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Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

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outros, <strong>de</strong>masiado perto uns dos outros, quer graças aos aviões, quer graças à informação, quer,<br />

agora, “graças” à probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a bomba nos explodir <strong>de</strong>baixo dos p<strong>é</strong>s.<br />

M. sabe que há anos e anos que gran<strong>de</strong> parte do mundo sabe bem o que <strong>é</strong> estar sob a alçada <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>res mais fortes e injustos. De facto, os oprimidos <strong>de</strong>ste mundo já foram “globalizados” há<br />

muito tempo. Agora, com o horror e a ameaça no centro do Oci<strong>de</strong>nte, completou-se,<br />

perversamente, o ciclo <strong>de</strong> globalização: estamos todos juntos, em estado <strong>de</strong> sítio e <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong><br />

fogo.<br />

M. sabe, ainda, que neste mundo precisamos <strong>de</strong> resolver as injustiças que fazem dos<br />

injustiçados os piores dos injustos. É por isso que o terrorista <strong>é</strong> a mais infra-h<strong>um</strong>ana das<br />

criaturas: <strong>é</strong> aquele cuja causa <strong>de</strong> revolta se per<strong>de</strong> no momento em que a sua arma se torna pior<br />

do que as que o vitimaram. O terrorista <strong>é</strong> o tipo que não se importa nada <strong>de</strong> matar as pessoas<br />

(como M. e todos os Ms) que são solidárias com a sua revolta inicial.<br />

M. agoniza no sofá, frente à TV. Tudo <strong>é</strong> s<strong>é</strong>rio: acabou a “silly season” na televisão e na política.<br />

Já não há bons e maus, polícias do mundo e rebel<strong>de</strong>s gloriosos. Chega <strong>um</strong> empreiteiro que vem<br />

fazer <strong>um</strong> orçamento para <strong>um</strong>as obras quaisquer. A primeira coisa <strong>de</strong> que fala <strong>é</strong> do crime <strong>de</strong><br />

Nova Iorque. Fica, tamb<strong>é</strong>m ele, grudado à TV. O negócio que se danasse. E, ao longo da tar<strong>de</strong>,<br />

amigos e familiares telefonam, tão só para <strong>de</strong>sabafar sobre o assunto. Toda a gente está sem<br />

balizas. Sem guião. Toda a gente está em estado <strong>de</strong> choque moral.<br />

A única pessoa que não telefonou foi a tia. Nem para <strong>de</strong>sabafar sobre os atentados, nem para se<br />

<strong>de</strong>sculpar da sua atitu<strong>de</strong>. É bem possível que esteja colada à TV, chocada. Porque <strong>é</strong> possível a<br />

revolta contra o terrorismo público ao mesmo tempo que se comete terrorismo privado, “le petit<br />

terrorisme”.<br />

Sem título<br />

(Webpage, 18.09.01)<br />

Faz hoje <strong>um</strong>a semana que se <strong>de</strong>u o atentado contra o World Tra<strong>de</strong> Center e o Pentágono.<br />

Pessoas anónimas, cronistas e políticos começaram a fazer o inevitável e o necessário: pensar<br />

sobre o dia seguinte, pensar sobre os dias que estão para vir. Nunca esqueceremos o choque<br />

provocado pelos acontecimentos; temos mesmo obrigação <strong>de</strong> não esquecer – será essa a nossa<br />

solidarieda<strong>de</strong> para com os familiares das vítimas. Mas sabemos que o mundo continua a mexer<br />

e que se não somos nós a mexer nele, algu<strong>é</strong>m o fará por nós.<br />

Esse processo – essa “mexida” – já começou. E começou, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, como processo mediático<br />

e <strong>de</strong> comunicação. Quem tenha acompanhado as emissões da CNN apercebeu-se disso na<br />

mudança do título das emissões: em 24 horas, este passou <strong>de</strong> “America un<strong>de</strong>r attack” para<br />

“America’s New War”. Ora, não se po<strong>de</strong> aceitar este título com ligeireza, como se <strong>de</strong> <strong>um</strong>a mera<br />

<strong>de</strong>scrição se tratasse. Ele não <strong>de</strong>screve <strong>um</strong>a realida<strong>de</strong>. Ele cria <strong>um</strong>a realida<strong>de</strong>, com base na<br />

vonta<strong>de</strong> – política – <strong>de</strong> criá-la. Conv<strong>é</strong>m, por isso, atermo-nos aos factos. E quais são eles?<br />

Facto número <strong>um</strong>: houve <strong>um</strong> atentado terrorista <strong>de</strong> proporções tremendas. Facto número dois:<br />

não se sabe ainda ao certo quem foram os responsáveis directos pelo atentado. Facto número<br />

três: sabe-se que o governo dos Estados Unidos <strong>de</strong>clarou que lhe foi <strong>de</strong>clarada guerra,<br />

preten<strong>de</strong>ndo agir em conformida<strong>de</strong>. Facto número quatro: sabe-se que foi accionado o artigo 5º<br />

do Tratado do Atlântico Norte mas que, ao mesmo tempo, os países europeus estão hesitantes<br />

quanto ao tipo <strong>de</strong> retaliação.<br />

<strong>Este</strong>s são os factos. Perante eles, como po<strong>de</strong>remos pensar? Isto <strong>é</strong>, que causas lhes subjazem? O<br />

que <strong>é</strong> que situações análogas no passado permitem inferir? Que padrões <strong>de</strong> comportamento<br />

po<strong>de</strong>rão ser repetidos? E quais as alternativas que estão em campo? Des<strong>de</strong> logo, só po<strong>de</strong>mos<br />

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