13.04.2013 Views

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

qualquer <strong>de</strong>cisão do governo dos EUA po<strong>de</strong>ria conduzir-nos a <strong>um</strong> mundo on<strong>de</strong> não só o<br />

fundamentalismo e o terrorismo continuariam a existir, como a nossa <strong>de</strong>mocracia po<strong>de</strong>ria ser<br />

cerceada por políticas securitárias e <strong>de</strong> excepção. Isto não <strong>é</strong> <strong>de</strong>missionismo. É pensar quando <strong>é</strong><br />

mais difícil e necessário fazê-lo.<br />

Carta ao Director do Público<br />

(25.10.01)<br />

No editorial do “Público” <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> Outubro, Jos<strong>é</strong> Manuel Fernan<strong>de</strong>s tem a franqueza <strong>de</strong> explicar<br />

o que <strong>é</strong> que lhe vem interessando verda<strong>de</strong>iramente no <strong>de</strong>bate suscitado pelos atentados<br />

terroristas <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> Setembro e pela reacção dos EUA aos mesmos. Trata-se da actualização <strong>de</strong><br />

“velhas divisões” entre os partidários da “socieda<strong>de</strong> aberta” e os supostos inimigos da mesma.<br />

Sem dúvida que situações como a actual extremam os campos. Mas esse <strong>é</strong> justamente <strong>um</strong> dos<br />

mais perigosos efeitos do terrorismo e da guerra, a que <strong>um</strong> director <strong>de</strong> jornal <strong>de</strong>veria resistir.<br />

Gostaria <strong>de</strong> perturbar o esquema simplificador <strong>de</strong> JMF com o meu caso pessoal – apenas por ser<br />

o que conheço melhor. Des<strong>de</strong> logo, a questão do anti-americanismo: não só vivi vários anos nos<br />

EUA, como consi<strong>de</strong>ro aquele país a minha segunda pátria e quase todas as minhas referências<br />

culturais vêm <strong>de</strong> lá. Isso não me torna americanista primário, assim como as convicções <strong>de</strong><br />

esquerda não me tornam anti-americanista. A divisão simplista po<strong>de</strong> JMF <strong>de</strong>smontá-la se ler o<br />

artigo principal do último número da “New York Review of Books”, no qual Phillip Wilcox –<br />

que foi Embaixador Especial dos EUA para o Contraterrorismo entre 1994 e 1997 – critica a<br />

estrat<strong>é</strong>gia dos EUA por ser inútil e contraproducente. Pessoa mais afastada do campo antisocieda<strong>de</strong><br />

aberta não po<strong>de</strong>ria haver.<br />

Mas há mais. O fim do bloco “socialista” não foi necessariamente <strong>um</strong>a catástrofe para a<br />

esquerda. Para muitos <strong>de</strong> nós foi <strong>um</strong>a benesse. Ser <strong>de</strong> esquerda e estar contra esta guerra não <strong>é</strong><br />

necessariamente sinónimo <strong>de</strong> ser “revolucionário”: consi<strong>de</strong>ro-me <strong>um</strong> reformista radical,<br />

<strong>de</strong>fensor da <strong>de</strong>mocracia e <strong>de</strong>sconfio da irracionalida<strong>de</strong> utópica; mas não me <strong>de</strong>ixo embalar pelo<br />

engodo i<strong>de</strong>ológico d<strong>um</strong>a “socieda<strong>de</strong> aberta” cuja tendência <strong>é</strong> para fechar a porta a cada vez mais<br />

gente. Se há alg<strong>um</strong>a coisa que <strong>de</strong>sejaria ver “superada”, não <strong>é</strong> a <strong>de</strong>mocracia nem o mercado,<br />

mas sim o uso i<strong>de</strong>ológico <strong>de</strong>stas expressões para continuar, atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> práticas como a guerra, a<br />

excluir <strong>de</strong> ambos populações inteiras.<br />

Suspeito que JMF gostaria <strong>de</strong> ter <strong>um</strong>a situação em que a esquerda apoiasse Bin La<strong>de</strong>n e os<br />

outros sectores fossem os paladinos da <strong>de</strong>mocracia e da justiça. Azar seu: acontece que muitos<br />

<strong>de</strong> nós achamos os Bin La<strong>de</strong>ns in<strong>de</strong>fensáveis e, ao mesmo tempo, sabemos ver, na actual<br />

situação, a continuação <strong>de</strong> mais do mesmo: a política do petróleo, a unipolarida<strong>de</strong> e a<br />

oportunida<strong>de</strong> para matar as instâncias <strong>de</strong> regulação internacional e o movimento por <strong>um</strong>a<br />

globalização alternativa. N<strong>um</strong>a das manifestações contra a guerra nos EUA, <strong>um</strong>a mulher a quem<br />

morreu <strong>um</strong> familiar nas Twin Towers empunhava <strong>um</strong> cartaz dizendo que a guerra não <strong>é</strong> solução.<br />

Tenho a certeza que, tal como eu, ela não quer acabar com o mercado e a <strong>de</strong>mocracia, não quer<br />

acabar com Israel, nem tolera o fundamentalismo A obsessão com as “velhas divisões” parece<br />

ter mais sucesso em Portugal do que noutros países. Porque será?<br />

O meu filho <strong>é</strong> homossexual. E agora?<br />

(Jornal El GêBêEtê, 2003)<br />

Você criou o seu filho com amor e carinho. Por vezes sacrificou-se, para lhe dar a melhor<br />

educação possível. É provável que você tenha visto o seu filho como <strong>um</strong> prolongamento <strong>de</strong> si e<br />

tenha <strong>de</strong>sejado para ele <strong>um</strong>a vida <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> e sucesso, nos planos amoroso, familiar,<br />

profissional e social. Mas com certeza você tamb<strong>é</strong>m pensou muitas vezes em como o seu filho <strong>é</strong><br />

<strong>um</strong> indivíduo com vida própria ou como as escolhas <strong>de</strong>le po<strong>de</strong>m ser diferentes das suas (por<br />

189

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!