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Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

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correspon<strong>de</strong>r às expectativas sociais e culturais geradas pelo simples visl<strong>um</strong>bramento, à<br />

nascença, da presença ou ausência <strong>de</strong> <strong>um</strong> pequeno apêndice na zona púbica).<br />

Raça:<br />

Nenh<strong>um</strong>a. Consoante as circunstâncias, branco, mediterrânico, mulato ou negro.<br />

Completamente branco face aos imigrantes negros em Portugal; Mediterrânico face aos<br />

europeus do Norte; mulato ou negro em contextos on<strong>de</strong> a negritu<strong>de</strong> seja <strong>um</strong> sinal estatutário <strong>de</strong><br />

inferiorida<strong>de</strong> relativa. Categoria não utilizada oficialmente em Portugal, <strong>de</strong> modo a po<strong>de</strong>r ser<br />

usada selvaticamente nas interacções quotidianas, entrevistas <strong>de</strong> emprego, distribuição espacial<br />

da habitação e imaginário sexual.<br />

Orientação sexual 15[12] :<br />

Pan-sexual em estado <strong>de</strong> homossexualida<strong>de</strong> (no comments). Categoria não utilizada<br />

oficialmente em Portugal, <strong>de</strong> modo a po<strong>de</strong>r ser usada selvaticamente nas interacções<br />

quotidianas, entrevistas <strong>de</strong> emprego, distribuição do prestígio machista-patriarcal e imaginário<br />

sexual.<br />

Religião:<br />

Nenh<strong>um</strong>a. Inescapável, todavia, a doutrinação cristã-católica indirecta, dada a influência <strong>de</strong>ssa<br />

religião nas estruturas sociais e nas leis do Estado.<br />

(Religião: forma ing<strong>é</strong>nua <strong>de</strong> tentar resolver a angústia da morte e o mist<strong>é</strong>rio do sentido da vida;<br />

segundo alguns autores, forma <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> enganosa que sustenta organizações <strong>de</strong> tráfico <strong>de</strong><br />

influências isentas <strong>de</strong> impostos).<br />

(Categoria <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação não utilizada oficialmente em Portugal, <strong>de</strong> modo a po<strong>de</strong>r ser<br />

naturalizada como aspecto inquestionável da cultura portuguesa, garantindo assim <strong>um</strong>a posição<br />

<strong>de</strong> monopólio no mercado das igrejas).<br />

Profissão:<br />

Antropólogo, investigador e docente universitário.<br />

(Profissão: <strong>de</strong>signação usada para encaixar as pessoas n<strong>um</strong> lugar certo da divisão social do<br />

trabalho. Não confundir com “emprego”, a activida<strong>de</strong> remunerada para po<strong>de</strong>r comprar batatas,<br />

<strong>um</strong> elemento grátis da natureza mas ao qual <strong>é</strong> atribuído valor pelo trabalho h<strong>um</strong>ano necessário à<br />

sua reprodução em quantida<strong>de</strong> suficiente – ou insuficiente... – para fornecer o mercado 16[13] ).<br />

(Antropólogo: pessoa que insiste em consi<strong>de</strong>rar a variabilida<strong>de</strong> das formas <strong>de</strong> vida social;<br />

intelectual potencialmente perigoso por duvidar da natureza divina da tribo a que pertence;<br />

indivíduo propenso a questionar as categorias da página <strong>de</strong> Dados Pessoais <strong>de</strong> <strong>um</strong> Curricul<strong>um</strong><br />

Vitae; pessoa que per<strong>de</strong> tempo a escrever textos como este).<br />

Residência:<br />

Lisboa<br />

(Residência: forma <strong>de</strong> o Estado (mas tamb<strong>é</strong>m o mercado) garantirem o acesso aos indivíduos,<br />

sabendo on<strong>de</strong> estão e como consomem).<br />

(Lisboa: pequena cida<strong>de</strong> ou aglomerado <strong>de</strong> al<strong>de</strong>ias, <strong>de</strong>sorganizada e suja, vendida a<br />

especuladores imobiliários e habitada por pessoas que cospem no chão, excessivamente<br />

elogiada na sua beleza e encanto por escritores que não hesitariam em viver em Paris ou<br />

Londres se lhes fosse dada a possibilida<strong>de</strong>).<br />

(Destino turístico <strong>de</strong> Europeus e Espanhóis interessados em sl<strong>um</strong>ming (do Ing. sl<strong>um</strong>, bairro <strong>de</strong><br />

lata), a activida<strong>de</strong> que consiste em observar o terceiro mundo sem apanhar malária e po<strong>de</strong>ndo<br />

regressar rapidamente ao conforto caseiro).<br />

15[12] Designação para a preferência erótica por corpos e pessoas com <strong>um</strong>a das duas características sexuais<br />

secundárias referidas em “sexo”. Forma subversiva <strong>de</strong> contornar o imperativo reprodutivo assente no<br />

casamento <strong>de</strong> duas pessoas <strong>de</strong> sexo diferente, contra a vonta<strong>de</strong> da cultura, da religião do fundador do<br />

calendário e dos ocupantes dos aparelhos do Estado. Em Portugal: forma não subversiva <strong>de</strong> usufruir do<br />

sexo sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> arrecadar os divi<strong>de</strong>ndos da obediência às regras do casamento.<br />

16[13] Na <strong>é</strong>poca contemporânea, termo utilizado para substituir “Socieda<strong>de</strong>” e, em certas circunstâncias e<br />

meios, “Religião”. Entida<strong>de</strong> imanente e intangível, com leis incognoscíveis, caracterizada pela sua<br />

omnipresença, omnipotência e omnisciência, representada na Terra por sacerdotes outrora conhecidos<br />

como “Mercadores”.<br />

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