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Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

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<strong>de</strong>pressa e com o mínimo <strong>de</strong> danos. Esta questão pren<strong>de</strong>-se com a pergunta maliciosa que os<br />

pró-guerra lançam agora: se queremos que ganhem os EUA ou se nos congratulamos com a<br />

resistência <strong>de</strong> Saddam.<br />

A pergunta <strong>é</strong> maliciosa por duas razões. Em primeiro lugar, porque ningu<strong>é</strong>m duvida que, mais<br />

tar<strong>de</strong> ou mais cedo, os EUA vão “ganhar”. Em segundo lugar, porque quando <strong>um</strong> país está sob<br />

ataque (não se trata <strong>de</strong> <strong>um</strong> conflito <strong>de</strong>clarado pelos dois lados) <strong>é</strong> perfeitamente legítimo que se<br />

<strong>de</strong>fenda, e isso po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser separado do apoio a <strong>um</strong> ditador.<br />

É com este tipo <strong>de</strong> ressalvas que creio ser legítimo <strong>de</strong>sejar que esta guerra acabe <strong>de</strong>pressa,<br />

significando isso <strong>um</strong>a “vitória” <strong>de</strong> Bush.<br />

Mas porque escrevo vitória – e, antes, “ganhar” – entre aspas? Porque os EUA vão ganhar a<br />

batalha mas não vão ganhar a guerra. A guerra, a verda<strong>de</strong>ira, esten<strong>de</strong>-se muito para lá da<br />

invasão do Iraque. É a guerra que a extrema-direita americana resolveu lançar contra o mundo e<br />

que gerou <strong>um</strong>a resistência absolutamente nova e impressionante. Trata-se <strong>de</strong> <strong>um</strong>a resistência<br />

que une forças que vão dos sectores <strong>de</strong>mocrata-cristãos e social-<strong>de</strong>mocratas que já perceberam o<br />

ataque que está a ser feito à Europa, ao seu mo<strong>de</strong>lo social (ou ao que <strong>de</strong>le resta) e à cultura<br />

pacifista (sim, não <strong>é</strong> <strong>um</strong> insulto) que nela se criou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1945. E que se esten<strong>de</strong> at<strong>é</strong> aos novos<br />

movimentos sociais globalizados apostados na regulação estrita (nuns casos) e na superação<br />

(noutros casos) do capitalismo selvagem. Pelo meio, as esquerdas abaladas pelos falhanços<br />

“socialistas” e “comunistas”, são reconstruídas tamb<strong>é</strong>m neste tipo <strong>de</strong> lutas.<br />

(Há sempre ovelhas negras nestas coisas: as <strong>de</strong>putadas “católicas” do PS votaram contra as<br />

moções <strong>de</strong> censura. Para elas <strong>é</strong> mais importante a Vida abstracta <strong>de</strong> <strong>um</strong> feto do que as vidas<br />

concretas das pessoas. Registamos.)<br />

No dia em que Bush <strong>de</strong>r por concluída a invasão militar e a tomada do po<strong>de</strong>r, começa a queda<br />

do imp<strong>é</strong>rio americano gerido pela extrema-direita, pelos fundamentalistas cristãos e pelo<br />

complexo militar-industrial. Acho que nem sequer estou a ser muito messiânico ao dizer isto –<br />

embora isto cheire <strong>um</strong> pouco a “quanto pior melhor”. Creio que se trata simplesmente <strong>de</strong> “pior<br />

não po<strong>de</strong> ser” ou da teoria da gota <strong>de</strong> água. Há neste momento forças reunidas em ponto <strong>de</strong><br />

rebuçado contra o imp<strong>é</strong>rio americano. Após esta “batalha”, o mundo começará a mudar – e a<br />

metamorfose será dolorosa, não só porque a estupi<strong>de</strong>z terrorista a<strong>um</strong>entará, mas porque os EUA<br />

atacarão “preventivamente” em todo o lado e em força.<br />

O início do s<strong>é</strong>culo XXI terá que ser o tempo do fim do imp<strong>é</strong>rio americano, e para que tal<br />

aconteça, alg<strong>um</strong>as coisas fundamentais terão que acontecer, a saber:<br />

a reestruturação das Nações Unidas que, <strong>de</strong> facto, não po<strong>de</strong>m continuar a funcionar como<br />

funcionam, sobretudo ao nível do Conselho <strong>de</strong> Segurança. Não pelas razões que a extremadireita<br />

americana invoca. Mas porque, passada a guerra fria, os mecanismos <strong>de</strong> consenso têm<br />

que ultrapassar os privil<strong>é</strong>gios das “potências” e a atribuição <strong>de</strong> direitos <strong>de</strong> veto.<br />

a reestruturação da União Europeia. Não como a direita europeia quer, atrav<strong>é</strong>s da criação <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong>a potência militar unificada, mas atrav<strong>é</strong>s justamente do seu oposto – o aprofundamento da<br />

sua cultura pacifista e <strong>de</strong> fortes pressões (a nossa arma <strong>é</strong> a economia, ora bem) no sentido da<br />

refundação do direito internacional. No seu interior, isso só <strong>é</strong> possível com <strong>um</strong>a UE<br />

verda<strong>de</strong>iramente <strong>de</strong>mocrática, com po<strong>de</strong>res representativos. Ela não po<strong>de</strong> ser <strong>um</strong> albergue<br />

espanhol <strong>de</strong> <strong>de</strong>savenças no plano internacional mantendo <strong>um</strong> mero conluio económicofinanceiro,<br />

mas tão pouco po<strong>de</strong> caminhar no sentido <strong>de</strong> <strong>um</strong>a potência militar. Ela po<strong>de</strong>, sim, ser<br />

finalmente <strong>um</strong> espaço <strong>de</strong> civilização.<br />

a regulação estrita da globalização neo-liberal junto com <strong>um</strong>a política <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

económico e da cidadania na maior parte do mundo que at<strong>é</strong> há pouco se chamava o terceiro.<br />

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