13.04.2013 Views

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

As organizações do movimento gay e l<strong>é</strong>sbico português convocaram <strong>um</strong>a conferência <strong>de</strong><br />

imprensa para <strong>de</strong>sfazer as confusões entre pedofilia e homossexualida<strong>de</strong> que têm surgido na<br />

comunicação social <strong>de</strong> forma mais ou menos explícita ou implícita. Aproveitaram a ocasião para<br />

entregar aos jornalistas <strong>um</strong>a esp<strong>é</strong>cie <strong>de</strong> glossário <strong>de</strong> termos LGBT (para acrescentar aos livros<br />

<strong>de</strong> estilo das redacções – das que o têm, claro...) e <strong>um</strong>a esp<strong>é</strong>cie <strong>de</strong> sugestão <strong>de</strong> código<br />

<strong>de</strong>ontológico no tratamento <strong>de</strong> questões <strong>de</strong> orientação sexual.<br />

Pensam que isto teve alg<strong>um</strong> efeito? Pois, se sim, retirai vossos equí<strong>de</strong>os da pluviosida<strong>de</strong>. Dias<br />

<strong>de</strong>pois, Rodrigo Gue<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Carvalho fazia suas as palavras <strong>de</strong> <strong>um</strong> entrevistado com<br />

responsabilida<strong>de</strong>s na Casa Pia, dizendo que era inadmissível haver pessoas homossexuais<br />

naquela instituição, exercendo influência nefasta sobre as crianças.<br />

Eles (os Rodrigos, as Rodrigas e toda a pletora <strong>de</strong> Rodriguinhos) nem se apercebem do que<br />

dizem. A pequenez retrógrada <strong>de</strong> <strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong> vê-se nestas coisas, quando a hegemonia <strong>é</strong><br />

tão... hegemónica que as pessoas nem sequer fazem <strong>de</strong> propósito para excluir os outros ou<br />

ajudar à sua exclusão. A gente lá se vai queixando com uns comunicados e uns mails, mas<br />

pensam que eles percebem sequer <strong>de</strong> que <strong>é</strong> que nos queixamos? Não. Quando muito acham-nos<br />

paranóicos e <strong>de</strong>volvem a acusação: somos nós que passamos a ser uns obcecados hist<strong>é</strong>ricos,<br />

engajados na criação <strong>de</strong> clivagens sociais que não têm razão <strong>de</strong> ser n<strong>um</strong>a socieda<strong>de</strong> tolerante e<br />

<strong>de</strong> bons cost<strong>um</strong>es, on<strong>de</strong> ningu<strong>é</strong>m <strong>é</strong> excluído ao contrário <strong>de</strong>ssas coisas horrorosas que são os<br />

países <strong>de</strong>senvolvidos on<strong>de</strong> <strong>é</strong> crime <strong>de</strong> incitamento ao ódio (como com expressões racistas) dizer<br />

coisas daquelas na TV. Eu se fosse homem (sim, se fosse homem), heterossexual e bem-na-vida<br />

tamb<strong>é</strong>m achava isso.<br />

Os fundamentalistas católicos dão-me cabo dos nervos<br />

Com a maior das calmas, o ministro da educação e o governo em geral dizem que a concessão<br />

ao Movimento <strong>de</strong> Defesa da Vida do direito <strong>de</strong> dar aulas <strong>de</strong> educação sexual <strong>é</strong> apenas <strong>um</strong>a<br />

questão <strong>de</strong> pluralismo e liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> projectos educacionais. Tanta asneira junta! Isto <strong>é</strong> o<br />

resultado <strong>de</strong> <strong>um</strong> novo senso com<strong>um</strong> que a direita está a estabelecer e que se res<strong>um</strong>e na i<strong>de</strong>ia<br />

fantasiosa <strong>de</strong> que, primeiro, são as “famílias” que têm priorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> direitos na educação das<br />

crianças; segundo, que <strong>de</strong>ve haver “escolha” <strong>de</strong> projectos educativos para os rebentos;<br />

“terceiro”, que a educação sexual faz parte <strong>de</strong>sse menu <strong>de</strong> escolhas.<br />

Porque <strong>é</strong> que isto <strong>é</strong> errado e perigoso? Primeiro, porque a educação não <strong>é</strong> apanágio da família<br />

coisa nenh<strong>um</strong>a. É tamb<strong>é</strong>m da família. Mas, como as crianças são cidadãos potenciais, a<br />

educação <strong>é</strong> tamb<strong>é</strong>m apanágio do Estado, da socieda<strong>de</strong> em geral, <strong>de</strong> toda a gente com quem as<br />

crianças contactam, dos media, etc, etc. Segundo, porque o nosso Estado <strong>é</strong> laico, com clara<br />

separação entre igrejas e Estado. Sendo a Católica maioritária e ligada ao Vaticano, nem sequer<br />

há a mais remota justificação para <strong>um</strong> apoio estatal aos seus projectos i<strong>de</strong>ológicos: ela que<br />

pague os col<strong>é</strong>gios on<strong>de</strong> livremente os pais coloquem as suas crianças, ela que ofereça educação<br />

gratuita para os pobres na esperança <strong>de</strong> perpetuar entre os mais fracos a irracionalida<strong>de</strong> dos<br />

dogmas eclesiais. Por muito que isso me dê urticária, <strong>de</strong>vo aceitá-lo. Mas a igreja terá que o<br />

fazer no respeito por programas escolares que reflictam <strong>um</strong> projecto <strong>de</strong> República com<br />

cidadania, igualda<strong>de</strong> e laicida<strong>de</strong>.<br />

Finalmente, a educação sexual tem a ver com a formação <strong>de</strong> indivíduos livres e autónomos,<br />

informados sobre a realida<strong>de</strong>. Isso inclui saber o que <strong>é</strong> a contracepção, saber o que são doenças<br />

sexualmente transmissíveis, saber o que <strong>é</strong> a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolher entre sexualida<strong>de</strong>s,<br />

orientações sexuais, etc., sob o único e singelo princípio do mútuo consentimento informado.<br />

Tudo o resto <strong>é</strong> i<strong>de</strong>ologia violentadora das pessoas, começando pelo confessionalismo do MDV.<br />

<strong>Este</strong> movimento não <strong>é</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte: está ligado aos M<strong>é</strong>dicos Católicos, à Opus Dei, aos<br />

movimentos anti-aborto e anti-escolha, e promove m<strong>é</strong>todos <strong>de</strong> contracepção falíveis e absurdos,<br />

junto com mo<strong>de</strong>los da relações e família marcados pelas opções fundamentalistas, patriarcais e<br />

heterossexistas <strong>de</strong> <strong>um</strong>a religião específica. Não se trata <strong>de</strong> haver vários mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> valores à<br />

160

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!