13.04.2013 Views

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

soa que faz <strong>um</strong>a coisa e <strong>é</strong> o melhor naquela coisa e passa a vida a trabalhar sobre aquela coisa.<br />

Gosto <strong>de</strong> trabalhar em vários registos: a antropologia, a ficção, a intervenção. Quis logo publicar<br />

tudo o que tinha para marcar o terreno. Não <strong>é</strong> aquela coisa <strong>de</strong> fazer xixi nos cantos e dizer: “<strong>Este</strong><br />

canto agora <strong>é</strong> meu”. É justamente o contrário, <strong>é</strong> dizer: “Eu estou pulverizado”. E não vou usar<br />

pseudónimos para as diferentes coisas.<br />

– Corre-se o risco <strong>de</strong> arrastar para <strong>um</strong>a área o peso, o prestígio, a pol<strong>é</strong>mica que o nome tem<br />

noutra.<br />

– Corre-se. Mas acho que isso faz ruídos interessantes. Prefiro esse ruído a divisões muito<br />

certinhas.<br />

– Eu diria que você tem as coisas muito arr<strong>um</strong>adas, pelo menos na forma como as apresenta. É<br />

or<strong>de</strong>nado mentalmente?<br />

– Sou bastante. Tenho-as or<strong>de</strong>nadas como projecto. Quando tu organizas mentalmente acaba por<br />

ser <strong>um</strong> projecto, porque o que vais fazendo <strong>é</strong> <strong>um</strong>a coisa mais salganhada. Mas tenho <strong>um</strong>a<br />

tendência <strong>de</strong> organização, mental, fisica, espacial, bastante forte. Ao contrário do que <strong>é</strong> moda<br />

dizer agora, neste tempos “New Age”, tenho <strong>um</strong> enorme respeito pela racionalida<strong>de</strong>, e <strong>um</strong><br />

enorme respeito pelas emoções.<br />

– Tem-se em conta mais como ser pensante ou ser sensível?<br />

– Não consigo fazer dicotomia entre as duas coisas. Não concebo, nomeadamente <strong>um</strong> cientista,<br />

a fazer <strong>um</strong> trabalho cuidadoso que não seja com gosto. Se <strong>é</strong> feito com gosto, já <strong>é</strong> emotivo. E<br />

<strong>de</strong>testo a palermice do elogio da emoção pura, normalmente dá maus resultados.<br />

– Que importância atribui à intuição?<br />

– Há muitas áreas em que a intuição <strong>é</strong> a gran<strong>de</strong> chave, no sentido da aposta aleatória, “cheirame<br />

que <strong>é</strong> isto”, e arrisca-se. Na pesquisa científica, sobretudo na nossa área, <strong>é</strong> muito assim que<br />

funciona. A posteriori, quando reflectes sobre ti próprio, percebes que as intuições são tanto<br />

melhores quanto mais, antes <strong>de</strong>las, tiveres feito trabalho racional. É como o talento, precisa <strong>de</strong><br />

ser trabalhado.<br />

– Que talentos gostaria <strong>de</strong> ter?<br />

– O da música, que <strong>é</strong> o que não tenho mesmo. É o mais fascinante <strong>de</strong> todos. A música <strong>é</strong><br />

abstracção pura, <strong>é</strong> o único ponto <strong>de</strong> união entre a racionalida<strong>de</strong> e a emoção. Mas não sou<br />

comprador <strong>de</strong> discos, não tenho opções musicais.<br />

– Em casa não tem <strong>um</strong> canto para os discos?<br />

– De todo, <strong>é</strong> <strong>um</strong>a mis<strong>é</strong>ria. São livros atrás <strong>de</strong> livros. E tento controlar-me porque não gosto <strong>de</strong><br />

ter muitos objectos.<br />

– O que mais gosta e menos gosta em si?<br />

– O que menos gosto, e tenho a certeza absoluta, <strong>é</strong> a pressa. Às vezes <strong>é</strong> muito elogiada e<br />

admirada pelas outras pessoas, o que me <strong>de</strong>ixa parvo porque tenho a sensação contrária. É <strong>um</strong>a<br />

pressa imatura em publicar, em dizer, em escrever, em revelar coisas. Não sei <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vem mas<br />

espero vir a per<strong>de</strong>r.<br />

– Como sinal <strong>de</strong> maturida<strong>de</strong>?<br />

– Sim, invejo muito as pessoas que dizem: “Não vou publicar isto porque não está totalmente<br />

bom” ou “Ainda preciso <strong>de</strong> mais dois anos para acabar aquilo”.<br />

– Essa urgência <strong>de</strong> fazer, publicar, dizer, não <strong>é</strong> <strong>um</strong> bocadinho narcísica?<br />

– É <strong>um</strong> bocado. Essa palavra <strong>é</strong> perigosa, porque tem <strong>um</strong>a acepção popular extremamente<br />

pejorativa.<br />

– Como se dissesse: “Olhem para mim, olhem para mim..?<br />

240

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!