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Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

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passado. Esses outros não somos nós, não temos culpa imediata. Mas como vivemos n<strong>um</strong><br />

colectivo que se representa a si próprio constantemente, por exemplo sob a forma da política,<br />

temos obrigação <strong>de</strong> fazer qualquer coisa para que as coisas mu<strong>de</strong>m.<br />

NM – Ass<strong>um</strong>ir o outro como igual não <strong>é</strong> não lhe perdoar nada nem aceitar acusação alg<strong>um</strong>a que<br />

não releve da minha relação com ele?<br />

MVA – Acho que tem razão em termos na relação inter-pessoal. Mas assim que se sai <strong>de</strong>ssa<br />

relação há outro nível que <strong>é</strong> o da implicação colectiva, que implica a História. E não nos livramos<br />

disso.<br />

Secção TV. Entrevista: <strong>Miguel</strong> <strong>Vale</strong> <strong>de</strong> <strong>Almeida</strong>. A Antropologia dá bons filmes. Diário <strong>de</strong><br />

Notícias, 07.00, por João <strong>Miguel</strong> Tavares.<br />

<strong>Este</strong>ve oito meses no Brasil a estudar os movimentos negros. Com alg<strong>um</strong> do material, <strong>Vale</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Almeida</strong> fez <strong>um</strong> doc<strong>um</strong>entário. Chama-se “O Espelho <strong>de</strong> África” e <strong>é</strong> a primeira (boa) aventura<br />

<strong>de</strong> <strong>Miguel</strong> <strong>Vale</strong> <strong>de</strong> <strong>Almeida</strong> pelos doc<strong>um</strong>entários. Conversa com <strong>um</strong> antropólogo profissional e<br />

<strong>um</strong> realizador amador.<br />

DN – Gostava que explicasse o processo que o conduziu a O Espelho <strong>de</strong> África. Como <strong>é</strong> que <strong>um</strong><br />

antropólogo se transformou em doc<strong>um</strong>entarista?<br />

MVA – Comecei por ir para o Brasil fazer pesquisa antropológica. Foi <strong>um</strong>a permanência curta,<br />

<strong>de</strong> apenas oito meses, e por isso tive <strong>de</strong> me concentrar n<strong>um</strong> assunto mais fechado: o surgimento<br />

organizado do movimento negro em Ilh<strong>é</strong>us [cida<strong>de</strong> do estado da Baía]. No meio da pesquisa fui<br />

utilizando a câmara <strong>um</strong> pouco como bloco <strong>de</strong> notas, e, a certo altura, achei que ali havia<br />

material que po<strong>de</strong>ria resultar n<strong>um</strong> doc<strong>um</strong>entário.<br />

DN – Porque <strong>de</strong>cidiu utilizar a câmara <strong>de</strong> filmar em vez do gravador?<br />

MVA – Eu usei as várias t<strong>é</strong>cnicas: tenho muita coisa escrita e em áudio. Mas aqui <strong>é</strong> muito<br />

importante distinguir o que <strong>é</strong> o projecto <strong>de</strong> pesquisa e o que <strong>é</strong> o doc<strong>um</strong>entário. O doc<strong>um</strong>entário<br />

não po<strong>de</strong> ter <strong>um</strong> discurso científico – seria <strong>de</strong>sastroso e <strong>de</strong>sagradável <strong>de</strong> ver. Portanto, ele <strong>é</strong><br />

outra coisa: fi-lo, em primeiro lugar, para retribuir, já que tem muito mais efeito na população<br />

local que <strong>um</strong> livro escrito; <strong>de</strong>pois, para evocar, sensibilizar o público, mas <strong>de</strong> modo alg<strong>um</strong> para<br />

analisar – esse vai ser o trabalho da escrita.<br />

DN – Quando <strong>é</strong> que <strong>de</strong>cidiu gravar em ví<strong>de</strong>o os <strong>de</strong>poimentos?<br />

MVA – O uso da câmara começou por acaso. Nalg<strong>um</strong>as situações comecei a fimar e <strong>de</strong>pois fi-lo<br />

cada vez mais, porque resultava bem nas relações com as pessoas.<br />

DN – Isso <strong>é</strong> estranho. À primeira vista, a câmara parece <strong>um</strong> objecto mais intimidatório que <strong>um</strong><br />

gravador.<br />

MVA – Naquele caso, senti exactamente o contrário. A câmara ajudou a <strong>um</strong>a mediação muito<br />

mais franca entre investigador e investigado. Hoje em dia ela <strong>é</strong> muito bem reconhecida pelas<br />

pessoas na sua função. Mesmo que sejam analfabetas, elas estão completamente metidas na<br />

cultura audiovisual. Sabem que <strong>um</strong>a câmara serve para fazer televisão, conhecem o produto<br />

final, e são capazes <strong>de</strong> performar diante <strong>de</strong>la.<br />

DN – Quando começou a filmar já pensava realizar <strong>um</strong> doc<strong>um</strong>entário?<br />

MVA – A partir <strong>de</strong> dada altura achei que dava para fazer alg<strong>um</strong>a coisa. Mas alg<strong>um</strong>a coisa era<br />

aproveitar o material para fins pedagógicos; <strong>um</strong> produto lateral que pu<strong>de</strong>sse mostrar em<br />

contextos fechados.<br />

DN – Sei que consi<strong>de</strong>ra o doc<strong>um</strong>entário, sobretudo, <strong>um</strong> trabalho <strong>de</strong> antropólogo. Não po<strong>de</strong>ria<br />

ser feito por <strong>um</strong> jornalista?<br />

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