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Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

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ambições materiais e profissionais, fazem <strong>de</strong>stes radicais as criaturas mais submissas e<br />

conservadoras à face da terra.<br />

Quando estava na universida<strong>de</strong> não tinha paciência para as pessoas da “geração <strong>de</strong> 60”, com os<br />

seus estilos <strong>de</strong> vida “alternativos” e o queix<strong>um</strong>e <strong>de</strong> que nós, os da minha geração, <strong>é</strong>ramos<br />

<strong>de</strong>masiado “atinados”. Não quero, agora, ser eu a estar na posição <strong>de</strong>les. Creio não correr esse<br />

risco se estabelecer <strong>um</strong>a distinção: <strong>é</strong> que ser “atinado” nos anos 80 era querer ter <strong>um</strong>a vida livre<br />

e plena, sem a instabilida<strong>de</strong> constante do período revolucionário dos anos 70 (a versão<br />

portuguesa dos sixties). Ao passo que este “radicalismo reaccionário” tresanda a conformismo e<br />

a recuperação <strong>de</strong> marialvismos antigos: o Cabar<strong>é</strong> da Coxa como o paliativo “muita louco” para<br />

<strong>um</strong> dia <strong>de</strong> fato e gravata passado a transacionar títulos aos 25 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> (ou para <strong>um</strong> dia <strong>de</strong><br />

trabalho precário na casa <strong>de</strong> fotocópias sonhando em passar <strong>um</strong> dia transacionando títulos...).<br />

NOTA: Só há <strong>um</strong>a <strong>de</strong>sculpa para esta <strong>de</strong>riva do radicalismo reaccionário. É que a alternativa<br />

que hoje se configura <strong>é</strong> igualmente bafienta, <strong>de</strong>sta feita pelo lado do irracionalismo. Refiro-me<br />

às coisas “new age”, a esta esp<strong>é</strong>cie <strong>de</strong> sopa conceptual que mistura astrologia com orientalismos<br />

mastigados, com as aromaterapias e 400 mil práticas curativas duvidosas, com o hipnotismo <strong>de</strong><br />

feira no Herman Jos<strong>é</strong>. É o universo do elogio da irracionalida<strong>de</strong> e do misticismo, <strong>um</strong> mundo em<br />

que os que julgam estar a “libertar a mente” estão apenas a baralhá-la. E os que julgam estar a<br />

“misturar culturas” estão apenas a <strong>de</strong>spi-las do seu contexto. Se tivesse que escolher entre o<br />

Cabar<strong>é</strong> da Coxa e <strong>um</strong>a consulta <strong>de</strong> astrologia, acho que preferia ficar fechado n<strong>um</strong> escritório a<br />

carimbar pap<strong>é</strong>is e a fazer listas mentais <strong>de</strong> compras no hipermercado no sábado seguinte...<br />

Dados pessoais <strong>de</strong> <strong>um</strong> terrorista cultural<br />

(Webpage, 11.01.03)<br />

Nome:<br />

<strong>Miguel</strong> <strong>de</strong> Matos Castanheira do <strong>Vale</strong> <strong>de</strong> <strong>Almeida</strong>.<br />

(O “nome” <strong>é</strong> <strong>um</strong>a <strong>de</strong>signação atribuída pelos progenitores 4[1] em função <strong>de</strong> <strong>um</strong> sistema <strong>de</strong><br />

parentesco consuetudinário, <strong>de</strong> base católica e sancionado pela Lei do Estado, que prevê a<br />

inclusão dos nomes patrilineares tanto da mãe quanto do pai. Neste sistema, o nome patrilinear<br />

mais importante <strong>é</strong> o do progenitor masculino, configurando assim <strong>um</strong> duplo efeito patriarcal. O<br />

nome <strong>é</strong> registado em pap<strong>é</strong>is oficiais que ficam guardados em instituições do Estado 5[2] e não<br />

po<strong>de</strong> ser alterado a não ser por via do casamento 6[3] . A liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> auto-nomeação e auto-recriação<br />

<strong>é</strong> totalmente impedida, configurando assim a categoria do “indivíduo”, paradoxalmente<br />

tida como estando na base da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “liberda<strong>de</strong>”).<br />

Data <strong>de</strong> Nascimento:<br />

21 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1960<br />

(A “data” <strong>é</strong> <strong>um</strong>a <strong>de</strong>signação arbitrária para a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> <strong>um</strong> momento no contínuo<br />

temporal <strong>de</strong>sesperadamente encaixado em prateleiras – anos, meses, semanas, dias... – por<br />

mamíferos superiores cuja principal característica <strong>é</strong> a angústia da morte e a busca do sentido da<br />

4[1] Pessoas que geram outra pessoa. Antes <strong>de</strong> se conhecer a biologia da reprodução h<strong>um</strong>ana, a única<br />

evidência era que os h<strong>um</strong>anos do sexo feminino tinham crias. Com a invenção do casamento e da<br />

paternida<strong>de</strong>, os h<strong>um</strong>anos do sexo masculino passaram a ter <strong>um</strong> papel legal face às crias das mulheres com<br />

quem estavam associados (ou a quem tutelavam, consoante as interpretações).<br />

5[2] Instituição que administra <strong>um</strong> território <strong>de</strong>limitado por fronteiras inexistentes na natureza. Forma<br />

eficaz <strong>de</strong> justificar o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> certos grupos económicos e classes sociais como sendo o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> todos os<br />

membros da comunida<strong>de</strong> gerida por esse Estado. O Estado tem aparelhos próprios, quase todos <strong>de</strong><br />

natureza repressiva, administrados sobretudo por homens. Alguns aparelhos não-repressivos (Segurança<br />

Social, por exemplo) são paradoxalmente atacados, em nome do mercado, pelos mesmos que dominam os<br />

aparelhos do Estado. Outros autores <strong>de</strong>finem o Estado como o estádio mais sofisticado da Tribo.<br />

6[3] Casamento: contrato conjugal entre <strong>um</strong> homem e <strong>um</strong>a mulher, reconhecido pelo Estado ou Igreja.<br />

Tem como principal função estimular a reprodução h<strong>um</strong>ana <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong>a instituição chamada Família,<br />

cuja principal função <strong>é</strong> estimular os casamentos na geração seguinte.<br />

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