13.04.2013 Views

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Não admira, pois, que os “homossexuais” estejam no centro do <strong>de</strong>bate. Um estatuto para os<br />

homossexuais apenas seria <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> discriminação. Ou a legislação sobre uniões <strong>de</strong> facto<br />

se aplica a todos, hetero e homo, ou corre-se o risco <strong>de</strong> ter <strong>um</strong>a lei especial para <strong>um</strong> grupo<br />

especial. Sendo igual para todos, chegamos ao busílis da questão: ela não po<strong>de</strong>rá fazer ressalvas<br />

em relação à capacida<strong>de</strong> legal para a adopção e para o recurso à inseminação artificial, como a<br />

JS preten<strong>de</strong>. O que se passa <strong>é</strong> que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> perdida (excepto em Portugal, como ficou<br />

<strong>de</strong>monstrado na “lei do aborto”) a batalha patriarcal e clerical <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitar os direitos<br />

reprodutivos das mulheres, agora a sanha concentra-se nas possíveis mães solteiras e nos casais<br />

<strong>de</strong> duas mulheres (isto confirma-se na proposta <strong>de</strong> lei sobre Procriação Medicamente Assistida).<br />

Quanto à adopção, o que se verifica <strong>é</strong> a amn<strong>é</strong>sia histórica: a regulamentação do casamento fezse<br />

em gran<strong>de</strong> medida por razões patriarcais e patrimoniais e não por <strong>um</strong> interesse pelo bem das<br />

crianças, que aliás eram tidas por seres inferiores, não-pessoas, absolutamente subjugadas ao<br />

po<strong>de</strong>r paternal. A adopção <strong>é</strong> <strong>um</strong>a questão <strong>de</strong>masiado s<strong>é</strong>ria – na actual situação <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong><br />

crianças orfãs no mundo, e das esperas nos “lares” (que hipocrisia…) – para ser esgrimida como<br />

arg<strong>um</strong>ento homofóbico no <strong>de</strong>bate em torno das uniões <strong>de</strong> facto.<br />

Uma pequena provocação para terminar: passa pela cabeça <strong>de</strong> algu<strong>é</strong>m impedir que dois<br />

cidadãos negros adoptem <strong>um</strong>a criança branca porque ela vai ser gozada na escola pela cruelda<strong>de</strong><br />

infantil? E não <strong>é</strong> para civilizar essa cruelda<strong>de</strong> que a educação existe, sobretudo a educação para<br />

a cidadania e o respeito pela igualda<strong>de</strong> entre os cidadãos apesar das diferenças i<strong>de</strong>ntitárias?<br />

Claro que este arg<strong>um</strong>ento só <strong>é</strong> compreensível por quem não ache que a homossexualida<strong>de</strong> <strong>é</strong><br />

<strong>um</strong>a doença ou <strong>um</strong> <strong>de</strong>svio a escon<strong>de</strong>r. Mas com esses (já) não falo, a três anos do s<strong>é</strong>culo XXI.<br />

204

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!