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Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

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e, <strong>é</strong> claro, tudo isto só po<strong>de</strong> acontecer com o estrangulamento do carácter imperial dos EUA e o<br />

seu exercício do unilateralismo. A própria ameaça terrorista – que, repito, não <strong>é</strong><br />

significativamente maior hoje do que o era há trinta anos, a não ser pelo facto lateral <strong>de</strong> ter<br />

atingido Nova Iorque – só será contida quando os EUA <strong>de</strong>ixarem <strong>de</strong> promover terror, ditaduras<br />

e exploração por esse mundo fora.<br />

Alguns pensarão que com outro governo nos EUA as coisas serão diferentes. As coisas serão<br />

certamente diversas, com nuances. Mas não serão estruturalmente diferentes enquanto os EUA<br />

forem <strong>um</strong>a economia <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do esforço militar e <strong>um</strong>a megapotência sem contenção<br />

exterior.<br />

E que po<strong>de</strong>mos fazer enquanto a guerra – ou a batalha, aliás – durar? Duas ou três coisas.<br />

Primeiro, não acreditar em nada do que as TVs dizem e procurar fontes <strong>de</strong> informação<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e alternativas (<strong>de</strong> que a Net, felizmente, está cheia). Segundo, responsabilizar<br />

este governo <strong>de</strong> Portugal pelo seu alinhamento com a política americana, preparando o terreno<br />

para o punir seriamente nas próximas eleições europeias, on<strong>de</strong> a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>um</strong>a Europa<br />

<strong>de</strong>mocrática, pacífica e solidária <strong>de</strong>ve ser reforçada. Não foi isso que se viu na manif <strong>de</strong> sábado,<br />

on<strong>de</strong> Durão Barroso não era o principal alvo – e <strong>de</strong>veria ter sido. Terceiro, ultrapassar os<br />

espartilhos partidários e prestar atenção a novas formas <strong>de</strong> articulação que vão surgindo – entre<br />

partidos <strong>de</strong> esquerda, mas tamb<strong>é</strong>m nas suas margens e nos movimentos sociais. Tão pouco foi<br />

isso que se viu no sábado, com o vergonhoso e <strong>de</strong>sesperado “apanhar <strong>de</strong> boleia” da luta antiguerra<br />

pelo PCP.<br />

Que esta batalha acabe <strong>de</strong>pressa, porque a guerra a s<strong>é</strong>rio vem aí. (Meu Deus, estou com<br />

linguagem <strong>de</strong> esquerdista milenarista. Enfim, paciência...)<br />

E-Time<br />

(Webpage, 27.03.03)<br />

(E que tal <strong>um</strong>a coisa que não tenha nada a ver com a guerra?)<br />

Já todos sentimos este problema: respon<strong>de</strong>mos a <strong>um</strong>a mensagem <strong>de</strong> e-mail, enviamo-la e, cinco<br />

minutos <strong>de</strong>pois, quando ela já está no ciberespaço, arrepen<strong>de</strong>mo-nos do que escrevemos. Fomos<br />

brutos <strong>de</strong>mais, fomos brandos <strong>de</strong>mais, revelámos segredos, <strong>de</strong>ixámos a mensagem seguir para<br />

outras pessoas que não o <strong>de</strong>stinatário, e por aí fora. Fomos apanhados na armadilha da vertigem<br />

temporal do e-mail. Fomos apanhados pelo e-time.<br />

O e-mail veio introduzir <strong>um</strong>a nova forma <strong>de</strong> comunicar e parece que ainda estamos todos a<br />

apren<strong>de</strong>r a usá-la como situação social. At<strong>é</strong> agora dispunhamos, basicamente, <strong>de</strong> três meios e<br />

situações: a carta, o telefone e a conversa face-a-face.<br />

A primeira tinha <strong>um</strong>a aura <strong>de</strong> coisa <strong>de</strong>finitiva. Se bem me lembro, <strong>de</strong>morávamos alg<strong>um</strong> tempo a<br />

escrever – sobretudo quando o fazíamos à mão – e sabíamos que alguns dias mediariam entre a<br />

escrita e a leitura pelo <strong>de</strong>stinatário. <strong>Este</strong> lapso <strong>de</strong> tempo permitia toda a esp<strong>é</strong>cie <strong>de</strong> rectificações,<br />

chegando ao ponto <strong>de</strong> at<strong>é</strong> se po<strong>de</strong>r interceptar a recepção da carta. Al<strong>é</strong>m disso, o tempo <strong>de</strong><br />

resposta tamb<strong>é</strong>m era dilatado, pois escrever e enviar pelo correio levava tempo e permitia pesar<br />

bem os conteúdos. Era o tempo-caracol, do snail-mail.<br />

A segunda e a terceira pertencem à mesma categoria <strong>de</strong> comunicação oral – ainda que o telefone<br />

permita maiores atrevimentos e hipocrisias, graças à invisibilida<strong>de</strong>. Ao contrário das palavras<br />

escritas, as palavras ditas – sobretudo na presença do interlocutor – não são registadas<br />

(esqueçamos as entrevistas gravadas, que não são “comunicação”), a não ser pela memória, que<br />

toda a gente reconhece ser <strong>um</strong>a coisa d<strong>é</strong>bil e pouco fiável. Assim, na conversa oral po<strong>de</strong>-se estar<br />

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