13.04.2013 Views

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

para, atrav<strong>é</strong>s do neo-conservadorismo, promover <strong>um</strong> fechamento ao mundo (aos Outros, à<br />

Europa, à Diferença etc.) que permita a expansão ainda maior do neo-liberalismo. Já não se trata<br />

do conservadorismo nacionalista à antiga que serviria para reforçar o estado nação <strong>de</strong> modo a<br />

proteger o mercado dom<strong>é</strong>stico (isso <strong>é</strong> o que eles querem que pensemos). Trata-se sim <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

forma <strong>de</strong> diminuir e mesmo <strong>de</strong>smantelar o Estado-providência <strong>de</strong> modo a facilitar os fluxos dos<br />

mercados globais. Que isto seja feito por supostos católicos <strong>é</strong>, no mínimo, moralmente triste:<br />

estamos nas mãos <strong>de</strong> <strong>um</strong> universo <strong>de</strong> banqueiros beatos ou beatos banqueiros aliados a capangas<br />

do futebol e das câmaras, promovidos por magnatas dos media.<br />

No geral e em m<strong>é</strong>dia, como se cost<strong>um</strong>a dizer, vivemos melhor do que em 1974? Vivemos, sim<br />

senhor. Como provavelmente teríamos vivido, tivesse, por absurdo, a “primavera” Marcelista<br />

continuado at<strong>é</strong> hoje. Mas não vivemos tão bem como seria legítimo esperar n<strong>um</strong> país que, em<br />

quase 30 anos, teve as três gran<strong>de</strong>s oportunida<strong>de</strong>s: a <strong>de</strong>mocracia, a integração na UE e <strong>um</strong>a<br />

governação socialista.<br />

A Questão LGBT e a Esquerda<br />

(Webpage, 4.10.02)<br />

<strong>Este</strong> texto <strong>é</strong> três-em-<strong>um</strong>: <strong>é</strong> <strong>um</strong> contributo para <strong>um</strong>a discussão no grupo LGBT do Bloco <strong>de</strong><br />

Esquerda; <strong>é</strong> o esqueleto para <strong>um</strong>a intervenção na Conferência da ILGA-Europe a realizar-se este<br />

mês em Lisboa; e, claro, <strong>é</strong> <strong>um</strong> texto para todos vós, embora n<strong>um</strong>a linguagem diferente da <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong>a crónica.<br />

Confrontamo-nos ainda com <strong>um</strong> preocupante consenso em torno do suposto carácter<br />

“secundário” das questões e lutas LGBT. O consenso dá-se entre pessoas “comuns” e pessoas<br />

envolvidas em activismos políticos e sociais; entre esquerdas e direitas; e, infelizmente, entre<br />

heterossexuais e LGBTs. Essa secundarização consiste basicamente no seguinte: as questões<br />

LGBT seriam questões do foro íntimo ou individual; as questões LGBT não seriam prioritárias<br />

quando comparadas com outras questões sociais; as questões LGBT seriam resolvidas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

outras o serem, e por causa disso; as questões LGBT seriam questões <strong>de</strong> moda, sentidas por<br />

meia dúzia <strong>de</strong> pessoas cujas necessida<strong>de</strong>s básicas esariam à partida resolvidas.<br />

Estas i<strong>de</strong>ias são falsas, enganadoras e perigosas. São-no sobretudo no campo mais progressista<br />

ou da esquerda. At<strong>é</strong> porque muitos dos arg<strong>um</strong>entos <strong>de</strong> direita mais não são do que arg<strong>um</strong>entos<br />

<strong>de</strong> senso com<strong>um</strong>, sobrevivendo na esquerda menos esclarecida, quando esta tem a obrigação <strong>de</strong><br />

expandir a aplicação do seu pensamento crítico a todas as áreas da vida social.<br />

No centro do problema está <strong>um</strong>a aparente dificulda<strong>de</strong> com que se confrontam tanto a socieda<strong>de</strong><br />

em geral como os movimentos LGBT: a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que as questões LGBT seriam “meras”<br />

questões <strong>de</strong> sexualida<strong>de</strong>. É sabido que a sexualida<strong>de</strong> tem sido objecto <strong>de</strong> fortes tabus na nossa<br />

civilização. Mas a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> introduziu dois factores significativos: por <strong>um</strong> lado, a<br />

sexualida<strong>de</strong> foi tornada no centro da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> individual, na caixa negra que revela o<br />

verda<strong>de</strong>iro individuo; por outro, existe <strong>um</strong> paradoxal incitamento à sexualida<strong>de</strong> e ao prazer, a<br />

par com a continuação <strong>de</strong> tabus sobre o que <strong>é</strong> e não <strong>é</strong> legítimo. Longe <strong>de</strong> ser <strong>um</strong>a “mera”<br />

questão, a sexualida<strong>de</strong> <strong>é</strong> <strong>um</strong>a questão nuclear. Isto torna os movimentos LGBT em movimentos<br />

centrais do mundo contemporâneo, porque a sexualida<strong>de</strong> <strong>é</strong> <strong>um</strong> assunto político e não individual,<br />

colocando a agenda LGBT no cerne da forma como se constituem as subjectivida<strong>de</strong>s,<br />

politizando a própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> – <strong>um</strong>a pr<strong>é</strong>-condição para o exercício <strong>de</strong> <strong>um</strong>a cidadania que não<br />

se res<strong>um</strong>a ao “negócio” <strong>de</strong> vantagens e contrapartidas, no mo<strong>de</strong>lo clássico da política partidária<br />

como representação <strong>de</strong> classes sociais ou no mo<strong>de</strong>lo clássico do sindicalismo.<br />

A sexualida<strong>de</strong> <strong>é</strong> indissociável <strong>de</strong> duas estruturas sociais e <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r contemporâneas: o g<strong>é</strong>nero e<br />

a família. As transformações nas relações <strong>de</strong> g<strong>é</strong>nero cost<strong>um</strong>am ser referidas em torno <strong>de</strong> direitos<br />

cívicos das mulheres e em torno <strong>de</strong> direitos laborais. Sem dúvida que são centrais. Mas<br />

128

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!