13.04.2013 Views

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Se o arg<strong>um</strong>ento das crianças <strong>é</strong> hipócrita, resta-nos pensar na hipótese <strong>de</strong> que, assustados com as<br />

transformações da intimida<strong>de</strong> e as novas tecnologias, os nossos políticos (e muitos <strong>de</strong> nós) o que<br />

preten<strong>de</strong>m <strong>é</strong> cercear duas realida<strong>de</strong>s que vão “contra” (mas não vão propositadamente contra)<br />

<strong>um</strong>a fantasia <strong>de</strong> família patriarcal: mulheres autónomas e homossexuais. Isto torna-se claro na<br />

categoria mais reprimida nestes três casos legislativos: as mulheres unidas por <strong>um</strong> laço afectivosexual.<br />

Não admira: o pecado das l<strong>é</strong>sbicas <strong>é</strong> serem simultaneamente mulheres e homossexuais.<br />

São duplamente “monstruosas” (será por isso que constituem <strong>um</strong> prato forte da pornografia<br />

heterossexual para homens?).<br />

Aborto, uniões <strong>de</strong> facto e PMA são, pois, três versões do mesmo <strong>de</strong>bate. Nem as opiniões<br />

troglodíticas nem as radicalmente libertárias me preocupam. Preocupa-me sim a hesitação e a<br />

ambiguida<strong>de</strong> nas “mentes abertas”, quando por <strong>um</strong> lado preten<strong>de</strong>m alargar direitos e por outro<br />

os cerceiam quando chegamos à reprodução. E sempre em nome <strong>de</strong> duas projecções<br />

fantasmáticas: a das hipot<strong>é</strong>ticas crianças (quando a percentagem <strong>de</strong> mães solteiras e casais do<br />

mesmo sexo a quererem crianças seria provavelmente bem mais pequena do que se imagina); e<br />

a <strong>de</strong> serem “coisas <strong>de</strong>masiado avançadas para Portugal”, como se se soubesse o que são os<br />

valores culturais portugueses e como se não houvesse já <strong>um</strong> sector da população cosmopolita e<br />

com <strong>um</strong>a nova moralida<strong>de</strong> (basicamente igual à velha, menos a hipocrisia) nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s.<br />

Afinal <strong>de</strong> contas, a lei <strong>é</strong> para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e estimular a cidadania ou <strong>é</strong> para conservar à força o<br />

Portugal dos livros da instrução primária no Estado Novo?<br />

61

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!