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Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

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Carta ao Director do “Público”<br />

(Webpage, 1.07.02)<br />

Serve esta carta para comentar o editorial <strong>de</strong> Jos<strong>é</strong> Manuel Fernan<strong>de</strong>s (JMF) na edição <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong><br />

Julho <strong>de</strong> 2002. Estou certo que ningu<strong>é</strong>m – no movimento LGBT ou no Bloco <strong>de</strong> Esquerda –<br />

duvida da primazia dos direitos dos mais fracos, neste caso as crianças. O movimento LGBT<br />

inclui o direito à adopção e à inseminação artificial das l<strong>é</strong>sbicas n<strong>um</strong>a longa lista <strong>de</strong><br />

reivindicações constante no Manifesto a que a imprensa teve acesso durante a semana do<br />

Orgulho. O facto <strong>de</strong> a imprensa ter enfatizado a questão da adopção e da reprodução indicia,<br />

afinal, que gays e l<strong>é</strong>sbicas constituem <strong>um</strong> “perigo” para <strong>um</strong>a certa or<strong>de</strong>m familiar conservadora<br />

e restritiva – <strong>um</strong>a or<strong>de</strong>m on<strong>de</strong> se faz <strong>de</strong> cada criança <strong>um</strong> homófobo potencial.<br />

Por outro lado, po<strong>de</strong>ria haver – mas não há – <strong>um</strong>a contradição entre a reivindicação do<br />

movimento e a postura do Bloco <strong>de</strong> Esquerda. O BE quer <strong>um</strong>a nova lei da adopção, que proteja<br />

os direitos das crianças. Isto significa mudar pressupostos, regras e funcionamento dos serviços<br />

<strong>de</strong> adopção incluindo, necessariamente, a escolha <strong>de</strong> pais e mães em função <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s<br />

h<strong>um</strong>anas e não do seu sexo, g<strong>é</strong>nero ou orientação sexual. Significa isto que tanto pessoas<br />

homossexuais como heterossexuais po<strong>de</strong>rão ser consi<strong>de</strong>radas ina<strong>de</strong>quadas para o exercício da<br />

paternida<strong>de</strong> e da maternida<strong>de</strong>.<br />

Ao subscrever a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que <strong>é</strong> <strong>de</strong>saconselhável a legalização da adopção por casais<br />

homossexuais (ao mesmo tempo que reconhece que ningu<strong>é</strong>m <strong>de</strong>ve ser discriminado com base<br />

na orientação sexual), JMF incorre na mais com<strong>um</strong> das contradições por causa da ressalva<br />

moral que estabelece em relação aos homossexuais. O indivíduo ou casal homossexual que<br />

queira adoptar – assim como a l<strong>é</strong>sbica que queira recorrer à inseminação artificial – não está a<br />

satisfazer nem menos nem mais caprichos pessoais do que o indivíduo ou casal heterossexual.<br />

E as crianças por eles adoptadas confrontarão os mesmos “problemas” que os filhos <strong>de</strong><br />

divorciados ou <strong>de</strong> “mães solteiras” confrontaram há alg<strong>um</strong>as d<strong>é</strong>cadas. Tudo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, como <strong>é</strong><br />

evi<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong> escolas, media e outras instituições que promovam a tolerância, a cidadania, e o<br />

gosto pela diversida<strong>de</strong> e pela individualida<strong>de</strong>. Nomeadamente, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a escola que pratique <strong>um</strong>a<br />

educação sexual não preconceituosa. Estas são propostas, aliás, bem mais relevantes no<br />

Manifesto do movimento LGBT e, já agora, nos programas do BE.<br />

O facto <strong>de</strong>, dois dias <strong>de</strong>pois da Marcha e do Arraial Pri<strong>de</strong> (com o dobro <strong>de</strong> participantes do ano<br />

passado), o enfoque mediático ser sobre a adopção e a reprodução, indicia duas coisas: que<br />

muitos jornalistas vão à procura da confirmação dos fantasmas homofóbicos dominantes na<br />

nossa socieda<strong>de</strong>; e que existe neste momento <strong>um</strong>a clara reacção <strong>de</strong> “backlash” contra o<br />

movimento LGBT. É pena que em tempos <strong>de</strong> influência directa da Opus Dei, da Igreja Católica<br />

Romana e do cripto-fascismo do PP no Estado, <strong>um</strong> jornal liberal como o Público aju<strong>de</strong> – espero<br />

que irreflectidamente – a fortalecer o fundo heterossexista <strong>de</strong> <strong>um</strong> certo projecto <strong>de</strong> família e <strong>de</strong><br />

educação das nossas crianças.<br />

Sem título<br />

(Webpage, 11.09.01)<br />

M. está no hipermercado. Procura <strong>um</strong> leitor <strong>de</strong> DVD que reproduza os discos <strong>de</strong> todas as<br />

“regiões”. Parece que <strong>um</strong>a empresa portuguesa conseguiu esse truque, n<strong>um</strong> acto classificável<br />

algures entre a pirataria e o <strong>de</strong>senrascanço. Ainda bem, pensa M.: <strong>um</strong> golpe criativo no<br />

proteccionismo e, ao mesmo tempo, <strong>um</strong> gesto – esse sim, verda<strong>de</strong>iro – <strong>de</strong> globalização. Isto <strong>é</strong>,<br />

<strong>de</strong> “tornar global”, acessível a todos.<br />

O leitor <strong>de</strong> DVD <strong>é</strong> <strong>um</strong>a prenda para o pai <strong>de</strong> M. O pai tem já <strong>um</strong>a ida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rável e teve o<br />

azar <strong>de</strong> contrair <strong>um</strong>a doença incurável. Mas isso não o impediu <strong>de</strong>, após a reforma, a<strong>de</strong>rir à<br />

internet e at<strong>é</strong> <strong>de</strong> criar <strong>um</strong> negócio “online”. O pai consome tecnologias e “gadgets” como se<br />

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