13.04.2013 Views

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

R. -Isso passou muito mais pelo facto <strong>de</strong> para mim este objecto ser tão estranho, tão necessário<br />

<strong>de</strong> ser explicado que nem precisava <strong>de</strong> <strong>um</strong> outro complemento. O g<strong>é</strong>nero não <strong>é</strong> especificamente<br />

sobre homens concretos e mulheres concretas. É sobre o masculino e o feminino. E <strong>de</strong>pois tem a<br />

ver com razões extremamente pragmáticas. A dificulda<strong>de</strong> que, n<strong>um</strong> contexto como este – e isto<br />

diz muito sobre a própria masculinida<strong>de</strong>, sobre o próprio objecto <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>ste trabalho -, para<br />

<strong>um</strong> homem que <strong>é</strong> visto como parecido com os outros entrar no chamado mundo feminino. De<br />

facto, a clivagem entre esses mundos <strong>é</strong> bastante forte. E feita <strong>de</strong> formas muito marcadas, em<br />

termos espaciais, relacionais, temporais, discursivos, tudo o que se quiser.<br />

P. – Teria sido mais fácil para <strong>um</strong>a antropóloga?<br />

R. – Pessoalmente continuo a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r que neste momento <strong>é</strong> muito mais fácil para <strong>um</strong>a antropóloga<br />

fazer trabalho <strong>de</strong> campo seja on<strong>de</strong> for, sobretudo sobre questões <strong>de</strong> g<strong>é</strong>nero. Embora<br />

muitas antropólogas passem por alguns processos dificeis <strong>de</strong> marcação, porque estão ali<br />

sozinhas n<strong>um</strong>a al<strong>de</strong>ia, no entanto o que acontece <strong>é</strong> que muito mais rapidamente as mulheres<br />

antropólogas são marcadas como homens simbólicos, isto completamente entre aspas. Ou seja,<br />

por via do seu estatuto <strong>de</strong> doutoras, e portanto são aceites muito facilmente pelos homens, at<strong>é</strong><br />

porque elas estão no espaço <strong>de</strong> representação pública, são aceites como participantes. Com<br />

alguns limites, <strong>é</strong> evi<strong>de</strong>nte. E po<strong>de</strong>m sempre entrar no universo feminino, pela inerência que <strong>é</strong><br />

feita nestes contextos.<br />

Entrevista com <strong>Miguel</strong> <strong>Vale</strong> <strong>de</strong> <strong>Almeida</strong>. (Primeira Impressão, Jornal da Associação <strong>de</strong><br />

Estudantes do ISCTE, 05.95)<br />

<strong>Miguel</strong> <strong>Vale</strong> <strong>de</strong> <strong>Almeida</strong> <strong>é</strong> antropólogo. Estudou nos Estados Unidos. Escreve no “Público” aos<br />

domingos. E participa na Política XXI. Fomos ouvi-lo.<br />

Primeira Impressão – ISCTE: Nesta <strong>de</strong>signação não se subenten<strong>de</strong> o ensino da Sociologia e,<br />

sobretudo, <strong>de</strong> Antropologia. Não lhe parece?<br />

<strong>Miguel</strong> <strong>Vale</strong> <strong>de</strong> <strong>Almeida</strong> – Penso que <strong>é</strong> <strong>um</strong>a questão subjectiva. Cria certos problemas <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> que são particularmente visíveis quando nos <strong>de</strong>slocamos a congressos – sobretudo<br />

nos <strong>de</strong> Antropologia, mas a questão tamb<strong>é</strong>m se coloca nos <strong>de</strong> Sociologia. Por exemplo, quando<br />

tentamos traduzir a <strong>de</strong>signação para outra língua ou não faz qualquer sentido, ou fica <strong>de</strong>masiado<br />

colada às ciências empresariais – ao “management” -, o que dá <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>ia distorcida do que <strong>é</strong>,<br />

realmente o ISCTE. Acho que a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> mudar a <strong>de</strong>signação para “Faculda<strong>de</strong> das Ciências<br />

Sociais e Empresariais” seria bastante interessante: por <strong>um</strong> lado a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> “Faculda<strong>de</strong>” <strong>é</strong><br />

mais nobre que a <strong>de</strong> “Instituto Superior”; e por outro, <strong>é</strong> <strong>um</strong>a <strong>de</strong>signação mais real, dada a<br />

existência <strong>de</strong> ciências sociais e ciências empresarias. Agora, existe <strong>um</strong> problema: trata-se do<br />

património que o nome “ISCTE” já tem, <strong>de</strong> prestígio associado a esta <strong>de</strong>signação. De qualquer<br />

forma, acho que este problema <strong>é</strong> resolúvel. Em s<strong>um</strong>a, se se tem qualida<strong>de</strong> e se se consegue<br />

continuar a comprovar o prestígio que <strong>é</strong> atribuído, o novo nome ass<strong>um</strong>e o prestígio já<br />

anteriormente garantido.<br />

P.I. – Temos assistido nos últimos anos a <strong>um</strong> processo gradual <strong>de</strong> massificação do ensino<br />

superior, que tem sido alvo <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>as críticas. Pensa que existe <strong>um</strong>a contradição, necessária,<br />

entre a quantida<strong>de</strong> e a qualida<strong>de</strong> no ensino? Há <strong>um</strong>a “cultura inculta” nas Universida<strong>de</strong>s?<br />

M.V.A. – Por vezes as coisas são colocadas <strong>de</strong> <strong>um</strong>a forma menos correcta. Por exemplo, o livro<br />

<strong>de</strong> Allan Bloom, “A Cultura Inculta”, tem i<strong>de</strong>ias com as quais eu concordo, nomeadamente no<br />

ataque que ele faz à onda do “politicamente correcto”, como <strong>um</strong>a nova forma <strong>de</strong> obscurantismo,<br />

apesar <strong>de</strong> com ele se preten<strong>de</strong>r <strong>um</strong>a libertação. Agora, on<strong>de</strong> ele erra (e ele fala do ensino<br />

superior norte-americano) <strong>é</strong> na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que o ensino superior foi massificado. De facto, o<br />

ensino norte-americano – que eu conheço – não foi massificado. O erro <strong>de</strong>le <strong>é</strong> viver<br />

enclausurado no meio acad<strong>é</strong>mico e esquecer-se que a tremenda maioria dos americanos não<br />

chega à Universida<strong>de</strong>. Isto <strong>é</strong>, o próprio mundo que ele acusa <strong>de</strong> estar massificado <strong>é</strong> tremendamente<br />

elitista. No caso português, eu acho que <strong>é</strong> arriscado entrar n<strong>um</strong>a crítica imediata da<br />

massificação. Neste sentido, a massificação <strong>é</strong> <strong>de</strong>sejável: <strong>é</strong> que ainda não aconteceu a abertura do<br />

209

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!