Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida
Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida
Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
pressão nos joelhos, etc. Na China, vêem-se os velhotes a fazer isto <strong>de</strong> manhã, o que faz <strong>um</strong><br />
bocado <strong>de</strong> impressão. Por acaso, nunca quis apren<strong>de</strong>r a filosofia do Tai Chi nem ler nenh<strong>um</strong><br />
texto sobre isso. Quis apren<strong>de</strong>r com o corpo, pois tem a ver com coisas que me interessam em<br />
termos <strong>de</strong> investigação”.<br />
2º – Morada na Internet – The Most Wanted Paintings, <strong>de</strong> Komar e Melamid (http://<br />
www.diacenter.org)<br />
“A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>stes senhores foi <strong>de</strong>scobrir o protótipo do quadro mais <strong>de</strong>sejado e do mais <strong>de</strong>testado<br />
pelas pessoas. Em vez <strong>de</strong> mostrarem quadros, o que eles fizeram foi <strong>um</strong> inqu<strong>é</strong>rito com <strong>um</strong>a s<strong>é</strong>rie<br />
<strong>de</strong> entradas e <strong>de</strong> categorias. A partir daí, eles fazem <strong>um</strong> compósito das categorias que entram<br />
mais. O que <strong>é</strong> curioso <strong>é</strong> que em todo o mundo o quadro mais <strong>de</strong>sejado <strong>é</strong> praticamente o mesmo:<br />
<strong>um</strong>a paisagem naturalista que <strong>um</strong>a pessoa po<strong>de</strong>ria reconhecer com a palavra piroso. Estão lá<br />
sempre <strong>um</strong>a montanha, água, <strong>um</strong>a floresta, <strong>um</strong>a árvore, e quase sempre <strong>um</strong> animal. O que muda<br />
<strong>é</strong>, sobretudo, o ambiente do quadro, que <strong>é</strong> ou mais sombrio, ou <strong>um</strong> pouco mais l<strong>um</strong>inoso. O<br />
curioso <strong>é</strong> que po<strong>de</strong>mos ver o quadro-base escolhido por cada país e tamb<strong>é</strong>m po<strong>de</strong>mos respon<strong>de</strong>r<br />
ao inqu<strong>é</strong>rito. Esta exposição já esteve cá em Portugal, mas o interessante <strong>é</strong> que está sempre<br />
acessível na Internet. Para o nosso País, eles encomendaram o inqu<strong>é</strong>rito ao Centro <strong>de</strong> Arte<br />
Mo<strong>de</strong>rna da Gulbenkian. Quanto ao quadro mais <strong>de</strong>testado, acaba por ser sempre <strong>um</strong>a<br />
abstracção formal. A Internet <strong>é</strong> <strong>um</strong>a coisa <strong>um</strong> bocado tola, não <strong>é</strong> tão interessante como parece<br />
(em Portugal <strong>é</strong> estupidamente cara), mas o que mais gosto <strong>é</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir este tipo <strong>de</strong> coisas. A<br />
esta morada, por exemplo, cheguei lá por sugestão <strong>de</strong> outra pessoa”.<br />
3º – S<strong>é</strong>rie televisiva – Reviver O Passado em Bri<strong>de</strong>shead – RTP2<br />
“Vejo sempre. É fabuloso. É mesmo muito bom, muito melhor do que o livro, que era muito<br />
fraco. Trata-se <strong>de</strong> <strong>um</strong>a s<strong>é</strong>rie que me marcou muito, pois vi-a pela primeira vez quando tinha<br />
para aí uns 15 anos. Logo nessa altura fiquei vidrado. A partir daí, tornou-se <strong>um</strong> objecto <strong>de</strong><br />
culto. Naquela altura teve muito sucesso, pois não havia televisões privadas e as coisas<br />
consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong> “qualida<strong>de</strong>” eram vistas por mais pessoas do que hoje. Como havia menos<br />
escolha, havia mais empatia. Reviver o Passado em Bri<strong>de</strong>shead <strong>é</strong> <strong>um</strong>a s<strong>é</strong>rie <strong>de</strong> referência, a<br />
começar pelo trabalho dos actores e por todo aquele conservadorismo narrativo muito<br />
agradável. Hoje, <strong>de</strong> forma alg<strong>um</strong>a a s<strong>é</strong>rie está datada. E o que admiro nesta história <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong><br />
<strong>é</strong> toda a sua ambiguida<strong>de</strong>, pois nunca se percebe se <strong>é</strong> tamb<strong>é</strong>m <strong>um</strong>a história <strong>de</strong> amor”.<br />
O que anda a fazer?<br />
“Neste momento, lancei <strong>um</strong> livro <strong>de</strong> contos chamado Quebrar em Caso <strong>de</strong> Emergência. Mas a<br />
minha vida <strong>é</strong> ocupada pela Antropologia. Agora estou a mudar <strong>de</strong> tema (<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter feito <strong>um</strong>a<br />
investigação no Alentejo sobre questões relacionadas com a masculinida<strong>de</strong>) e vou começar a<br />
fazer trabalho <strong>de</strong> campo no Brasil em torno <strong>de</strong> questões que têm a ver com o corpo (sobretudo<br />
raça e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural). Portanto, vou lidar com a est<strong>é</strong>tica do corpo, com a raça, o modo<br />
como a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> das pessoas <strong>é</strong> percepcionada atrav<strong>é</strong>s do corpo em diferentes classes sociais e<br />
em diferentes grupos raciais. Depois, espero publicar. O meu interesse <strong>é</strong> que este meu novo<br />
trabalho seja utilizado aca<strong>de</strong>micamente e, por outro lado, a partir <strong>de</strong>ssa experiência, escrever <strong>de</strong><br />
<strong>um</strong> modo mais h<strong>um</strong>anista e que tivesse a ver com <strong>um</strong> certo romance <strong>de</strong> “estar lá”. Gostava <strong>de</strong><br />
conseguir utilizar <strong>um</strong>a linguagem que nem fosse acad<strong>é</strong>mica nem romanesca, <strong>um</strong>a linguagem<br />
acima das duas!”<br />
Secção “Ao passo do Homem”. A Aprendizagem dos Corpos. Diário <strong>de</strong> Notícias, Ma<strong>de</strong>ira,<br />
24.05.97<br />
AO PASSO DO HOMEM: Tem estudado a importância do corpo nas relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Quais<br />
os resultados da sua investigação?<br />
218