismo nos<br />

centros imperiais (afectando nomeadamente os imigrantes, com as leis impedindo<br />

reagrupamentos familiares -, que <strong>de</strong> qualquer modo, excluem já os LGBTs). O cons<strong>um</strong>o e o<br />

lucro como motivações da existência (e não como os prazeres legítimos e pr<strong>é</strong>mios que po<strong>de</strong>m<br />

ser) privilegiarão os sectores do mercado gay normativizado, afastando cada vez mais o cidadão<br />

LGBT com<strong>um</strong> que não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido nem como rico, nem como afluente, nem como<br />

hedonista. Como a dupla moral continua a funcionar, este estereótipo servirá ainda mais para<br />

reforçar a homofobia, por parte da direita, ou para a remissão das questões LGBT para o plano<br />

secundário das “priorida<strong>de</strong>s”, por parte da esquerda.<br />

Vivemos n<strong>um</strong> mundo em que a cidadania e o contrato social se <strong>de</strong>vem fazer segundo duas<br />

linhas inseparáveis: a busca <strong>de</strong> mais igualda<strong>de</strong> e menor <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>; a promoção <strong>de</strong> diferença e<br />

diversida<strong>de</strong>. As duas interpenetram-se. A esquerda <strong>de</strong>ve tomar consciência disto e não po<strong>de</strong>, no<br />

mundo do capitalismo neo-liberal globalizado e do pós-“socialismo”, pensar em priorida<strong>de</strong>s. Os<br />

movimentos LGBT não po<strong>de</strong>m seguir <strong>um</strong>a estrat<strong>é</strong>gia comunitarista isolada, nem <strong>um</strong>a <strong>de</strong>missão<br />

atrav<strong>é</strong>s da simples cultura do cons<strong>um</strong>o: <strong>de</strong>vem articular-se com os outros segmentos sociais<br />

afectados quer pela crise da esquerda quer pelo ataque do capitalismo neo-liberal. Mas a<br />

esquerda “geral” <strong>de</strong>ve ass<strong>um</strong>ir d<strong>um</strong>a vez por todas que as alternativas à actual situação no nosso<br />

mundo passam por alianças com sectores como o LGBT, on<strong>de</strong> se encontram empresários e<br />

operários, brancos e negros, homens e mulheres, vivendo exclusões tão diversificadas e<br />

sobrepostas quanto quaisquer outras. Será por acaso que o movimento LGBT tem marcado forte<br />

presença nos Foruns Sociais nacionais e mundial por <strong>um</strong>a globalização alternativa? Não creio: o<br />

carácter transnacional da cultura LGBT terá sem dúvida contribuido para isso.<br />

Finalmente, n<strong>um</strong> contexto como o português, e dada a pouca margem <strong>de</strong> manobra nas <strong>de</strong>cisões<br />

económicas ao nível nacional, <strong>é</strong> <strong>de</strong> esperar que a direita e extrema direita no po<strong>de</strong>r utilizem<br />

<strong>de</strong>magogicamente a família, a sexualida<strong>de</strong> e a sua visão estreita <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong> para<br />

promoverem <strong>um</strong> ataque que, começando por populações concretas e aparentemente minoritárias<br />

– como os LGBTs – tem como fim atingir todo o pensamento e todas as forças progressistas.<br />

Os Prós e os Contras do Casino<br />

(Webpage, 24.10.02)<br />

O programa “Prós e Contras” da RTP 1 <strong>de</strong>u o verda<strong>de</strong>iro tiro <strong>de</strong> partida para a questão do casino<br />

no Parque Mayer. A razão <strong>é</strong> óbvia: hoje em dia as coisas acontecem quando são faladas na TV.<br />

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