13.04.2013 Views

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ouviu falar <strong>de</strong> como as casas portugueses são g<strong>é</strong>lidas no inverno, as ruas das que mais sofrem<br />

com a chuva, os pr<strong>é</strong>dios dos que mais “<strong>de</strong>rrocam”. At<strong>é</strong> a negligência do Estado e privados na<br />

conservação das coisas, ou a pura e simples falcatrua das empresas <strong>de</strong> construção civil,<br />

justificam o caos com o tempo – nunca com a falta <strong>de</strong> planeamento e cuidado.<br />

Se calhar não <strong>é</strong> por acaso que, na língua portuguesa, a mesma palavra seja usada para o tempo<br />

que passa e o tempo que faz. Coisas do <strong>de</strong>stino. O “temporal” por que temos passado <strong>é</strong> mais<br />

<strong>um</strong>a das coisas que nos acontecem, sem que nos tivessemos podido precaver, quer material quer<br />

culturalmente.<br />

P.S.: Com chuva ou sem ela, porque está a ler estas puerilida<strong>de</strong>s em vez <strong>de</strong> ir votar?<br />

Infelizmente não posso dizer em quem, mas suspeito que melhores “tempos” se aproximam.<br />

Regresso à Política<br />

(Público, 21.01.96)<br />

Como a política não <strong>é</strong> como o <strong>de</strong>sporto, não me sinto obrigado aos salamaleques do “fair play”:<br />

fiquei mesmo contente com a vitória <strong>de</strong> Sampaio. Pela primeira vez (!) ganhou aquele em quem<br />

votei. E fiquei contente com a <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> Cavaco Silva. Foi-se. Já era. Quando voltar – po<strong>de</strong>m<br />

crer que volta... – há fortes hipóteses <strong>de</strong> ser o Eanes à civil do s<strong>é</strong>culo XXI. Isto <strong>é</strong>: pouco.<br />

A sensação <strong>é</strong> a <strong>de</strong> que se saíu <strong>de</strong> <strong>um</strong> “regime” e se entrou na vida política normal. É certo que<br />

acabou <strong>um</strong> ciclo político. Mas não se po<strong>de</strong> exagerar nesta imagem, caso contrário ficamos com<br />

a impressão <strong>de</strong> que daqui a quatro ou cinco anos teremos <strong>de</strong> novo o cavaquismo. Em política há,<br />

<strong>de</strong> facto, alg<strong>um</strong>a evolução. Po<strong>de</strong>remos ter o PSD <strong>de</strong> volta, po<strong>de</strong>remos vir a ter <strong>um</strong> presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

direita, mas já não será a mesma coisa. O ciclo que acabou <strong>é</strong> mais profundo, mais histórico, do<br />

que a i<strong>de</strong>ia pr<strong>é</strong>-mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> ciclo, ou a futebolística <strong>de</strong> campeonato. Senão vejamos: após o 25<br />

<strong>de</strong> Abril, tivemos o período da revolução; seguiu-se-lhe a <strong>de</strong>mocracia ainda sob tutela militar,<br />

<strong>um</strong>a verda<strong>de</strong>ira contradição nos termos. Depois as coisas “estabilizaram-se” durante <strong>um</strong>a<br />

d<strong>é</strong>cada: à frente do pelotão seguia <strong>um</strong> “si<strong>de</strong>car”, ora com Cavaco, ora com Soares ao volante. É<br />

este mundo <strong>de</strong> referências majestáticas, com os seus campos <strong>de</strong> influência espalhando-se como<br />

jacintos-<strong>de</strong>-água, que agora acabou.<br />

Acabou bem? Acabou mesmo? Ainda não se sabe. Ao contrário do que se diz, os actuais<br />

<strong>de</strong>tentores do po<strong>de</strong>r não pertencem a <strong>um</strong>a geração política nova. Guterres fez o seu longo<br />

percurso no aparelho do PS. Sampaio <strong>é</strong> <strong>um</strong> cre<strong>de</strong>nciado político já dos tempos da luta antiditatorial.<br />

O que <strong>de</strong>les se espera <strong>é</strong> a criação <strong>de</strong> <strong>um</strong> novo ambiente político em que novas<br />

gerações pós-25 <strong>de</strong> Abril aprendam a política, lhe tomem o gosto e avancem com propostas e<br />

formas <strong>de</strong> actuação.<br />

É claro que, do governo e do primeiro ministro, por inerência dos cargos, não se po<strong>de</strong> esperar<br />

este tipo <strong>de</strong> “revolução cultural”. Mas já se po<strong>de</strong> esperá-lo do presi<strong>de</strong>nte da República. Nesse<br />

sentido, <strong>é</strong> bom que Sampaio faça, na sua pessoa, a ligação entre o passado da luta anti-fascista e<br />

o futuro do pós Cavaco-Soarismo. É tamb<strong>é</strong>m por isto, e pelas diferenças <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e passado<br />

entre Guterres e Sampaio, que o medo da concentração <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res <strong>é</strong> ridículo. Atrevo-me a dizer<br />

que Sampaio po<strong>de</strong>rá ser muito melhor controlador dos “<strong>de</strong>svios” eventuais <strong>de</strong> Guterres do que o<br />

teria sido Cavaco caso tivesse sido eleito.<br />

Por isso os arg<strong>um</strong>entos do PSD na campanha, sobre a não representativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos os<br />

portugueses caso Sampaio fosse eleito, eram não só absurdos como reveladores da mais<br />

profunda ignorância do nosso sistema político e da <strong>de</strong>mocracia. Nesta passagem à reforma da<br />

d<strong>é</strong>cada das duas águias (Cavaco e Soares) tamb<strong>é</strong>m o PSD vai levar <strong>um</strong>a reviravolta, e nele<br />

po<strong>de</strong>rão surgir os equivalentes (mais) conservadores <strong>de</strong> Guterres.<br />

8

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!